sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

MINHA RETROSPECTIVA DE 2011






        Apenas para que meus amigos gmail saibam, exponho a retrospectiva do ano que se finda amanhã, esperando que eu saiba, com inteligência e ponderação, dar melhora a minha própria vida, no contato com meu próximo, comigo mesmo, com o cuidado, a resignação, situação financeira arranjada e paciência para com como os nossos parlamentares me conduzem, ou seja todos nós.
        Comecei o ano com a mesma desiludida esperança de todos os demais que vivi depois que me tornei adulto e consciente, depois que fui entendendo o mecanismo humano da existência, o crescente desamor, a falta de respeito, enfim todas as mazelas que mentimos não existir, mas existem ao nosso redor, ferem e maltratam muito a mais do que deixam sentir prazer de viver. Salvou-me, como sempre digo, os animais, inocentes seres que dividem conosco o mesmo espaço.  Pelo consecutivo quinto ou sexto ano de promessas de recuperação pois perdi a conta, sinto a amargura de ver derrotada a idéia de uma aposentadoria tranqüila pela qual me esforcei em pagar, e que continua massacrando minhas possibilidades e direitos a um final de vida melhor. No quotidiano assisti e vi acontecendo às mesmas cenas, tristes ou alegres que não fazem rir, vi catástrofes acontecendo, vi mentiras políticas se sucedendo, vi regras e normas desfeitas num estalar de dedos pela ambição e descaso, vi o desamor agigantando sem freios, vi os instrumentos grátis e pagos de diversão, rádio, televisão e cinema, degringolados e deteriorados e até o planeta se rebelando, cansado talvez de nos servir sem ser cuidado, Enfim o ruim mostrou-se a meus olhos e ouvidos, e também na carne, muito a mais do que o bom. Na vida sentimental foi à continuação de uma tragédia feita romance, ilusão e esperanças que, a cada dia mais vai se esvaindo por ter escolhido a pessoa  errada, uma pessoa sem culpas de ser como é até porque não acredita que é, apenas existe, vegeta ao lado de alguém sem o pressentir, apenas se escora como uma trepadeira precisando de respaldo para crescer, vegetar, e que um dia sem mudar irá morrer assim e que acho, sem deixar muita saudade em algum coração. E nos meus próprios sentimentos, o que me deveria ser mais importante, magoas, revoltas, desilusões e desgostos, desinteresse pelo amanhã, pelo agora, pelo ontem, coisas afogadas na mentira de bebida, dança, música e tentativas de me fazer melhor, e resistir. E logo eu que no frescor da vida fui tão combatente e alegre mesmo dentro de um pote amargo de tristezas.
        Hoje aguardo o amanhã, ainda esperançoso de na virada pelo menos, lúcido ou inebriado pelo álcool, poder sorrir, sentir alegria, sentir de novo a velha esperança de que o meu e o de muitos amigos e conhecidos amanhã, será realmente melhor. Porém ao meu redor as coisas continuam, e terreno precisando de cuidado, e casa se deteriorando sem eu poder consertar, é falta de dinheiro na carteira, e é a mulher casmurra preferindo mais a casa arrumada e brilhando  que eu ou ter direito a alguma liberdade de não mais saber (ou poder) conservar, e até o tempo que também cismou de não ajudar prometendo frio e chuva em época de sol e calo. É a carestia ao redor que impede de ao menos tentar na rua, o que não se terá dentro de casa. E sei que a meia noite e por vinte minutos todo o mundo viverá a ilusão e a mentira, desejando feliz ano novo somente como jargão, sem sentir dentro do coração porque não mais conseguimos sentir isso a fundo por ninguém, nem por nós mesmo, vendo fogos lindos espocar nos céus e me pergunto se não estou enganado e somente isso não acontece comigo, se não existe ainda algum adulto sofrido deste nosso bagunçado mundo que, ao desejar este Feliz Ano Novo com todas as mesmas repetitivas palavras que aprendemos, o estará fazendo de verdade e profundo, como somente acho Deus faria e ainda é capaz de fazer. Haverá?
        E assim foi mais um ano, um ano que brinquei de ser feliz, de aturar, de resignar, de suportar, e esta sim é minha grande esperança do amanhã, continuar podendo resistir e me iludir antes e depois da virada e por mais 365 dias, e noites.

