terça-feira, 31 de maio de 2011

EM QUEM DEVEMOS ACREDITAR, AFINAL?

EM QUE DEVEMOS ACREDITAR AFINAL?


Pasmem todos os que não se ligam em notícia, mas em apenas menos de seis meses o nosso tão sofrido e pobre Brasil faturou exatamente a exorbitante quantia mais de seiscentos bilhões de reais em impostos. E a mesma televisão que nos dá esta notícia, anuncia também em palavras de políticos que o Brasil não tem verba suficiente para os gastos públicos como saúde, educação, saneamento e outros devidos benefícios para quem paga por tudo isto.
Em um quadro Michel temer diz que estamos saindo do buraco, que breve não haverá mais miseráveis no Brasil, em outro a seguir o Jornal Nacional mostra como vão atrasadas as necessárias obras de urbanização e modificações para o esperado ano 2014, ano da copa, ano onde nosso pobre Brasil tem que mostrar que é rico. Quanto desencontro de notícias ou será assim programado, proposital e a fim de confundir mais a nossa cabeça? E qual será a verdade de tudo isso senão o roubo desse dinheiro, o uso indevido, ou seja, como gastam para não ter como saldar compromissos.
Os aposentados da Varig desassistidos pelo Aérus esperam a mais de cinco anos por uma solução que custaria aos cofres do país se, como direto responsável que foi do impasse tivesse que pagar, menos de três bilhões somente, três bilhões por ano quando o Brasil recebe em seis meses mais de seiscentos bilhões de reais. E a solução não sai, protelada pela AGU enquanto os prejudicados morrem. E a sacanagem continua, sem freio, sem coibição de ninguém, somente falas e falas, mas nenhuma ação.
Outros gastos, a julgar pelas estimativas citadas pelos próprios informantes demonstram ser menos de cem bilhões ao anos para um Brasil justo e melhor, mas o Brasil não tem dinheiro, fatura em imposto cem vezes mais e não tem dinheiro. E para onde vai tanto dinheiro se não volta para nós, em nada, só em promessas que nunca se realizam?
Não dá mesmo para compreender a nossa política, o nosso governo, o nosso informativo ou noticiário. Ou tudo é pura mentira como são mentiras tudo o noticiado, um os cofres das ilhas Cayman e dos bancos suíços estão abarrotados com o que fatura o Brasil, só que em nome de terceiros.
Aos meus setenta anos de ouvidos a patifarias nunca defrontei com tantas como agora, onde parece que a sede de poder e de dinheiro tornou-se uma obrigação dos brasileiros, daqueles que os tem, daqueles que os almejam, daqueles que os protegem, daqueles que nos enganam porque se já não os possui, fatalmente atrás deles também andam.
Em quem devemos acreditar, na soma mostrada em um marcador na telinha, no locutor que informa, nas desculpas que nos dão os responsáveis por nosso bem e moral, ou na voz do coração que a cada dia que passa nos amedronta com o Brasil do amanhã, Brasil dos nossos filhos crescidos no meio da patifaria e sofrendo com ela, que certamente amanhã talvez irão assim se defender. O Brasil de amanhã vai ser dos infantes de hoje e pela escola que recebem dá para se imaginar o que será.
O que sei é que justiça divina anda ausente do Brasil, terra de corpo fechado parece, até contra Deus.

Por Jorge Curvello
(Texto em breve, em voz e imagem, postado no Youtube).

