sábado, 23 de março de 2013

ACONTECEU NO RIO DE JANEIRO



João e Maria se conheceram em um forró, em meio a uma baderna de gente querendo aventuras e nada mais. Era mês quente, o céu estava estrelado... Mas quem olhava?  Ali o negócio era paquera, transa entre os carros estacionados ao redor, dança, rala coxa, enfim, diversão de quem adora o ritmo e a aglomeração.
Logo no primeiro dia não deu certo, ela parecia doida e ele não estava a fim de pequeninas, de grandes, de gordas ou magras, estava ali somente para acontecer e usar uma cenoura que metia entre as pernas protegida em vitafilme para deixar a mulherada louca no par de danças.  Mas o destino... Ah esse filho da puta.
João e Maria voltaram a se encontrar, aceitaram condições, passaram a saírem juntos e era assim que acontecia. Saiam de casa sorrindo, voltavam entre tapas e beijos, mas a cama, ah a cama, ou melhor, um colchão de campanha estendido em uma sala porque o quarto de dormir ainda era sagrado na lembrança da mulher de João falecida foi por algum tempo palco de luxúria, libidinagem, sacanagem e muito tesão e gozo.  Mas será que era um pelo outro ou apenas físicas e vazias reações?

Mas a vida continuou e eles ficaram, primeiro ficaram, depois se amasiaram, ela veio morar na casa dele e ele deixou quando o melhor seria ela ter a casa dela e ele a dele, e continuarem no furdúncio.  Em tempos atuais está mais do que provado que amantes ou casais até casados se dão melhor se cada um tem seu canto, mas...
E João e Maria estão juntos a mais de anos, até casaram com festa e tudo, mas... Formam mesmo um casal?  Sei não.
Ele é quase vinte anos mais velho do que ela está naquele estado do vai não vai e de próstata teimosa, ela é cheia de queixas de doenças, mas se faz exames, não mostra nada... Psicossomática?  Ele engordou um pouquinho, ela secou quase toda, é poço de nervos, mau humor, bipolaridade, enfim a coitada sofre com João e ele sofre com Maria.  Mas não se largam.
João não é homem mau, é responsável cumpre como pode na merda em que ficou, com todas as suas obrigações, mas é casmurro, brigão e não aceita violência sem revidar a altura. Mas não é capaz de bater em mulher nem com flores. Mas e aí, coitada da Maria.
Maria é do tipo que sofreu e se vinga, guarda rancores, não sabe perdoar quando pensa que faz isso, antes de João levou uma vida de merda, levou muita porrada de um companheiro, criou sozinha duas filhas que hoje nem dão bola pra ela.  Será a doença de Maria uma realidade, ou é a vida que leva que a faz doente?
Hoje os dois vivem mais ou menos assim. Ela dorme até a hora que quer, arruma a casa somente quando quer, não cuida do João coitado que tem que se virar como doméstica ou sucumbe esperando o que vai chegar tarde.  Ela ama bens materiais e  não bastasse isso ainda enfiou o coitado em espaço limitado, faz separações de bens móveis dentro de casa, exige isso e aquilo, persegue, vive inventando algo pra discutir, é desinteressada de bom viver e somente em uma coisa é super... Fidelidade, incapaz de trair.
 Ele vive fazendo o que gosta e o que quer, mesmo se não sai de casa e detesta alguém lha dando ordens ou se metendo na sua vida, e se aceita a Maria é porque pensa que para ele a vida hoje já não é mais como antes e coisas materiais já não importam tanto, enquanto para ela, que pouco teve... Mas se ela extrapola ou ele pensa que ela faz isso, o sangue ferve e ela se dá mal. Mas João se também é fiel, deve ser pelo dobrar do cabo da boa esperança que lhe assusta desde que ficou velho.
Enfim, João e Maria jamais se entendem, se entenderam um dia, ou irão se entender... Mas não desgrudam um do outro.

E com quem está a razão nesta vida louca, com ele, ou com ela?