Feliz Ano Novo para vocês.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

NOITE DE PAZ, NOITE FELIZ


        Um desejo humano que vem ultrapassando gerações, mas que infelizmente se resume a mentiras, ilusões e na maior das vezes gastos desnecessários com presentes, comida e bebida para depois estragar ou ser jogada fora. Esse é o natal dos brasileiros de hoje. A televisão e seus comerciais em notícias atiçam, as famílias planejam, fazem, e o que resta no dia vinte e cinco, é desilusão. Foi fulano e beltrano que não veio ou não pode vir, que bebeu demais e estragou a comemoração, foi o silêncio e sono dos presentes desanimados, foi aquele brado de feliz Natal que sabemos ser rotulado.É o natal dos brasileiros, o meu natal. e sei lá de quantos iludidos de cada novo ano.
        No passado não foi assim e o que presenciei era festa em todos os lares, da mais sossegada a mais agitada, gente trocando de casas no meio da noite, visitando vizinhos para aquele copo de vinho e conversa boa, comendo da mesa, depois indo para outra casa fazer o mesmo. Era o baile que no final das visitas se abria em uma das casas, e a de minha mãe era a escolhida (êta mulherzinha alegre e festeira), rolando solto em pares na sala de jantar desfeita das mobílias para dar espaço a todos, era música, aturar bêbados sorrindo, era confraternização de abraços mais sinceros e quentes, não os frios votos de hoje mandados em E-mails porque cartão de natal já não é usado.  E lá íamos nós, velhos, novos e crianças na ciranda do efeito de Noite Feliz, satisfeitos ou não com os presentes que um sapato na janela garantia,  sapato que hoje já não se coloca mais ou pode até ser roubado.
        Relembro aqueles anos com saudade e choro, revejo meu pai e minha mãe dançando, maxixe, valsa, tango, bolero,  orquestras e muito samba no final porque o carnaval estava se aproximando. Revejo a mesa farta, fosse com peru ou galinha, pernil ou pedaço de bacalhau ensopado com batata, arroz, e o prêmio dos coquinhos de natal, garrafas enfeitando a mesa e abertas no canto, copos sujos ou se enchendo, porres, amores desabrochando, abraços, perdões, votos, felicidade, felicidade de rico ou pobre.
        O Papai Noel nunca era visto, apenas apareciam na ilusão e deixavam presentes, desaparecendo sem que o víssemos, hoje grassa pelas lojas e portas, aperta mãos recolhe crianças nos braços, crianças que sonham hoje e irão encontrar esse mesmo Natal ou pior, no amanhã. O peru anda caro e vem em galo chamado Chester mesmo, a comida rareou e a bebida é cerveja mais do que o  bom vinho ou licores, as mesas se ainda fartas não tem gosto porque é comida pronta e sem amor. E na cara de todos o cansaço porque muitos trabalham nesta noite até tarde, saem para aproveitar e morrem de sono. Cadê o Natal, cadê a Noite Feliz?
        Alguns como eu não mais viveram essas noites, ou pelo trabalho ou pelo abandono dos seus que somente sabem usar linha telefônica ou e-mail para desejar feliz natal. Ah como isso dói.
        E os anos se sucedem e a mesma ilusão começa a acontecer desde os primórdios da datas, muita propaganda, incentivo a gastar nas lojas, mentiras que ninguém mais sente porque o Natal mesmo, ficou na saudade, desapareceu do coração dos brasileiros e se teima ainda em ficar, é para sofrer desilusão.
        Este ano vou gozar meu Natal com os maiores amigos dos homem, os animais e minhas cadelas vão ser as mais abraçadas e homenageadas, duas fofas malucas, duas gostosuras quem me lembram a ilusão do antigo Natal.

        Ainda assim... Feliz Natal para você!

sábado, 17 de dezembro de 2011

EU ME NEGO A FICAR UM VELHO

                                 
        Eu já completei setenta anos e como minha falecida mãe que faleceu porque todos tem que partir um dia, me nego a envelhecer, isso no sentido da palavra porque meu corpo, se bem que não muito, teima e me limita. E hoje mesmo querendo fazer de tudo sinto abafações, falta de fôlego, algumas anomalias, mas faz parte e não me vergo.
        Velhice como dizem que vem do espírito e a minha ali não chegou, vivo sempre sonhando qual menino, inventando qual menino, vivendo qual jovem quando velho sou. e quem dera outros velhos (e velhas), fossem assim. o mundo seria mais eloqüente, acreditem.
        O que é ser velho? Eu não sei porque acordo me sentindo o mesmo de quando foram os meus melhores tempos, adorando ver o dia, o sol, sentir a brisa, comer, dançar sozinho em meu quarto, ouvir músicas, só me prender a boas notícias do mundo, ignorando as más que desanimam. É certo que em certas performances fico retraído e uma delas é o sexo que embora nasça em minha cabeça jovem, se apresenta velho em meu órgão responsável, mas isso eu tiro de letra empregando nestas horas tudo que o mundo me ensinou para atiçar libidos e acabo ganhando premio Nobel. É certo que gostaria de ainda ter um toco rígido no lugar dessa coisa meio safada que se nega a trabalhar, mas ela não é o meu todo e acabo a derrubando, fazendo sentir que ainda vive e como eu, é jovem, poder gozar, trabalhar e depois, descansar como gosta. E em sexo, o que é um homem se não é criativo, sabe inventar, sabe seduzir, conquistar, fazer molhar, fazer parceiros se sentirem acesos? Eu sei como porque as esquinas da vida e becos escuros me ensinaram.
        No resto que vivo, sou jovem, completo, tenho pele e cara boa mesmo não sendo belo, tenho vitalidade que busco no que como e bebo, adoro desafios e tomo aguardente até minha cabeça ficar a de todos os meus anos atrás, às vezes regredindo até minha infância. Pode isso? Pode e devo.
        Fui rico de grana, hoje sou pobre, mas invento, uso meu bairro pobre e sem nada para me dar o que eu gosto, aventuras e prazeres, quer no bar do nada, quer entre amigos chulos e ignorantes, quer com parceiros aculturados que deliciam minha conversa e aplaudem. Bebo sim, não nego, mas limito aos finais de semana.
        Em casa sou marido velho para mulher mais nova, mas deixo transparecer minha juventude no trabalho forçado dos sem ajudantes, deixo transparecer minha juventude ao ouvir músicas, deixo transparecer minha juventude na cama, nas noites escolhidas e aceitas, quando então volto a ser um garanhão sem pica, ou com ela meio inoperante, mas muita criatividade que leva a parceira ao gozo seguido e gritos. Pode isso? Pode porque sei inventar, viver, ser jovem e nunca perder minha eterna juventude e, que se foda o resto.
        Tchau companheiros da idade, estou saindo para uns “paus de rato” (bebidas misturadas), em um boteco pé sujo. Coisa de jovem que detesta ficar em casa de chinelas e lendo jornais.

