quinta-feira, 19 de maio de 2011

A LUZ DA SABEDORIA


Dia 27 de maio de 2011, Ipanema. A manhã é de sol, e o sol invade pela janela o apartamento de Claudia Vasconcelos, mulher inteligente, culta, de finesse adquirida nos longos anos em que trabalhou como aeromoça de uma das mais importantes empresas aéreas brasileira. Naturalmente neste dia ela está nervosa e alegre ao mesmo tempo, esperando que a noite caia para seu grande debute na galeria dos grandes escritores, de que ainda não faz parte, mas fará certamente após a esperada celebridade porque conseguiu com esforços e méritos, apresentar uma obra literária de grande estilo cujo título Estrela Brasileira, grassará nas vitrines patrocinada por uma grande editora.

O dia é especial, telefonemas se sucedem parabenizando e confirmando presença na noite dos autógrafos. Do sul parentes e amigos telefonam, alegres de ouvir sua voz rouca e amável, como a de uma professora cuidando de seus alunos. E o dia vai passando nessa grande atribulação e aflição da primeira vez enfrentando um apanhado de críticos anônimos e bajuladores, gente que certamente não mostrará nunca o que lhes vai por dentro, se inveja, alegria, admiração, interesse ou apenas disputar talvez alguns canapés e bebidas.

A noite chega afinal e lá está Claudia, bonita como sempre foi e não prejudicada pela idade levando esta em consideração para algumas perdas. Gentil como era no tempo em que empurrava um carrinho de serviço na primeira classe de Boeings, enfrentando satisfeitos e insatisfeitos, gente que pagava para ter e nunca sabia até onde, que viajava com ela sem saber agradecer a presença na cabine de um lindo anjo, gente grata, culta, e gente inculta, ingrata.

O salão está bonito, tudo como esperado pessoas desfilando, conversando, se divertindo na noite oferecida, e sentada diante de todos, sempre amável e digna, Cláudia vai assinando os exemplares, explicando dúvidas, concordando opiniões, esclarecendo da profissão adquirida, da nova e da antiga quando dela isso relembram, distraída algumas vezes ao assinar a primeira página de Estrela Brasileira marcando sua dedicação e carinho.

O homem mal vestido e cheirando mal, entra no salão e fica indeciso olhando Cláudia, alguém se aproxima dele e pergunta em voz alta se ele não errou de endereço, se apressando em expulsá-lo. Mas da mesa dos autógrafos Claudia levanta a cabeça para ver o desconhecido ali sujando o viço de sua festa, vendo a seguir seu defensor anônimo encorajado por seu olhar pegar o intruso pelo braço e seguir conduzindo-o para uma saída.

Com a cabeça voltada para a escritora o homem segue sem contestar, no trajeto olhando também para ela em uma súplica muda. Mas então a voz de Claudia soa, mansa, mas imperativa, pede que soltem o homem e o deixem se aproximar da mesa.

Timidamente, com passos recolhidos ele vem, se posta diante dela sem falar e ela pergunta-lhe se ele sabe ler. O homem faz um gesto com a cabeça afirmando que sim e ela, sem dizer mais nada pega um dos exemplares, autografa e estende para ele que pega ávido, e sem agradecer se vai, feliz olhando a capa do livro e alisando, porém pára na porta e olha para trás, para todos, para ela, e desaparece oculto pelas paredes.

A recepção continua, muda, interrompida, até que alguém timidamente começa a bater palmas, e mais alguém, e mais alguém, e todo o salão explode em aplausos. Estrela Brasileira de norte a sul...

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