Vá se meter quem não é chamado.

sexta-feira, 22 de março de 2013

ACONTECEU EM BODONGO (CIDADELA DO SERTÃO DA PARAIBA.)







       ACONTECEU EM BODONGO
              (CIDADELA DO SERTÃO DA PARAIBA.)

        Um homem chamado Zelino, caboclo morador da cidadela chamada Bodongo no serão da Paraíba era homem rude, severo nas regras dentro de casa, casado com Maria Amélia e pai de dois filhos, um garoto chamado Ismar de 14 anos e uma menina que aqui não cabe o nome.. O casal vivia em um tapera longe do movimento da cidadela, isolados e com alguns vizinhos como eles, todos rígidos e broncos nas regras do viver. Mas, além disso, tudo, de querer tudo nos trinques, Zelino era aficionado por sexo, comendo da mulher, até as galinhas, cabras, éguas, porcas e bezerras de sua criação.

Em uma conversa de tendinha de cachaça, sentados em uma mesa tosca dois dos “coronéis” de Bodongo conversavam com Zelino até que um deles, num rompante digno da cultura falsa bradou.

        --- Feliz que sou que somente gerei menino, purquê menina logo vira mulher e tem que ser comida por chibungo.

        O outro logo respondeu.

        --- E eu me gabo do mesmo compadre. Minha dama só pariu macho e não corro este perigo não.

Zelino com uma menina em casa ficou calado, mas dentro dele o sangue ferveu, só de pensar em sua menina deitada embaixo de outro homem, uma desonra mesmo se com casamento.  Afinal, que homem era ele que botava no mundo fêmea pra outro comer?

Naquela noite Zelino não conseguia dormir, via a mulher ali do lado, seca e gasta, e ainda roncava pra incomodar e. dentro dele todo o fogo do inferno crescia, fazendo excitar sua carne, querendo como ninguém uma trepada.
Cansado de esperar pelo sono ele se levantou e foi pro curral, pegaria uma das bichinhas e jogava fora a porra, acabando com aquela agonia louca. E foi quando cruzou pela porta do quarto das crianças, vendo o filho dormindo em uma rede e a filha estendida sobre a cama tosca vestida apenas com aquela camizolinha leve, os peitinhos ainda brotando já empinando o tecido do peito e aquelas coxinhas ainda meio finas, aparecendo na saia da camisola levantada. Na hora veio a conversa do bar e a voz do “coronel” machista.

        ---- Não vou fazer filha pra pica de chibungo não.

E então, atordoado pelo desejo e mais ainda por saber que logo a menina se iría levada por um chibungo ele entrou no quarto, sacudiu a garota até que ela despertou medrosa e sem falar nada apenas fez sinal com o dedo nos lábios rachados pelo sol e depois apontando a saída do quarto, e ela obediente, sem nada falar, obedeceu.

O galpão onde Zelino guardava suas ferramentas estava escuro e a menina, sem nada entender, entrou seguindo o pai que apontou para uma cama de feno montada ao lado de toras de madeira. Não entendeu quando o pai veio pra junto e lhe fez carícias, mudo, mas os olhos brilhando na semi-escuridão. Não reclamou embora tremesse de medo quando ele abriu suas pernas e puxou fora sua calcinha, nem tentou se levantar quando ele, sem tirar a roupa deixou que ela visse aquela coisa grande, grossa e morena pela semi-escuridão.  Assustada e sem saber o que iría lhe acontecer ela fechou os olhos e Zelino agiu, encostou na vagina dela aquela coisa morna, procurou a fenda e colocando uma das mãos na boca da filha, sussurrou.

--- Agora, calada viu?  Só vai doer um pouquinho, mas logo passa e vai gostar.

E sem mais aviso empurrou a coisa causando uma grande dor na filha, dor do hímem arrebentado, dor da vagina toda sendo invadida por algo de calibre maior.  E cadê a coisa boa que o pai disse, cadê? Tudo era só dor e nada mais.
Impedida de gemer alto por causa da mão calejada lhe tapando a boa à menina deixava escorrer lágrimas que Zelino nem via, entretido demais na realização do desejo, indo e voltando com força dentro dela.