Eu, um velho
Jorge Curvello

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O CIGARRO FAZ MAL


                                      Concordo plenamente que cigarro faz mal a saúde, ao bolso e incomoda, sou fumante e sei dos perigos que corro, do dinheiro que gasto e do mal que faço a mim mesmo e talvez a outros indiretamente, persistindo em fumar cigarros. Porém não me sinto criminoso  ou culpado porque tenho direito a escolher meu destino com livre arbítrio e procuro sempre estar longe de quem repudia este meu hábito, mas o grande culpado desse mal, é o próprio cigarro permitido pelos homens que dirigem os países e permitem fábricas e tal comércio, sem pensar, como mentem de se preocupar, no povo fumante e não fumante. e muito mais do que estes quem fabrica tal veneno, comercia e lucra com minha(nossa) desgraça.
        Desde que tomei consciência das coisas acompanho a evolução do mundo e nele o cigarro já existia, atraindo multidões entre os anos trinta e sessenta onde era considerado como chique e elegante se fumar. Já se morria dos mesmos males, mas nenhuma medicina se voltava contra, já se gastava o mesmo dinheiro e ninguém acusava tal gastador de burro. Depois veio o progresso e descobriram então os males dessa coisa que insignificante move o mundo, tanto no considerado mola, o dinheiro, como nas opiniões diversas. E então o cigarro virou inimigo número um dos médicos e dos comerciais mudo afora. Então começou uma neura que evoluiu ao ponto que estár acabando com permissões e decisões de livre arbítrios, tornando o fumar proibido quase até dentro de nossos próprios domínios, onde já o é se convivemos com não fumante.
        Agora eu pergunto: Porque então, para tornar a coisa mais simples e aceitável, ou se não por assim dizer, impossível de ser transgredida, acabar com o cigarro? Se não houver cigarros, não haverá mais os fumantes. Uma pergunta com ou sem respostas, depende do ponto de vista e de muitos, mais muitos, interesses..
        Mas vamos botar tudo em pratos limpos. Será somente o cigarro que causa doenças? O que se dizer do demais polunetes que polui o planeta, tais como spray, gases tóxicos, venenos, pesticidas,enfim uma série de coisas que diariamente exalamos, comemos, ou somos tocados?  Porque um fumante incomoda mais do que os gases que escapam das combustões nas ruas, nos prédios, nas fábricas?  Sinceramente, para um fumante como eu, não dá para entender.
        Se o homem de fato se preocupa com a sua e a saúde de seus semelhantes, deveria esquecer o lucro e prestar mais atenção no bem estar dele e dos que o cercam. Deveria cuidar para que não somente o cigarro, mas tudo que significa perigo para a humanidade  fosse extinto, proibido, repudiado, e talvez assim não fizesse que uma minoria de semelhantes se sentisse discriminado ou bandido. Mas isso é coisa que ele jamais fará porque ama o dinheiro e o poder, mesmo que seja à custa da vida alheia. Portanto estejam certos os não fumantes: Uma simples fumaça com nicotina não é o que vem causando sua morte, mas a hipocrisia dos superiores que podem e devem criar as leis da nossa querida e também hipócrita, sociedade para um amado e saudável, planeta Terra.

        Por Jorge Curvello

PS: Assim como o cigarro, vem a religião, pois então leiam e reflitam.