QUE MUNDO É ESSE QUE SEDUZ, APRISIONA, E MATA

Que mundo é esse em que vivem os bem sucedidos, as celebridades, aqueles que buscam fama ou com ela se iludem e deixam dominar, mundo cruel que ao se encontrar, fascina, faz querer mais e depois, mata, faz desaparecer grandes estrelas, grandes astros, heróis e quem sempre deveriam existir por eternidades por trazer alegria, romance, fantasia, orgulho a milhões de seres humanos tornados seus fans? Mundo estranho o da ilusão que cansa, extingue, deixa ficar vazio o que deveria estar cheio, mundo dos bem sucedidos que nunca provaram a miséria e se ela se lhes ameaça nesse mundo naufragam. Mundo soturno que ronda os que a fortuna almejam, se lhes a dá de graça para depois tomar no nada em que lê ela se converte porque ela já não mais importa na angústia do nada mais ter ou desejar que o dinheiro não compre e nesse mundo descobre a verdade do nem tudo.
Falo e pergunto do mundo dos fetiches, do sonho impossível que é o da plena realização porque ela jamais se completa em ninguém, falta sempre um pedaço, e nesse mundo é esse o pedaço que destrói, faz procurar por caminhos sem volta, dor e saudade dos que ficam e paz dos que se vão. Que mundo é esse que leva artistas famosos a destruir o que construíram, leva herdeiros a se matarem para depois de vencer a desdita encontrar a solidão dos desacompanhados, que é a pior de todas, leva imaturos sequiosos a se entregarem sem se prevenir e sem defesa porque ela, afinal, não há?
É nesse mundo que sei por testemunhas morar a felicidade dos felizes, e nesse mundo traiçoeiro que se esconde a perfídia da lentidão do descobrir e quando ela se mostra nada mais há para salvar, é nesse mundo cruel fantasiado de brilho, luz e alegrias que baila no limbo do desconhecimento de cada leigo o perigo do vício e da morte. È nesse mundo maldito que não deveria existir que está a sepultura da felicidade e ela reluz enganando até atrair para si a próxima vítima. E è nesse mundo controverso que mora a certeza do fim iludido de começo.
Tudo nesse mundo medonho começa com uma simples ilusão de diversão, de onda que vai passar, de necessidade para cumprir compromissos, de companheiro para um inexplicável vazio, e são tantas as explicações. Mas o final é sempre o mesmo, sem tempo de arrependimento porque ele não consegue ali penetrar. Tem sido assim por tempos e tempos, épocas e épocas, sempre e mesma história e mesma trajetória, mesmo final e mesma tristeza, não dos que se foram, mas dos que ficam para chorar a ausência e a lástima do haver algo bom se acabado. Ou não foi assim para tantos como Billy Holliday, Jimmy Hendrix, Marvin Gayer, Elvis Presley, Elis Regina, Kassia Eller, gente que jamais deveria morrer, esses e tantos outros da calçada da fama? Então não foi assim para grandes homens de negócio, grandes figuras do jet set, e todos tornados vítimas dos lugares onde a malvada e enganosa fama abre o portão desse mundo mal, perverso, sedutor e cruel, o mundo das drogas?
E para ele vão também os fracos de espírito movidos pela necessidade de emoções sinceras carinho, amor, enfim um naipe de sentimentos que temos para trocar, mas quem nem todos alcançam e se alcançam nunca sabem entender. E para ele vai quem quer mais do que a realidade e saber enfrentá-la sem se deixar abater, seja no universo dos ricos, dos famosos ou dos pobres, porque a droga não tem sentimento, é apenas mais um mal do nosso mundo criado por nós mesmos, os humanos.

Por Jorge Curvello

PEDIDO DE SOCORRO

À
Prefeitura de Niterói

Prezados Senhores:

