sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

MINHA RETROSPECTIVA DE 2011






        Apenas para que meus amigos gmail saibam, exponho a retrospectiva do ano que se finda amanhã, esperando que eu saiba, com inteligência e ponderação, dar melhora a minha própria vida, no contato com meu próximo, comigo mesmo, com o cuidado, a resignação, situação financeira arranjada e paciência para com como os nossos parlamentares me conduzem, ou seja todos nós.
        Comecei o ano com a mesma desiludida esperança de todos os demais que vivi depois que me tornei adulto e consciente, depois que fui entendendo o mecanismo humano da existência, o crescente desamor, a falta de respeito, enfim todas as mazelas que mentimos não existir, mas existem ao nosso redor, ferem e maltratam muito a mais do que deixam sentir prazer de viver. Salvou-me, como sempre digo, os animais, inocentes seres que dividem conosco o mesmo espaço.  Pelo consecutivo quinto ou sexto ano de promessas de recuperação pois perdi a conta, sinto a amargura de ver derrotada a idéia de uma aposentadoria tranqüila pela qual me esforcei em pagar, e que continua massacrando minhas possibilidades e direitos a um final de vida melhor. No quotidiano assisti e vi acontecendo às mesmas cenas, tristes ou alegres que não fazem rir, vi catástrofes acontecendo, vi mentiras políticas se sucedendo, vi regras e normas desfeitas num estalar de dedos pela ambição e descaso, vi o desamor agigantando sem freios, vi os instrumentos grátis e pagos de diversão, rádio, televisão e cinema, degringolados e deteriorados e até o planeta se rebelando, cansado talvez de nos servir sem ser cuidado, Enfim o ruim mostrou-se a meus olhos e ouvidos, e também na carne, muito a mais do que o bom. Na vida sentimental foi à continuação de uma tragédia feita romance, ilusão e esperanças que, a cada dia mais vai se esvaindo por ter escolhido a pessoa  errada, uma pessoa sem culpas de ser como é até porque não acredita que é, apenas existe, vegeta ao lado de alguém sem o pressentir, apenas se escora como uma trepadeira precisando de respaldo para crescer, vegetar, e que um dia sem mudar irá morrer assim e que acho, sem deixar muita saudade em algum coração. E nos meus próprios sentimentos, o que me deveria ser mais importante, magoas, revoltas, desilusões e desgostos, desinteresse pelo amanhã, pelo agora, pelo ontem, coisas afogadas na mentira de bebida, dança, música e tentativas de me fazer melhor, e resistir. E logo eu que no frescor da vida fui tão combatente e alegre mesmo dentro de um pote amargo de tristezas.
        Hoje aguardo o amanhã, ainda esperançoso de na virada pelo menos, lúcido ou inebriado pelo álcool, poder sorrir, sentir alegria, sentir de novo a velha esperança de que o meu e o de muitos amigos e conhecidos amanhã, será realmente melhor. Porém ao meu redor as coisas continuam, e terreno precisando de cuidado, e casa se deteriorando sem eu poder consertar, é falta de dinheiro na carteira, e é a mulher casmurra preferindo mais a casa arrumada e brilhando  que eu ou ter direito a alguma liberdade de não mais saber (ou poder) conservar, e até o tempo que também cismou de não ajudar prometendo frio e chuva em época de sol e calo. É a carestia ao redor que impede de ao menos tentar na rua, o que não se terá dentro de casa. E sei que a meia noite e por vinte minutos todo o mundo viverá a ilusão e a mentira, desejando feliz ano novo somente como jargão, sem sentir dentro do coração porque não mais conseguimos sentir isso a fundo por ninguém, nem por nós mesmo, vendo fogos lindos espocar nos céus e me pergunto se não estou enganado e somente isso não acontece comigo, se não existe ainda algum adulto sofrido deste nosso bagunçado mundo que, ao desejar este Feliz Ano Novo com todas as mesmas repetitivas palavras que aprendemos, o estará fazendo de verdade e profundo, como somente acho Deus faria e ainda é capaz de fazer. Haverá?
        E assim foi mais um ano, um ano que brinquei de ser feliz, de aturar, de resignar, de suportar, e esta sim é minha grande esperança do amanhã, continuar podendo resistir e me iludir antes e depois da virada e por mais 365 dias, e noites.