DEUS SEGUNDO SPINOZA – O DEUS QUE EU, um fumante, ACREDITO

“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade
fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo
o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,
no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos,
de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar
a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida,
que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,
se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias
teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui,
que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.
Baruch Spinoza.

sábado, 3 de dezembro de 2011

COMO CONSEGUI DAR A VOLTA POR CIMA E ME SAIR BEM

        
        Isto é assunto sério e somente quem viveu algo semelhante  poderá dizer do que sofri até me dar conta de que se quisesse viver, tinha que lutar pela minha vida.
        Nasci filha de chocadeira, como se diz a quem nunca conheceu pai ou mãe, vivi paparicada e cuidada em minha infância e adolescência, mas com segundas intenções de quem me criou. Não tinha liberdade, cresci por assim dizer atrás de grades, fechada em meu mundo sem poder descobrir o que nasci porque me retinham, vigiavam e  proibiam. Mas nunca me queixei, aceitei o que me davam e obrigavam com o estoicismo de quem um dia sabia que iría vencer, ser livre, viver a vida feliz como se pude ser quando se é realizado. Mas não foi fácil.
        Quando adolescente sentia vontade de “voar”, sair daquele cárcere que me impunham, ir procurar o mundo e suas experiências, mas tinha asas cortadas e pés amarrados, corpo retido, era uma escrava por assim dizer. Vivi então meu cativeiro esperando o futuro ser melhor, sem perder as esperanças e tentando a cada dia.
        Fiquei mocinha, cativante, bonita e sestrosa e então começou a maldade, a sede de quem me criou todo aquele tempo almejando uma coisa, me “comer”. Teve um dia, que não sei porque milagre não me matou, chegou a bater com uma faca em meu pescoço como se pronto a me degolar. E teve outro que o sacana do meu algoz não satisfeito com minha vida sofrida, ainda tentou me violentar, fazer comigo o que fatalmente acabaria com minha vida, o maldito.  Para minha felicidade, ou infelicidade, não sei, ele arranjou uma mulher e como “mulher” me esqueceu, mas não me libertou, continuou me aprisionando e o pior, com o consentimento da outra.
        É, mas então chegou o grande dia, o dia em que duas no mesmo terreiro não ia dar e eu perdi, chegou a minha vez e a outra, malvada e maliciosa, fez a cabeça dele, obrigando que eu fosse sacrificada em nome do novo amor. E o maldito aceitou, pegou aquela mesma faca que um dia me ameaçou e veio pra cima, disposto talvez a me degolar.
        Porém eu nasci pobre, prisioneira, mas não nasci burra e na hora H quando senti que ele ia mesmo fazer aquilo, dei um faniquito, comecei a babar, revirar olho, ficar amarela e foi isso que me salvou. A outra, vendo tudo acontecer gritou qualquer coisa com ele que não entendi e então, o milagre aconteceu, me soltaram, deram a liberdade, me fizeram ver como o mundo fora daquela prisão era lindo, verde, azul, amarelo, tão colorido e, apetitoso.
        Hoje estou casada, com um marido garanhão, que não me dá folga assim que o dia amanhece, ah, e como ele gosta. Mas é bonito o danado e como sabe fazer filho. Eu tenho por assim dizer com ele, uma ninhada de lindos, safadinhos, comilões e todos parecendo com ele, ou comigo, coisa de genética. Mas só tem um defeito, são muito comilões e ladinos e se eu bobeio eu é que fico com fome.  Por falar nisso, me dêm licença, mas pintou uma guloseima e eles foram atrás, estão disputando e tenho que disputar também se quero provar. Meu marido nem liga, só fica olhando, mas eu mereço e não vou deixar esses safadinhos me  levarem no “bico”..
        Ah, ia esquecendo de dizer que meu marido somente se aborrece quando um rival vem aqui perto de nosso terreno e fica arrastando asa pro meu lado, e até que é bonitão o penoso. Mas eu sou séria, se não tão fiel por natureza, pelo menos não fico me oferecendo e afinal, tenho filhos pra criar, doze pintinhos lindinhos e ainda em penugem, meus lindos, filho dessa galinha de sorte que um dia conseguiu dar a volta por cima e escapar de ir para uma panela fingindo doença a beira de uma faca e um prato com vinagre, mas se saiu bem, ganhando a liberdade de um galinheiro, marido e filhos. Êta galinha feliz.


Por Jorge Curvello

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

EU CRIANÇA... TEMPO DE ALEGRIAS E MEDOS

    