Venho urgentemente suplicar de V.Sas. atenção ao meu pedido, pois TRATA-SE dA saúde pública e ameaças provocadas pelo mosquito da dengue, ratos, baratas, cobras, cupins e outros inimigos da saúde da casas e pessoas.
Moro na localidade de Várzea das Moças, distrito de Niteroi local considerado regional devido à presença de mata virgem. No local corre um pequeno riacho que se transforma em vala fora de dias de chuva forte, com acúmulo de lixo e detritos naturais, mas que quando chove enche, transborda e invade nossos quintais provocando danos e perdas, com água fétida misturada a esgoto, perigos de doenças inclusive a Lepstoespirose.
Tal vala é constante e diária ameaça a nossos filhos, animais e a nós mesmos, sempre obstruído por crescimento de mato e lama, empoçando em partes, causando odores e desconforto fora às ameaças citadas.
Peço encarecidamente que mandem um serviço de drenagem para todo a trecho onde esse córrego corta a área residencial e que não é tão extenso, fácil de cuidar e dragar.
Estou com setenta anos, já por duas vezes fui infectado pela dengue e no momento vejo crianças e adultos com a doença(inclusive um neto), de nada adiantando o cuidado de bombeiros nas residências quando o riacho passa logo atrás delas e é o grande foco.
Imploro a caridade de quem ler estas linhas, homem ou mulher, sabendo que se desprezá-las ou simplesmente encaminhar por demorada burocracia existente, vidas poderão ser ceifadas e estão perenemente ameaçadas, sendo urgente, pois ás providências a tomar.
Peço implorando que nos mandem socorro e nos livrem dessa ameaça constante de 365 dias ao ano.
Esperando que ainda haja humanidade e bom coração nos órgãos dessa prefeitura, confio aqui este meu pedido que seguirá para V. Sas assim como para blogs e todos os meios de comunicação pública possível devido à urgência de providências.

Ainda vivo, 30 de maio de 2011,

Jorge Machado Curvello
CPF 04462807715 – RG 21444955
Tel 21 2608 8683

domingo, 29 de maio de 2011

AOS AMIGOS QUE SE FORAM

Quando Charles de Gaulle disse que “O Brasil não é um país sério”, e Pelé “Brasileiros não sabem votar”, ficamos indignados. Infelizmente, eles estavam certos. Este é o País do faz-de-conta. Fingimos que a miséria está sendo debelada; “Que nunca neste país” tivemos um desenvolvimento extraordinário, que a nossa música é de melhor qualidade e inteligência que a dos outros povos. Que nossas mulheres

são as mais belas, que a pedofilia não é alarmante como dizem. Que o machismo está acabando, pois as mulheres estão tendo uma liberdade igualitária à dos homens, que não temos preconceitos com as minorias, que não temos atitudes discriminatórias com os negros. Mentira! E mentimos tanto que acreditamos que a nossa mentira é a verdade. Faz-de-conta que não pagamos tantos impostos, faz-de-conta que não estamos sendo lesados pelos corruptos, faz-de-conta que a justiça tarda mas não falha. E vamos às mentiras e dissimulações. Dizem: - olhemos para o futuro. Merda! EU NÃO QUERO FAZER- DE- CONTAS! Somos o resultado do nosso passado. E o passado não se esvai da nossa consciência facilmente. Não vira fumaça como fizeram com a Varig. Não existe passar uma borracha e apagar mais da metade de nossa existência. Nunca esquecerei o que fizeram conosco. Podem abrir a caixa do cofre da vergonha e despejar todo o dinheiro que lá existe em cima de mim, porém, não vou fazer-de-conta que neste mês de maio estamos chegando à triste cifra de 571 mortos. Eles fazem a diferença. Faleceram desiludidos com tudo. Quem substituirá o bom humor e caráter do Reinaldo Teixeira? E as peculiaridades dos outros 570? Não seguirei citando nomes, para não me emocionar mais do que estou. E dos vivos que estão pregados à cruz que há na Terra só esperando a piedade do momento supremo de acenderem velas? Desculpem-me os crédulos, “Deus não é brasileiro”.
Ó mês de Maio! Mês dos amigos que se foram. Não pude mostrar-lhes o ninho que as andorinhas fizeram no meu telheiro. Vocês não viram a languidez do corpo e do olhar que trago comigo, do gerânio lilás que desabrochou em minha janela tentando consolar-me. Eles são apenas gerânios e lilases, e isto ainda lembra vocês. Não terei nem a alegria de dizer: - Morreram com dignidade. Não pude contar a vocês as lágrimas que chorei de saudades e de indignação. Ofereço apenas as nossas lembranças e uma “Canção com lágrimas.”
Título e Texto: Ever Botelho*, 29 de maio de 2011