Quando Zelino terminou e se levantou arrumando a calça, a menina ficou ali no feno inundada de lágrimas, as dores ainda continuando, mas obedeceu mais uma vez quando o estuprador ordenou.

--- Agora vai vortar pro quarto, durmi e não falar nada disso pra ninguém ou canta a chibata... Orviu?

A menina seguiu calada e fez o que ele mandou e novamente na cama Zelino virou de costa para sua mulher, adormecendo daquela vez.

E na cidade contam que foi assim até a menina se tornar adulta, onde então um chibungo gostou dela e a levou com o consentimento do pai que além de todo o gado, instrumento de seu prazer bestial, teve a menina como mulher até ela ir embora, e a dele de verdade só a usando se ela mostrava  querer e mesmo assim, bem depressa, sem carinhos ou agrados.

        Coisas do nordeste.



domingo, 3 de março de 2013

COMO NÃO SENTIR SAUDADES?






Como não sentir saudade da nossa juventude, onde tudo era sonho, possibilidades, desejos e ambições?  Como não nos lembrar de tempo onde, ainda jovens tínhamos ilusões, quedas e levantes, encrencas, atribulações que nunca a isso chegavam a ser porque eram passageiras demais?  Cada um de nós viveu isso, sonhou isso, provou mesmo se não notou e vimos com o passar do tempo que tudo era fumaça, tempo, época, e que cada dia após o outro era mutante.
Eu sinto saudades desse meu tempo e relembro em lágrimas de nostalgias meu passado em horas de reflexão ou lembranças, lembrando das partes boas porque as más eu esqueci ou afastei. Lembro que quando ainda menino, sonhava em ser grande, inventava barba onde não existia e idealizava tipos de bigode. Depois foi na puberdade aquela sensação de começar a me tornar homem, vendo pelos nascer e ansiando por eles. Ah se soubéssemos ali naquele tempo, do porvir e suas ameaças, na certa teríamos ampliado nossa infância e mesmo depois a adolescência. Mas tive que crescer, evoluir, e os tropeços que tive acho eles foram necessários a meu forte aprendizado de viver e me tornar independente, forte, valente, não medrando até onde regras me diziam não. E então cheguei onde estou, infelizmente, em hora de saudades e nostalgias também me lamentando porque tais bons tempos não voltam jamais.
Antes eu sonhei, consegui, vivi intensamente uma adolescência feroz, bravia, de guerra, e nas vielas do destino conheci gente importante, gente suja de alto e baixo nível, gente de toda espécie, e a elas sobrevivi ou cativei. Foi um tempo maravilhoso de me deitar em uma cama simples, pobre, no quarto modesto onde morava com minha mãe viúva e ficar a escutar o programa Hoje é dia de Rock, e sonhar que eu era Pop Star. Aquilo foi viver uma época dura, de recessão e política braba em um mundo de terceiros em torvelinho, mas eu, sempre ausente desse cenário pensando apenas em minha felicidade, que era brigar, ter turma, sair para aventura, fazer descobertas, expor meu corpo ao perigo e a mente à prova. Tempo jamais imitável, pregresso, único dos anos máster, os anos sessenta.  Vivendo eu fui rei sem ser nada, fui vítima que entendeu, fui comida de peixe em rio vazio, fui dragão na terra sem São Jorge.  Mas valeu cada dia, cada hora, cada minuto de rebeldia contra dogmas e regras, de provas de que hipocrisia existe e no fundo todos dentro dela ou não, somos iguais, capazes das mesmas coisas, basta ter coragem de se reconhecer.
No meu mundo especial, conheci altos senhores, fui admirado e querido por eles, ovacionado por eles, que de mim desejavam o corpo, o que jamais lhes dei. Conheci pilantras, gente que invejava o meu ser e pensar, gente que foi passado sem me atingir. Conheci rainhas que para mim foram nada, apenas sofredoras e inúteis criaturas tentando se projetar. Conheci ricos e poderosos, pobres e sofredores, fui eu sendo eu no meio, isento do tocar, do ferir, do conquistar.  Mas na esteira do evoluir descobri uma opção e por ela tudo que já tinha eu larguei, investi em mim, e cheguei ao pódio nunca sendo um Pelé.