        Lembro-me de ter sido uma criança arteira, inteligente ao mesmo tempo em que medrosa. Vivi este tempo em anos onde havia mais pureza no ar, nos alimentos e nas mentes das pessoas, o que levava a acreditar em assombrações, mau olhado, praga, macumba e todo tipo de sortilégio que amedrontava. Lembro-me que não tínhamos muito, éramos pobres, mas vivíamos bem dentro do que a pobreza daqueles tempos permitia, comendo bem, podendo estudar, ir ao cinema, passear e o principal, ter colegas e amigos mais do que hoje onde todos se afastam entre si.
        Era comum em dias de semana fiarmos nas esquinas conversando em separados, crianças, adolescentes e adultos, cada um com sua turminha. Nos era vedado participar de conversa de adultos ou mais velhos, falar palavrões, saber sobre sexo, enfim vivíamos fora do modernismo que parece fazer perder a humanidade.
        Havia bonde, lotação, ônibus, trem “Maria fumaça” e o cinema exibia filme dirigidos a menores de idade por graduação, exibindo mais filmes de aventuras e faroestes do que dramas e estes, sempre eram para maiores de dezoito anos. Nossos dias eram feitos de ir ao colégio, estudar, pela manhã ou à tarde, mas com as horas vagas dos dias de semana apenas para brincar. Se estudando pela manhã, à tarde até o anoitecer era tempo de ficar na rua, em meio aos colegas brincando de pique esconde, de bandido e mocinho, andando de patinete, carrinho de rolimã, soltando pipa, ou então subindo em árvores do nosso quintal para pegar frutas maduras e tinha muitas. Se estudando pela tarde se invertia a hora de folguedo, mas com prejuízo porque não havia muito com quem se brincar. Praia somente nos finais de semanas e acompanhado dos pais ou algum responsável e não era para passar o dia todo, era dividido também em manhãs ou tardes e eu, morando perto da praia de ramos, subúrbio da Leopoldina no RJ, que ainda era mais limpa apesar das fezes boiando ou cachorros dividindo a água conosco,  freqüentava bastante.
        As noites eram sempre de agonia para mim porque temia ir ao dentista e tinha cáries, e as danadas ameaçavam fazer doer o dente sempre ao cair do sol. As mães de subúrbio cuidavam menos da saúde dos filhos que pouco adoeciam e somente tratavam alguma coisa quando a coisa pegava e dente cariado não era doença, mas habitual na molecada onde tomar banho quase sempre era lavar pernas, braços e rosto e fingir que estava limpo.  Depois das seis horas da tarde começavam as séries de rádio, não havia televisão e toma de acompanhar os seriados do Capitão Atlas, Jerônimo, Radar, Tarzan e outros heróis, vindo depois à fatídica e igual Hora do Brasil, transmitida em cadeia, uma chatice. A hora das novelas eram sagradas e colocava todos em volta de um rádio fanhoso, sendo sonoplastilizada nas rádios, Tupi, Tamoio e Nacional, as três brigando por audiência Mas eu gostava de ouvir, criando em minha mente fantasiosa cenários e fisionomias dos personagens através dos descrições de um narrador.
        Mas havia a hora do medo e ela vinha através do programa chamado “Incrível, fantástico, extraordinário”, narrando episódios macabros de terror, com almas penadas, lobisomens, mulas sem cabeça e até tecidos tomando vida animada, apavorantes, algo que gelava o sangue de crianças e adultos, fazendo  uma rapaziada que ouvia o programa em minha casa, sair depois agarrados uns aos outros, homens feitos e também cagões. E a alegria era comemorada a luz do dia, para o medo ser sentido a luz elétrica  
        Nos finais de semana era acordar cedo tomar café com pão, cuidar dos bichos de criação, se sábado ir a feira livre com a mãe e se domingo esperar a vinda de um barbeiro falador para cortar nosso cabelo em casa, e infalivelmente almoçar com toda a família reunida, e era obrigatório, pai, mãe e irmãos animados ao redor de mesa farta, sendo galinha, macarronada ou carne assada os pratos de luxo. E então havia cerveja para adultos e refrigerante para menores, mas só neste dia.
        Alguns gastavam a tarde de domingo indo ao cinema em seção de matinées outros dormindo, mas era dia de tomar sorvete nas padarias depois do filme. A noite se ia a um parque mambembe ou circo ou se ficava em casa fazendo o dever de casa do colégio. Não se namorava antes dos dezoito anos e não se fazia sexo mesmo sentindo o começo da puberdade a mais do que uma atrevida e escondida masturbação Mente pura em corpo sano, se usava dizer.
        Das alegrias havia a de se viver com menos violência, informações, gente má, contato com a natureza em vez de computador ou televisão, comer melhor mesmo no barato e isso incluía camarão, bacalhau, pratos hoje desaparecidos da mesa dos brasileiros pobres. Era costume se ir a enterro, casamentos com roupas novas, batizados e aniversários, fazer piqueniques, ter pavor do defunto nos gurufins e se temer a passagem dos desaparecidos carro coche. Se dava valor em se  ver o sol nascer em uma madrugada quando se podia voltando com nossos pais de alguma festa ou então se eles permitiam  acordarmos fora de hora. Era gostoso de se ter cachorro de estimação, um ou vários, criar galinha em terreiro, pássaros em gaiolas, caçar rã em vala para comer, criar girinos em garrafas com água,  usar atiradeira, bodoque, matar pernilongo no tapa e rezar para pulga nos deixar dormir. Tudo isso era bom demais. As noites eram para reviver os medos, ver coisa que não existia, ouvir sons que não haviam, escutar histórias de pavor e acreditar.
        Hoje tudo acabou, continuam existindo crianças, mas muito do que existiu de bom na minha infância se perdeu. Hoje garotos se tornam homens cedo demais e se tornam pais sem crescer, meninas se tornam mulheres e mães fora do tempo, pais vivem separados e nem sabem direito quem criam, e avós não ninam mais neto, casais se separam por qualquer motivo ou traem por qualquer desculpa, os alimentos cheiram a plástico e cinemas quase não existem. Os filmes são modernos, usam de efeitos que estragam a fantasia mental, falam de atrocidades a mais do que amor, buscam cada vez mais a separação do homem de sua alma.
        Viva minha infância de alegrias, e medos.