Ever Botelho
Ex-comissário de voo na Varig, escritor e artista plástico

SÁBADO A TARDE NUM LUGAR CHAMADO NADA

Moro infelizmente em um bairro de São Gonçalo que deveria se chamar Nada porque nada tem e nada acontece de novo. Hoje sábado, sem ter mais o que fazer, peguei minha bebidinha para não pagar supérfluo e fui me sentar em um botequim, esperando ver gente porque na minha porta só passa carro, rato e gambá. Sentado, comendo biscoito queijinho Piraquê e bebendo cuba libre passei a ver a nada a volta de mim e eis no que deu:
Logo que me sentei um coroa superchato começou a conversar comigo. Primeiro perguntou se eu só tomava coca-cola porque viu uma garrafinha sobre a mesa, e foi logo criticando a coca cola, depois que soube que a misturava com o Rum, criticou dizendo que Rum com coca cola era horrível, depois criticou meus gostosos biscoitinhos de tira gosto, meu cabelo de careca, o tempo, o barulho dos carros, a música que tocava, enfim uma torrente de críticas que somente terminou quando foi embora levado por outro chato para criticar em outro bar.
Não demorou muito um velho fuska parou, encebado de lama, e dele desceu Checo, um homem bom quando não entorna muito. Checo nem podia ficar de pé de tão bebum e eu tive que interromper minha bebidinha com biscoitinhos para procurar quem o trouxe, o motorista do fuska que estava comprando algo no mercadinho pobre do lugar. Deu trabalho recambiar Checo para o fuska, mas conseguimos e lá voltei ao banco do nada.
Dois homens negros de aparência honesta escutavam de carona as músicas chatas que uma coroa viúva alegre colocava na máquina, e toma de Chitãozinho e Chororó, Banda calypso, Pagode, funk e uma esteira emendada de melodias do subúrbio. E meus ouvidos? Coitados.
Mas não fiquei sozinho por muito tempo porque logo pediu pra sentar em minha mesa um conhecido e começou a monologar sacanagens, falando do pau dele, do charme dele, da pegada dele, enfim uma cantada indireta que machucava. Distraindo pra não ouvir abobrinhas vi passar duas mocinhas na calçada usando roupas sumárias, shortezinhos e top. E o frio comia no lugar, mas elas...
Dois cães vadios e não muito distante ladravam e corriam atrás de pneus de carros, quase sendo atropelados... Que horror e suspense era aquele meu Deus? E no balcão o bicheiro do lugar reclamava da corrupção, Que ironia!
Alguém passa e grita. SEU JORGE! É minha vizinha do lado espalhando para todos o meu nome discretamente. E eu, pobre de mim, me afogando no rum com coca cola no meio do tudo ou nada.
Um cara desconhecido chega e fala com todos como se conhecesse todo mundo, fala de uma briga no outro botequim ocorrida na véspera e continuando falando vai embora. Que Briga? Bobagem... Botequim cheio, muito funk, muita droga, uma igreja evangélica do lado e enfim a polícia fechando o local. No céu até as nuvens estavam contra mim, ora chovia, ora fazia sol e o sábado continuava sem nada.
Cansado de tanta "novidade", afogado em "cultura" tupiniquim, paguei a coca cola, peguei minha sacola, meus biscoitinhos e voltei para casa.
Êta sábado mais animado. Pensei. E dizer que viajei mundo, morei em Copacabana, fui comissário internacional da Varig para o Aérus a quem confiei minha previdência privada e melhor futuro de aposentado, fazer isto comigo.

Por Jorge Curvello

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A QUASE SUICIDA QUE NÃO FOI.