Feliz Ano Novo para vocês.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

NOITE DE PAZ, NOITE FELIZ


        Um desejo humano que vem ultrapassando gerações, mas que infelizmente se resume a mentiras, ilusões e na maior das vezes gastos desnecessários com presentes, comida e bebida para depois estragar ou ser jogada fora. Esse é o natal dos brasileiros de hoje. A televisão e seus comerciais em notícias atiçam, as famílias planejam, fazem, e o que resta no dia vinte e cinco, é desilusão. Foi fulano e beltrano que não veio ou não pode vir, que bebeu demais e estragou a comemoração, foi o silêncio e sono dos presentes desanimados, foi aquele brado de feliz Natal que sabemos ser rotulado.É o natal dos brasileiros, o meu natal. e sei lá de quantos iludidos de cada novo ano.
        No passado não foi assim e o que presenciei era festa em todos os lares, da mais sossegada a mais agitada, gente trocando de casas no meio da noite, visitando vizinhos para aquele copo de vinho e conversa boa, comendo da mesa, depois indo para outra casa fazer o mesmo. Era o baile que no final das visitas se abria em uma das casas, e a de minha mãe era a escolhida (êta mulherzinha alegre e festeira), rolando solto em pares na sala de jantar desfeita das mobílias para dar espaço a todos, era música, aturar bêbados sorrindo, era confraternização de abraços mais sinceros e quentes, não os frios votos de hoje mandados em E-mails porque cartão de natal já não é usado.  E lá íamos nós, velhos, novos e crianças na ciranda do efeito de Noite Feliz, satisfeitos ou não com os presentes que um sapato na janela garantia,  sapato que hoje já não se coloca mais ou pode até ser roubado.
        Relembro aqueles anos com saudade e choro, revejo meu pai e minha mãe dançando, maxixe, valsa, tango, bolero,  orquestras e muito samba no final porque o carnaval estava se aproximando. Revejo a mesa farta, fosse com peru ou galinha, pernil ou pedaço de bacalhau ensopado com batata, arroz, e o prêmio dos coquinhos de natal, garrafas enfeitando a mesa e abertas no canto, copos sujos ou se enchendo, porres, amores desabrochando, abraços, perdões, votos, felicidade, felicidade de rico ou pobre.
        O Papai Noel nunca era visto, apenas apareciam na ilusão e deixavam presentes, desaparecendo sem que o víssemos, hoje grassa pelas lojas e portas, aperta mãos recolhe crianças nos braços, crianças que sonham hoje e irão encontrar esse mesmo Natal ou pior, no amanhã. O peru anda caro e vem em galo chamado Chester mesmo, a comida rareou e a bebida é cerveja mais do que o  bom vinho ou licores, as mesas se ainda fartas não tem gosto porque é comida pronta e sem amor. E na cara de todos o cansaço porque muitos trabalham nesta noite até tarde, saem para aproveitar e morrem de sono. Cadê o Natal, cadê a Noite Feliz?
        Alguns como eu não mais viveram essas noites, ou pelo trabalho ou pelo abandono dos seus que somente sabem usar linha telefônica ou e-mail para desejar feliz natal. Ah como isso dói.
        E os anos se sucedem e a mesma ilusão começa a acontecer desde os primórdios da datas, muita propaganda, incentivo a gastar nas lojas, mentiras que ninguém mais sente porque o Natal mesmo, ficou na saudade, desapareceu do coração dos brasileiros e se teima ainda em ficar, é para sofrer desilusão.
        Este ano vou gozar meu Natal com os maiores amigos dos homem, os animais e minhas cadelas vão ser as mais abraçadas e homenageadas, duas fofas malucas, duas gostosuras quem me lembram a ilusão do antigo Natal.

        Ainda assim... Feliz Natal para você!