Por Jorge Curvello

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

WHAT´S GOING ON JACK?

 

Before I used to be so clever
Before I used to be so alive
Before I used to be so independent
But now everything seems to have ended or finished

Before I used to be so musical
Before I used to be so delighted
Before I used to be so hopeful
But now I used to say “never mind”

Why life has to be so empty
Why life has to show so  pointless
Why life has to show so unfocused
When the sunset comes near the end

Always I love to live, love and dancing
Always I love to be very alive
But now things comes to me so meaningless
As  if  everything was not just an illusion

What happened to me, I don’t know
What was made of me or even I suspect
What was made of my life, I not guess
I know that is not of me, of course,
Because I recognize myself for not more

I think my sun now is setting down
And for much I insist, goes out
And for more I fight, gets tired
And for more I avoid, get dark

Sadly I sit looking at the clouds
That is passing by without stopping
And perhaps  better than I it knows
That will disappear to new rebirth

What is going on jack?
What is going on, with me?

Por jorge Curvello

sábado, 12 de novembro de 2011

O QUE A IDADE NOS TRAZ.

                                        




               
                A idade severa e nunca parando nos leva a diferentes caminhos da vida, ditos de mais experiência mudando antigos conceitos e exigindo muito dos que nos cercam, especialmente carinho e amor. ao sei se é assim para todos, mas é assim que vejo e me sinto.
        Antes tão seguro de mim e completado, tão desnecessário de sentir alguém me amando, me querendo, a mim procurando, tudo muda nesta carreira de anos que nunca para, sucede e aproxima um final desconhecido, mas final. E aqui vamos nós, os velhos, os idosos, os chatos, os não entendidos porque o que nós somos ou nos tornamos pensamos e fazemos, vai além da compreensão dos mais novos. Idosos, fingido de sermos aceitos, mas desagradáveis quando incomodamos, damos trabalho, fazemos sofrer e tomamos tempo na liberdade dos mais novos, pretendida, com nosso corpos e presença. Ah vida incompreensível, Ah vida cruel e decepcionante se paramos para medir.
        Minha mãe enquanto existiu me deixou a lição de ser sozinho, ser suficiente, cuidar de mim e nada pedir ou precisar, mas a vida me ensina ao contrário e me vejo, pelo menos com meu coração, sentindo faltas, necessidades, desejos de mais compreensão, carinho e amor. Ah velhice que ensina, que machuca se paramos para medir, que nada é do que um dia, quando novos, pensamos seria.
        O que sei e o que tenho observado é que a velhice descarrega dificuldades de qualquer forma para a sociedade dos mais novos, incomoda mesmo que sejamos  auto -suficientes ou necessitados, isso porque por nós temem os que nos amam.
        Quando novo eu sorria quando usavam de me dizer que eu apresentava em juízo e físico de ser dez anos mais novo do que era na identidade, e isso é uma verdade porque aos setenta me sinto garoto de vinte, tenho os mesmos anseios embora compreenda no espelho que envelheci e me comporte quando preciso, mas me solto quando não. Eu gosto ainda aos meus setenta anos de idade e com saúde, graças a Deus,  de música, dançar, trabalhar, conversar e interagir com jovens, sou malandro onde tenho que aparentar ser malandro, perigoso se assim a situação exige, brincalhão sempre, gosto de beber, fumar, sair à rua vestido como adolescente sem me tornar ridículo, ser eu, o velho novo, o novo velho, duas versões em um só. desprezo amizades de nostalgias, amo amizades de novos pensamentos sem ser  depravada, amo os jovens porque ainda sou um deles e serei até morrer, eu penso.
        Dentro de minhas possibilidades, convenço, pratico, cumpro, represento, deixo o mundo ir e vou com ele sem envelhecer meu espírito que não precisa disso e sem me sentir errado porque sou como o sol, eu renasço a cada dia mesmo que nuvens de chuva tentem me ocultar.  Sou velho e com prazer.