Chamava-se Gertrudes e era uma brasileira, apesar de ter nascido de pais portugueses, ele o pai e como ela dizia, era de trás dos montes, algo como sendo fronteira com a Espanha e ela, a mãe, nascida e criada na Ilha da Madeira. Mas Gertrudes nasceu brasileira de corpo e alma, bonita e com olhos de uma cor, diga-se, bastante diferente, olhos verdes, mas como a cor das garrafas.

Gertrudes não gostava de fados, gostava de samba, de carnaval, de festas e dança, não apreciava caviar e preferia uma boa lingüiça frita, o que no termo exato para uma definição pessoal, incluía comportamento, gosto, preferência e uma série de coisas que molduram o caráter de alguém. Nasceu bastante pobre, mas tendo o que comer, os pais naufragados no Brasil para onde vieram pensando melhorar de vida, dois velhos xucros, ela lavadeira e ele carroceiro, sem que, no entanto os quase dezessete filhos que a portuguesa pariu tivessem que trilhar a mesma trilha. Desses todos somente seis vingaram e somente os mais novos porque os demais, estranhamente morriam aos sete anos de idade, vítimas diagnosticadas cientificamente por doenças e espiritualmente por uma apanha de um velho com um cachorro que no período mais crítico da doença, lhes surgia como um fantasma, assustando, mas somente visto por eles e lhes dizendo vir buscá-lo.

Gertrudes cresceu com responsabilidades de dona de casa mirim, tendo que ajudar a mãe em tudo que ela era induzida por terceiros a fazer, lavar, passar, costurar e outras de ajudante ou cuidando da casa. Os demais irmãos vivos, mais velhos que ela dez anos, foram se casando e trazendo as mulheres para dentro da casa da mãe já viúva, aumentando a família e as atribulações da rebelde Gertrudes que se via como gata borralheira. Mas ela era guerreira e não se deixava intimidar, freqüentemente sendo espancada cruelmente pela mãe por isso, com selvageria até, mas nunca se dobrando. Apanhou muito, de vara, pau e até caixote, sofreu muito, mas sorriu muito também em suas fantasias de menina pura como eram as meninas antigas.

Crescida Gertrudes casou com u homem por amor, mas não dormiu com ele na noite de núpcias, foi dormir com sua mãe porque ele na festa ficou de agarras com amigas prostitutas, se casou por amor com um único homem à vida toda, o primeiro namorado e ultimo, que se foi primeiro do que ela em muitos anos à frente. E foi mas ou menos depois de casada que a idéia de suicídio surgiu, se tornando para ela quase que uma obsessão, um suicídio sem causa.

Gertrudes adorava o mórbido, sempre foi mulher de querer ver de perto acidentes com vítimas, brigas, suicidas e tudo que relacionasse com a morte. Nada tinha de louca ou desregulada, mas ela era assim e a idéia de morrer se suicidando tomou força quando ela, ainda mãe de dois filhos dos três que teve, foi ver um suicida pendurado em uma árvore por uma corda no pescoço, achando bonita sua fisionomia de enforcado. A partir daquele dia começou a planejar para ela o mesmo destino, escondida do marido que nada desconfiava.

Chegado dia Gertrudes comprou uma corda e escondeu dentro de um fogão de lenha desativado, esperando cair à noite para no silencio da madrugada ir ter com seu louco sonho. Porém o destino não a deixou prosseguir, interferiu fazendo que por um acaso o marido descobrir a corda e, já meio inteirado de sua l maluquices a interpelar seriamente, avisando que ela até podia se suicidar, mas que ele não a enterraria e ela iría como indigente.

E decepcionada e já ocultamente planejando achar outro meio para completar sua fixação, Gertrudes foi dormir, sonhando então com uma Nossa Senhora das Graças que tinha em quadro na parede do quarto, a santa deixando a moldura e vindo até sua cabeceira, colocando a mão em sua cabeça e dizendo-lhe:

---- Afasta de ti este pecado minha filha. Vieste ao mundo para uma longa estrada e terás que trilhá-la até o fim, embora muito ainda tu venhas a sofrer com isto.