sábado, 17 de dezembro de 2011

EU ME NEGO A FICAR UM VELHO

                                 
        Eu já completei setenta anos e como minha falecida mãe que faleceu porque todos tem que partir um dia, me nego a envelhecer, isso no sentido da palavra porque meu corpo, se bem que não muito, teima e me limita. E hoje mesmo querendo fazer de tudo sinto abafações, falta de fôlego, algumas anomalias, mas faz parte e não me vergo.
        Velhice como dizem que vem do espírito e a minha ali não chegou, vivo sempre sonhando qual menino, inventando qual menino, vivendo qual jovem quando velho sou. e quem dera outros velhos (e velhas), fossem assim. o mundo seria mais eloqüente, acreditem.
        O que é ser velho? Eu não sei porque acordo me sentindo o mesmo de quando foram os meus melhores tempos, adorando ver o dia, o sol, sentir a brisa, comer, dançar sozinho em meu quarto, ouvir músicas, só me prender a boas notícias do mundo, ignorando as más que desanimam. É certo que em certas performances fico retraído e uma delas é o sexo que embora nasça em minha cabeça jovem, se apresenta velho em meu órgão responsável, mas isso eu tiro de letra empregando nestas horas tudo que o mundo me ensinou para atiçar libidos e acabo ganhando premio Nobel. É certo que gostaria de ainda ter um toco rígido no lugar dessa coisa meio safada que se nega a trabalhar, mas ela não é o meu todo e acabo a derrubando, fazendo sentir que ainda vive e como eu, é jovem, poder gozar, trabalhar e depois, descansar como gosta. E em sexo, o que é um homem se não é criativo, sabe inventar, sabe seduzir, conquistar, fazer molhar, fazer parceiros se sentirem acesos? Eu sei como porque as esquinas da vida e becos escuros me ensinaram.
        No resto que vivo, sou jovem, completo, tenho pele e cara boa mesmo não sendo belo, tenho vitalidade que busco no que como e bebo, adoro desafios e tomo aguardente até minha cabeça ficar a de todos os meus anos atrás, às vezes regredindo até minha infância. Pode isso? Pode e devo.
        Fui rico de grana, hoje sou pobre, mas invento, uso meu bairro pobre e sem nada para me dar o que eu gosto, aventuras e prazeres, quer no bar do nada, quer entre amigos chulos e ignorantes, quer com parceiros aculturados que deliciam minha conversa e aplaudem. Bebo sim, não nego, mas limito aos finais de semana.
        Em casa sou marido velho para mulher mais nova, mas deixo transparecer minha juventude no trabalho forçado dos sem ajudantes, deixo transparecer minha juventude ao ouvir músicas, deixo transparecer minha juventude na cama, nas noites escolhidas e aceitas, quando então volto a ser um garanhão sem pica, ou com ela meio inoperante, mas muita criatividade que leva a parceira ao gozo seguido e gritos. Pode isso? Pode porque sei inventar, viver, ser jovem e nunca perder minha eterna juventude e, que se foda o resto.
        Tchau companheiros da idade, estou saindo para uns “paus de rato” (bebidas misturadas), em um boteco pé sujo. Coisa de jovem que detesta ficar em casa de chinelas e lendo jornais.

Eu, um velho
Jorge Curvello

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O CIGARRO FAZ MAL


                                      Concordo plenamente que cigarro faz mal a saúde, ao bolso e incomoda, sou fumante e sei dos perigos que corro, do dinheiro que gasto e do mal que faço a mim mesmo e talvez a outros indiretamente, persistindo em fumar cigarros. Porém não me sinto criminoso  ou culpado porque tenho direito a escolher meu destino com livre arbítrio e procuro sempre estar longe de quem repudia este meu hábito, mas o grande culpado desse mal, é o próprio cigarro permitido pelos homens que dirigem os países e permitem fábricas e tal comércio, sem pensar, como mentem de se preocupar, no povo fumante e não fumante. e muito mais do que estes quem fabrica tal veneno, comercia e lucra com minha(nossa) desgraça.
        Desde que tomei consciência das coisas acompanho a evolução do mundo e nele o cigarro já existia, atraindo multidões entre os anos trinta e sessenta onde era considerado como chique e elegante se fumar. Já se morria dos mesmos males, mas nenhuma medicina se voltava contra, já se gastava o mesmo dinheiro e ninguém acusava tal gastador de burro. Depois veio o progresso e descobriram então os males dessa coisa que insignificante move o mundo, tanto no considerado mola, o dinheiro, como nas opiniões diversas. E então o cigarro virou inimigo número um dos médicos e dos comerciais mudo afora. Então começou uma neura que evoluiu ao ponto que estár acabando com permissões e decisões de livre arbítrios, tornando o fumar proibido quase até dentro de nossos próprios domínios, onde já o é se convivemos com não fumante.
        Agora eu pergunto: Porque então, para tornar a coisa mais simples e aceitável, ou se não por assim dizer, impossível de ser transgredida, acabar com o cigarro? Se não houver cigarros, não haverá mais os fumantes. Uma pergunta com ou sem respostas, depende do ponto de vista e de muitos, mais muitos, interesses..
        Mas vamos botar tudo em pratos limpos. Será somente o cigarro que causa doenças? O que se dizer do demais polunetes que polui o planeta, tais como spray, gases tóxicos, venenos, pesticidas,enfim uma série de coisas que diariamente exalamos, comemos, ou somos tocados?  Porque um fumante incomoda mais do que os gases que escapam das combustões nas ruas, nos prédios, nas fábricas?  Sinceramente, para um fumante como eu, não dá para entender.
        Se o homem de fato se preocupa com a sua e a saúde de seus semelhantes, deveria esquecer o lucro e prestar mais atenção no bem estar dele e dos que o cercam. Deveria cuidar para que não somente o cigarro, mas tudo que significa perigo para a humanidade  fosse extinto, proibido, repudiado, e talvez assim não fizesse que uma minoria de semelhantes se sentisse discriminado ou bandido. Mas isso é coisa que ele jamais fará porque ama o dinheiro e o poder, mesmo que seja à custa da vida alheia. Portanto estejam certos os não fumantes: Uma simples fumaça com nicotina não é o que vem causando sua morte, mas a hipocrisia dos superiores que podem e devem criar as leis da nossa querida e também hipócrita, sociedade para um amado e saudável, planeta Terra.