Por Jorge Curvello.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O FANTASMA DE LULA, PESADELO DE DILMA

         







         Dilma acordou suando, apavorada olhando na penumbra  do quarto a atmosfera ameaçadora do medo, o pavor estampado em seu rosto que nem ela podia ver fora de um espelho. Acabava de ter um pesadelo, um terrível sonho onde seu antecessor na presidência da república, Luiz Ignácio lula da Silva parecia sorrindo para ela com lábios roxos, olhos flamejantes sentado em um trono pintado de vermelho e onde labaredas brotavam da base aquecendo tudo. Do seu olhar brotava apenas uma pergunta satânica. “E agora presidenta mulher, como acha que irá resolver?”
         Sentada ao lado do criado mudo Dilma não entendia, afinal nem fora ela que escolhera ser presidente, havia sido induzida, era mulher, coisa nova, coisa ambicionada pelo sexo feminino na ânsia de ver resolvido os direitos da mulher no Brasil, junto, é claro, a todos os demais, de todos os brasileiros. E foi ele, Lula, quem lhe aconselhou, instruiu, excitou e ajudou a ficar em seu lugar, o lugar que jamais quis deixar e se pudesse ficaria para sempre, único, onipotente, mas nunca onipresente, como um deus do mal que soube mentir e enganar a toda uma nação e ainda se faz, até agora, de protetor e responsável.
         E da cama ela olha mais longe, ficha os olhos para ver o passado e o futuro prometendo alegrias e realizações. Mas onde foi parar tudo isso depois que ela assumiu senão ficar a figura provocante e jocosa de um abacaxi, fruta gostosa, mas de casca espinhosa que esconde o núcleo e não revela o interior?  Ela não conseguia enxergar, embora já imaginasse o triste destino do continuar governando como pau mandado porque da capacidade, somente Lula sabia como seu protetor, seu demônio que agora lhe surgia na verdadeira forma como no pesadelo recente.
         E vamos mudar o Brasil, mas cadê? E vamos cuidar da educação, mas como? E vamos dar ao povo direitos iguais e humanos, mas onde andarão tais direitos se o próprio Lula recente lhe mostrou a diferença entre ser cidadão e ser figura notória do poder? SUS para uns, Sírio Libanês para os poderosos... Anos, dias ou meses para uns em vagas e socorro, horas para outros se do poder.  O mesmo câncer que maltrata o corpo de qualquer brasileiro parece ter sido diferente no de Lula porque exigiu rapidez de diagnóstico e premissas de cura. Meu Deus, que país é esse?
         E onde andam os direitos adquiridos se mais de dezessete mil aposentados do Aérus, pagantes e sacramentados pela tal UNIÂO FEDERAL, bastou o Aérus falir e perderam tudo, o direito  adquirido e a dignidade porque a responsável dele se esquece e protela decisão à espera da morte do ultimo dos necessitados para jamais ter que pagar? E onde anda o tal saneamento básico que agora se transforma em obras de estádios e rodovias, aeroportos e hospedagens, tudo em nome de uma Copa do Mundo que será só por uma vez, depois deixará apenas algumas vantagens que certamente esquecidas irão deteriorar como sempre acontece com tudo que aqui se faz, e aqui nunca se paga. Não há nada Lula, Dilma falou... Você com sua vaidade e mentiras levou o Brasil a bancarrota, ao 84 lugar na classificação de desenvolvimento porque somente pensou em estatais, negociações de Mercosul e esqueceu a verdade que é como vive sua gente, o que tem e o que sofre, foi isso que deixou para eu descascar e sem ver a solução. O que você fez com esse povo lula, ensinou a confiar no diabo, ensinou a querer mais diversão do que paz e dinheiro no bolso, elastificou preços para pobre poder comprar e depois se ferrar desestruturando a família, ensinou a comer menos em nome de existir satisfeito com lixo e depravação,.
         E o telefone vermelho toca avisando Dilma que acontece mais uma “novidade”, policial prendendo policial em uma tomada de mais um morro na tal da UPP quando homens da lei protegiam fuga de bandidos... E ainda resplandece no ar brados de uma recente revolta estudantil, não para melhorar o sistema de aprendizado ou salário de professores, ou a mensalidades escolar, mas reivindicando o direito a liberdade do fazer o que quer e fumar o que quer no campus. E eu Lula querido, o que faço com isso meu pai?  O que fez com esse país Lula adorado?
         Dilma está vermelha, atônita, se dando conta afinal de que foi vítima de uma maracutáia terrível, assumir todas as culpas depois que alguém praticou como quis e o que quis no terreno que ela herdou. Sôfrega ela se levanta a procura de um chá na cozinha, olha a caixa da erva seca e pensa que se amanhã, ao invés da erva seca saudável não terá que procurar um veneno. E em sua cabeça surge outra vez a imagem do pesadelo, Lula sentado no trono do diabo, com lábios roxos sorrindo para ela, e então ela entende porque até agora mesmo depois de afastado de suas obrigações, ele não dispensa estar a seu lado, erguendo seu braço no brado de VAMOS CONCERTAR ESSE PAÍS.

Por Jorge Machado Curvello

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

LAÇOS DE FAMÍLIA

                            


        “Muita das vezes a falta de sentimento de laço de família se camufla na falta de outros empecilhos para se conviver com alguém”.