E a santa desapareceu, fazendo Gertrudes acordar e daquela noite em diante nunca mais pensar em suicídio.

Gertrudes que nasceu em 1901 viveu até setenta e quatro anos, uma vida sofrida e alegre ao mesmo tempo, passou ilesa pela devastadora gripe espanhola, depois pela Asiática e envelheceu conservada na fisionomia. Na vida sofreu ameaças do coração, tirou dois cânceres do ovário, sofreu e se curou da diabete, venceu uma quase mortal infecção nos dentes, sofreu muitas dores, desilusões, desgostos, mágoas e muitos outros sofrimentos entre a viuvez, mas a todos resistiu e superou, nunca se deixando abater. Gertrudes chegou a ser quase rica, voltou a pobreza e foi na vida um exemplo de coragem e perseverança, assim como também uma sempre animada carnavalesca e festeira, brincou muitos carnavais, foi a muitos bailes, envelheceu desfilando como baiana da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, passou por um AVC que lhe deixou completamente paralisada, mas que retornou aos movimentos só restando pequena artrose nas mãos, e morreu finalmente anos depois vítima de um enfarto do miocárdio cujo sintoma escondeu a fim de não ser socorrida, acho que assim conseguindo finalmente seu objetivo, o suicídio, e talvez cansada de obedecer ao que a santa no sonho lhe pediu.

Gertrudes foi mulher guerreira que sem ser lésbica brigava com homem, enfrentava faca ou revolver de peito aberto, batia em quem lhe ameaçasse a prole, por ser autêntica e segura de si era mal falada e bem falada no bairro todo, mulher que discutia em nome de seus direitos, falava bastante palavrão, era dócil com amigos e cruel aos inimigos, mas nunca guardando rancores. Gertrudes morreu sem chorar, sem reclamar, sem pedir socorro, Gertrudes era a minha mãe.

Por Jorge Curvello

terça-feira, 24 de maio de 2011

FILOSOFIA DE MENDIGO

Não se trata de filosofia de mendigo, mas de a filosofia de um pedinte com quem cruzei em uma porta e loja no centro de Niterói.
Ele estava sentado, parecendo ouvir música provinda de um aparelho de som da loja quando olhou para mim e fez menção de falar. Eu já estava retirando uma esmola do bolso quando sua voz soou e me espantou.

--- Não precisa. Eu não estou trabalhando agora, somente ouvindo este cantor.

A voz de um cantor moderno berrava na calçada e eu perguntei.

--- Gosta dele?

O homem respondeu.

--- Até que gosto, mas não canta com sentimento, aproveita a onda somente.

Fiquei curioso com o mendigo analista de cantores e perguntei.

--- E para você, quem canta com sentimento?

Ele sorriu.

--- Ora, muitos... De ontem e de hoje, ainda.

--- Mas não depende da música?

Perguntei querendo confundir.

--- Não, vem do cantor, é rótulo.

Fiquei mais surpreso ainda.

---- Como assim?

Ele se ajeitou na calçada e recolheu um cobertor caído a seu lado.

---- Tem estilo próprio, canta sempre e todas as musicas que canta, se imaginando nas palavras da canção, vivendo a história, se me entende.


--- E quem, por exemplo, canta assim?

-- Lhe dou três exemplos e todas três cantoras de estilos diferentes.

--- Quem?

--- Joana, Alcione e Ana Carolina.

--- E como é que elas cantam?

Ele riu de minha pergunta idiota.

--- Usando a voz... Mas veja se não concorda comigo: A Joana, em todas as músicas românticas que canta, parece uma mulher fina e de trato envolvida com um sujeito de trato, ou mais novo ou da idade dela. É como se cantasse para um amante, alguém que conhece ou conheceu e pelo jeito, sempre um sujeito de nível.