        Por Jorge Curvello

PS: Assim como o cigarro, vem a religião, pois então leiam e reflitam.

DEUS SEGUNDO SPINOZA – O DEUS QUE EU, um fumante, ACREDITO

“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade
fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo
o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,
no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos,
de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar
a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida,
que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,
se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias
teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui,
que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.
Baruch Spinoza.

sábado, 3 de dezembro de 2011

COMO CONSEGUI DAR A VOLTA POR CIMA E ME SAIR BEM

        
        Isto é assunto sério e somente quem viveu algo semelhante  poderá dizer do que sofri até me dar conta de que se quisesse viver, tinha que lutar pela minha vida.
        Nasci filha de chocadeira, como se diz a quem nunca conheceu pai ou mãe, vivi paparicada e cuidada em minha infância e adolescência, mas com segundas intenções de quem me criou. Não tinha liberdade, cresci por assim dizer atrás de grades, fechada em meu mundo sem poder descobrir o que nasci porque me retinham, vigiavam e  proibiam. Mas nunca me queixei, aceitei o que me davam e obrigavam com o estoicismo de quem um dia sabia que iría vencer, ser livre, viver a vida feliz como se pude ser quando se é realizado. Mas não foi fácil.
        Quando adolescente sentia vontade de “voar”, sair daquele cárcere que me impunham, ir procurar o mundo e suas experiências, mas tinha asas cortadas e pés amarrados, corpo retido, era uma escrava por assim dizer. Vivi então meu cativeiro esperando o futuro ser melhor, sem perder as esperanças e tentando a cada dia.
        Fiquei mocinha, cativante, bonita e sestrosa e então começou a maldade, a sede de quem me criou todo aquele tempo almejando uma coisa, me “comer”. Teve um dia, que não sei porque milagre não me matou, chegou a bater com uma faca em meu pescoço como se pronto a me degolar. E teve outro que o sacana do meu algoz não satisfeito com minha vida sofrida, ainda tentou me violentar, fazer comigo o que fatalmente acabaria com minha vida, o maldito.  Para minha felicidade, ou infelicidade, não sei, ele arranjou uma mulher e como “mulher” me esqueceu, mas não me libertou, continuou me aprisionando e o pior, com o consentimento da outra.
        É, mas então chegou o grande dia, o dia em que duas no mesmo terreiro não ia dar e eu perdi, chegou a minha vez e a outra, malvada e maliciosa, fez a cabeça dele, obrigando que eu fosse sacrificada em nome do novo amor. E o maldito aceitou, pegou aquela mesma faca que um dia me ameaçou e veio pra cima, disposto talvez a me degolar.
        Porém eu nasci pobre, prisioneira, mas não nasci burra e na hora H quando senti que ele ia mesmo fazer aquilo, dei um faniquito, comecei a babar, revirar olho, ficar amarela e foi isso que me salvou. A outra, vendo tudo acontecer gritou qualquer coisa com ele que não entendi e então, o milagre aconteceu, me soltaram, deram a liberdade, me fizeram ver como o mundo fora daquela prisão era lindo, verde, azul, amarelo, tão colorido e, apetitoso.
        Hoje estou casada, com um marido garanhão, que não me dá folga assim que o dia amanhece, ah, e como ele gosta. Mas é bonito o danado e como sabe fazer filho. Eu tenho por assim dizer com ele, uma ninhada de lindos, safadinhos, comilões e todos parecendo com ele, ou comigo, coisa de genética. Mas só tem um defeito, são muito comilões e ladinos e se eu bobeio eu é que fico com fome.  Por falar nisso, me dêm licença, mas pintou uma guloseima e eles foram atrás, estão disputando e tenho que disputar também se quero provar. Meu marido nem liga, só fica olhando, mas eu mereço e não vou deixar esses safadinhos me  levarem no “bico”..
        Ah, ia esquecendo de dizer que meu marido somente se aborrece quando um rival vem aqui perto de nosso terreno e fica arrastando asa pro meu lado, e até que é bonitão o penoso. Mas eu sou séria, se não tão fiel por natureza, pelo menos não fico me oferecendo e afinal, tenho filhos pra criar, doze pintinhos lindinhos e ainda em penugem, meus lindos, filho dessa galinha de sorte que um dia conseguiu dar a volta por cima e escapar de ir para uma panela fingindo doença a beira de uma faca e um prato com vinagre, mas se saiu bem, ganhando a liberdade de um galinheiro, marido e filhos. Êta galinha feliz.


Por Jorge Curvello