                                       FAMILIA

        O que deve ser julgado uma família, um pai, uma mãe, filhos e depois netos e por conseguinte todos os que descendam do mesmo sangue? Assim nos ensinaram a considerar o que é família e sendo parentes, os descendentes ou ascendentes dessa família em suas diversas ramificações.
        Muitos consideram seus parentes, seus próprios dentes e muitos têm razão. Por vezes, amigos não parentes são mais parentes do que os de sangue ou descendência são.
        Mas há os que têm família de verdade onde existe união, ajuda, compreensão e socorro a qualquer hora ou por qualquer motivo sem julgamento, isso porque o amor exige. Há os que sentem ser família somente pela metade assim considerando a sua, a de casa, e os demais apenas parentes e com o qual não se tem dever de obrigações. E há os que nem assim sentem, os desunidos cujo parentesco é somente o nome que recebe ou o laço de sangue.
        Mas todos os três tipos se dizem ser família, se julga família, mente sentir a todos como família.
        Uma coisa eu observei ao longo de minha vida familiar, a de que parentes são mesmo os dentes, ou amigos que nada têm conosco a mais do que amizade, sentindo mais nossas dificuldades do que os que assim deveriam e que para dar ajuda primeiro fazem julgamentos nem sempre acertados. Eu, enquanto tive dinheiro, fui elogiado, bem tratado e muito procurado, minha casa sendo centro de diversões e reuniões, festas e prazeres que se estendiam para a rua em jantares, bares, discotecas, passeios e festas do alheio ou dos conhecidos, enfim todos mos lugares onde se gastava dinheiro em nome  da alegria.
        Eu tinha para gastar e provava isso não poupando, pagando contas sozinho ou garantindo festas em casa sem me importar com rachas ou ajuda de custo. E nos rachas, quando havia por necessidade de eu não haver convidado e sim sugerido de reuniões no meu lar, tinha que pagar a parte que me cabia ao número divisor, sem que ninguém perguntasse de quanto ficava despesas de gás, luz ou limpeza porque o que entrava na conta era a comida e a bebida. E não é preciso falar que eu saia no prejuízo.
        Minha casa vivia sempre cheia, com amigos me visitando para almoço ou final de semana, meus garotos namorando traziam suas namoradas que praticamente moravam em minha casa nos dias de sábado e domingo, e toma de eu pagando todas as contas sem pedir racha a ninguém. Mas bastou porém que eu exigisse mais contribuição nas despesas para todos irem desaparecendo, sumindo, dando desculpas esfarrapadas e aos poucos deixando eu e minha companheira sozinhos e que se quiséssemos ver alguém, tínhamos que procurar.  E assim testei no meu primeiro casamento ou primeira família e agora na segunda vivendo com outra mulher.
        Hoje vivo a sombra do que fui ou pude ser, sendo um João ninguém pois o destino assim quis, somente tendo para comer e pagar contas. E aonde então foram parar meus amigos e a minha família?  O que mais escuto se pergunto, é que não há tempo para visitas, não há dinheiro para ofertas, não há possibilidade de ajuda, enfim que a vida está difícil e agora é cada um por si.  E pensar que deveria ter previsto e me preocupado e poupado mais enquanto esbanjei em nome  de minha família.
        Mas ao contrário do que possa parecer em meu desabafo, não culpo ninguém E não cobro a ninguém tanto afastamento, procuro compreender que o que falta não é a possibilidade financeira ou tempo ou à vontade de algum sacrifício, mas sim o amor de família, sentimento de família, aquele que me refiro na primeira instância de minha filosofia, a família de verdade porque falta o laço.
        Recentemente visitei uma dessas famílias de primeira instância, gente que conheço a bom par de anos e é sempre igual, formada e vivendo em um mesmo terreno sob estreitas partilhas de espaço, pais, filhos, primos, tios, netos, todos se reunindo por qualquer motivo, seja domingo, sábado ou dia da missa, todos juntos se confraternizando e se divertindo sem pensar em valores, dinheiro, prejuízos, isso porque vale para eles o momento, o riso, a alegria e a felicidade no lugar de futuras preocupações. Ali uma mão sempre lava a outra e ninguém deixa de estudar, trabalhar, comer e viver como qualquer um mesmo se com pouco ou nada porque se um tem, todos tem. E lá, naquele ambiente humilde quase favela eu provei a alegria de me sentir querido de fato, estimado de fato, ambicionado de fato porque de todos eu era o menos capaz de poder ajudar até com um real, mas tinha a honra de ser oferecido da melhor parte do pão à mesa como se fosse um rei sempre desejado da presença. Ali eu vivi o sentimento familiar, o que acho deve ser o verdadeiro laço, o LAÇO DE FAMÍLIA.

        E ao retornar de um fim de semana glorioso me pergunto. E a minha família, onde anda depois que fiquei pobre como aqueles que acabava de deixar?


Por Jorge Curvello