--- Já a Alcione? ---- Adiantei buscando explicação. --- Como esta demonstra.

--- Ora, esta demonstra sempre estar cantando para um amante, do gênero cafetão, garotão sempre mais novo e bandido, e ela se passando por mulher usada, desprezada, mulher vadia.

Fiquei surpreso, batia com minha opinião o que ele dizia, então continuei.

---- Boa essa... Mas vamos a Ana Carolina, o que esta demonstra sempre.

--- Mulher que gosta de mulher, pode até se a letra diz, usar o sujeito no masculino, mas é como se cantasse para outra mulher, e toma de sentimento na intenção dela.

Tornei a querer confundir.

--- Êpa, espera aí... Você parece querer dizer que a Ana Carolina é sapatão.

--- Eu somente não, todo mundo diz que é e a Alcione e a Joana também. Mas isso não importa aqui, o que importa é o como sinto as cantoras cantando, assim como falei. Você não acha assim?

Fiquei embaraçado, disfarcei esticando um Real para ele que pegou e guardou, depois recolheu suas coisas e se levantou, dizendo.

---- Deixe-me ir, agora e hora de ir para a porta do Ricardo Electro.

--- Porque, o que tem por lá agora.

Perguntei curioso esperando outra resposta da que ele deu.

---- Ali dentro dessa loja o relógio marca quase seis horas da tarde e por lá, no Ricardo Electro sempre tocam a Ave Maria as seis da tarde. Eu jamais vou deixar de ouvir, é a música que mais gosto.

E ele se foi sem me olhar, me deixando curioso de seguí-lo para ver se realmente ainda toca em algum lugar, Ave Maria.

Por Jorge Curvello

domingo, 22 de maio de 2011

VARIG - O OCASO DE UMA ESTRELA

Não vou discutir quem surgiu primeiro se a Varig ou a Cruzeiro do Sul, ambas querendo o mérito nos anos sessenta, o que sei é que ao me candidatar para ser um comissário de bordo da Varig em 1965, suas instalações no Rio de Janeiro ainda eram precárias e a seleção feita dentro de um tosco hangar no aeroporto Santos Dumont. Porém, ao retornar na tentativa e conseguir aprovação no ano de 1970, o que encontrei foi uma Varig sólida, capaz e inteligente, dona de grande know how de aviação comercial e majoritária no país.

Eu e a escritora Claudia Vasconcelos pertencemos à Varig, atuando no mesmo cargo por mais de vinte e cinco anos como comissários de bordo e hoje ambos aposentados somos escritores, ela diga-se, merecidamente reconhecida através do livro Estrela Brasileira, com lançamento para o próximo dia 27 de maio, as dezenove horas na Livraria Travessa Shopping Leblon, e eu continuando no anonimato sem reclamar. Porém ambos certamente vimos a Varig com olhos diferentes e assim foi para também tantos que nela trabalharam, sem, entretanto nenhum de nós poder negar que a Varig foi uma das maiores empresas de aviação comercial do mundo.