Ah como foi bom à escondida da mãe protetora viver uma vida perigosa, vida livre, na noite e no dia, longe de sua saia e seus conselhos.  Ah como foi bom cada minuto daqueles anos onde tive tudo para ser marginal, vítima, mas saí ileso. Fui quase alcoólatra, mas escutei conselhos, fui um ser livre no sexo indo onde muitos não se atreviam, provei do tudo, gostei do tudo, mas escolhi o melhor. E nesse mundo de descoberta e atrevimento, ganhei a experiência de deuses, e me considero um vencedor. Ah... Quantos se de mim soubessem como ser, não desejariam ser como fui?
Veio à maturidade, veio à sombra na luz, veio à hora de me ver, saber esgotado o tempo dado e tomar o tal juízo tão alardeado pelos mais velhos, o que eu também assim me tornei afinal.  E então vivi a vida dos passivos cidadãos de bem, responsável e ajuizado, e será que valeu a pena diante deste meu espírito belicoso, combativo e rebelde?
Chegava à hora de mandar as favas às roupas coloridas, os sonhos bobos, as aventuras, os desafios e contestações em nome de ser família, nessa merda da vida de todos nós, e então, eu acabei com o eu e fui outro, o que desejava a nossa hipócrita sociedade porque agora não era mais singular e sim plural.
Mas ficaram para alento as lembranças do tempo feliz que eu vivi, época de muito perigo no desenvolver que soube cruzar me defendendo e sem ser ameaçado, sem seguir regras que a malta achava ser o certo, e no fim aqui estou, ileso e puro, como um anjo do inferno se assim somos todos nesse mundo, um ser capaz de ser bom ao extremo ou também falso e mal ao cúmulo.  Adeus bons tempos de coca cola, chicletes, cabelos ao vento, calças jeans, botas franjadas, corrente escondida, canivete preso no pulso escondido pela manga do banlon. Ficaram as descobertas das alcovas, livres e sem pagamento solicitado, na areia ou no lençol. Camas, sexo, esperma, nada mais além do devido prazer que o corpo pede, mas a alma, condena. Mas ficaram as lembranças do onde fui e do por onde passei, dos que conheci e dos que esqueci e dos que ainda hoje venero na saudade.  Corpo são em mente insana, é o meu legado.
Um mundo novo decolou e nele eu decolei nas asas de aviões e dentro deles sendo dono, máster, serviçal, indo a lugares onde milhões nunca foram ou irão, de graça com tudo pago, sendo importante, anos a fio, trinta longos e gloriosos anos, mas para logo após, aposentado, começar a viver a vida dos velhos, dos excluídos, dos esquecidos, dos rejeitados porque dão trabalho. Do tudo que consegui quase tudo me tiraram, num passe de mágica e da noite para o dia. Atiraram-me na indignação e na vergonha que me impede de pedir quando tanto venho precisando, do rico caviar vindo a comer pão com banana.
Hoje vivo onde somente a nostalgia acorda e faz sentir um pouco feliz mesmo que não duradoura, um ser comum, um ser feito de recordações boas porque as más espanta, um homem que anseia sem conseguir, ser novamente uma criança.
Mas este sou eu no que sou e no que fui, o Jorge Twist, o Jorge Ayrton Vasconcelos dos bordéis da Lapa, o filho da Gertrudes vencedor, o Curvello do mundo internacional da aviação comercial, o homem, o meio, o nunca, o cara que sabe que o que é seu de verdade não é de ninguém nem igual para ninguém e sendo assim é INIMITÁVE porque Jorge Curvello, para desgraça dos invejosos e alegria dos bons amigos somente existiu um e ainda somente existe um... Eu,
 E SALVE JORGE CURVELLO porque, o resto é mentira, ilusão, tentativa, fracasso SALVE JORGE.
.

Pelo autor do mesmo nome.