domingo, 29 de maio de 2011

SÁBADO A TARDE NUM LUGAR CHAMADO NADA

Moro infelizmente em um bairro de São Gonçalo que deveria se chamar Nada porque nada tem e nada acontece de novo. Hoje sábado, sem ter mais o que fazer, peguei minha bebidinha para não pagar supérfluo e fui me sentar em um botequim, esperando ver gente porque na minha porta só passa carro, rato e gambá. Sentado, comendo biscoito queijinho Piraquê e bebendo cuba libre passei a ver a nada a volta de mim e eis no que deu:
Logo que me sentei um coroa superchato começou a conversar comigo. Primeiro perguntou se eu só tomava coca-cola porque viu uma garrafinha sobre a mesa, e foi logo criticando a coca cola, depois que soube que a misturava com o Rum, criticou dizendo que Rum com coca cola era horrível, depois criticou meus gostosos biscoitinhos de tira gosto, meu cabelo de careca, o tempo, o barulho dos carros, a música que tocava, enfim uma torrente de críticas que somente terminou quando foi embora levado por outro chato para criticar em outro bar.
Não demorou muito um velho fuska parou, encebado de lama, e dele desceu Checo, um homem bom quando não entorna muito. Checo nem podia ficar de pé de tão bebum e eu tive que interromper minha bebidinha com biscoitinhos para procurar quem o trouxe, o motorista do fuska que estava comprando algo no mercadinho pobre do lugar. Deu trabalho recambiar Checo para o fuska, mas conseguimos e lá voltei ao banco do nada.
Dois homens negros de aparência honesta escutavam de carona as músicas chatas que uma coroa viúva alegre colocava na máquina, e toma de Chitãozinho e Chororó, Banda calypso, Pagode, funk e uma esteira emendada de melodias do subúrbio. E meus ouvidos? Coitados.
Mas não fiquei sozinho por muito tempo porque logo pediu pra sentar em minha mesa um conhecido e começou a monologar sacanagens, falando do pau dele, do charme dele, da pegada dele, enfim uma cantada indireta que machucava. Distraindo pra não ouvir abobrinhas vi passar duas mocinhas na calçada usando roupas sumárias, shortezinhos e top. E o frio comia no lugar, mas elas...
Dois cães vadios e não muito distante ladravam e corriam atrás de pneus de carros, quase sendo atropelados... Que horror e suspense era aquele meu Deus? E no balcão o bicheiro do lugar reclamava da corrupção, Que ironia!
Alguém passa e grita. SEU JORGE! É minha vizinha do lado espalhando para todos o meu nome discretamente. E eu, pobre de mim, me afogando no rum com coca cola no meio do tudo ou nada.
Um cara desconhecido chega e fala com todos como se conhecesse todo mundo, fala de uma briga no outro botequim ocorrida na véspera e continuando falando vai embora. Que Briga? Bobagem... Botequim cheio, muito funk, muita droga, uma igreja evangélica do lado e enfim a polícia fechando o local. No céu até as nuvens estavam contra mim, ora chovia, ora fazia sol e o sábado continuava sem nada.
Cansado de tanta "novidade", afogado em "cultura" tupiniquim, paguei a coca cola, peguei minha sacola, meus biscoitinhos e voltei para casa.
Êta sábado mais animado. Pensei. E dizer que viajei mundo, morei em Copacabana, fui comissário internacional da Varig para o Aérus a quem confiei minha previdência privada e melhor futuro de aposentado, fazer isto comigo.

Por Jorge Curvello

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não desmereça a Internet com palavras chulas.
Obrigado