Quando comecei a voar, encontrei uma empresa estruturada, bem dirigida e voltada unicamente para o progresso, crescer e vencer, sabiamente controlada por homens e mulheres dignos dos cargos que ocupavam e todos eles com devoção de amor pela empresa acima do compreendido. Meu curso de comissário de bordo foi algo grandioso como uma faculdade, e eu que já tinha carteira de vôo podia comparar a diferença do curso Varig entre todas as demais congêneres. A Varig mantinha méritos e nome no Brasil e no exterior, méritos e nome merecidos porque estava sempre se esforçando para melhorar, sempre voltada a conseguir o título de melhor empresa mundial, na época pertencente a Swissair. Aos seus funcionários ela assistia desde o pagamento em dia do salário justo até a criação de uma fundação, a FRB que levava o nome do fundador Ruben Berta, criada com única intenção de ver assegurada à assistência aos funcionários da empresa, na ativa ou aposentados. Existia o serviço médico, áreas de lazer, descontos conveniados em hotéis, clubes, restaurantes, enfim locais os quais seus funcionários pudessem desfrutar. Nos anais da Cia tudo era limpo, organizado, asseado e funcional, com refeitórios, confortos de salas de espera, locais de trabalho, enfim um primeiro mundo dentro do nosso iludido país. Seus aviões sempre bem cuidados iam se modernizando a cada surgimento e a empresa tinha o melhor serviço de bordo nacional e de atendimento ao passageiro tanto a bordo como nos aeroportos e agências, e em tudo existia aquela preocupação única voltada para o conforto e segurança de quem mantinha viva a empresa. Todos nós e sem exceção, éramos gente sempre instruída ao bom comportamento e capacidade de operação tornando a Varig nos anos setenta de fato uma potência.

Porém não há sol que sempre brilhe e estrela que nunca se apague e a Estrela Brasileira começou a se apagar quando seus diretores, depois da morte de seu fundador e patriarca o senhor Ruben Berta, tomaram nas mãos o futuro da empresa, demorando anos, mas conseguindo então, destruí-la.

Tudo começou quando, ambicionando demais ela começou a deixar de lado a velha teoria de que somente os capazes, os bons, trabalhavam para ela, aceitando mais pela necessidade do que pela capacidade novos empregados e a chegada do primeiro Jumbo, o Douglas DC-10, foi o marco dessa mudança. Depois foram as mudanças internas dentro das diretorias e no serviço de bordo, a opinião de que seria melhor se dirigido se por gente do meio, ou seja, aeronautas foi outro grande erro cometido. E lá se foram os bons dirigentes na troca pelos mal preparados.

Aeronautas eram treinados para voar (e na Varig, espetacularmente treinados), nunca para serviços burocráticos e a queda começou. E nos anais das chefias a coisa também degringolava a cada ano com surgimento de novas direções, seqüências e outros afins, coisa que antes bem dirigida e cuidada funcionava, mas já não produzia mais como antes, coisa que não mais fiscalizada dava chance ao bandido. Lá se foram indo embora os hotéis da Varig, os brilhos e os viços, o charme do serviço de bordo, o teor da anfitrionagem, e finalmente o seu mais precioso bem de existir, seus aviões, agora endividados e obrigados à devolução.

E se pergunta o porque disso tudo? Simplesmente porque quem agora vestia a camisa da Varig não mais a idolatrava, amava ou queria seu progresso absoluto, mas sim apenas gozar de suas vantagens e ambicionar seus bens. Seu verdadeiro e fiel amante, o senhor Ruben Berta estava morto e não havia mais a quem temer.

Surgiram então as divisões Varig e nos céus a estrela brasileira antes única e soberana se fragmentou em várias Varig, todas marcadas para afundar por ambições e divergências.
E o caos se deu com o apagar da estrela e de todas as suas ramificações, algumas frações ainda tentando brilhar, mas logo esmorecendo pelo peso das dívidas acumuladas e a se acumulando até que finalmente o breu se fez e no universo da Varig só restou o nome na saudade.

Triste fim de uma empresa que merecia vida longa, além do que brilhou, triste fim de seus funcionários hoje desprotegidos e entregues a desolação e a angústia, naufragados pelas mãos dos ambiciosos e corruptos, triste final da Estrela Brasileira.

A história desse ocaso daria um novo livro se pesquisada junto a todos que viveram sua glória e derrota, mas isso seria desonesto para quem no momento brilha como ela através de sua história contada como viveu, a minha amiga Cláudia, para quem sinceramente desejo grande futuro como escritora e para quem devo louvores pelo tempo de nossa atuação dentro dos aviões de sua Estrela Brasileira.

Comissário Curvello


Agora também o livro - VARIG - OCASO DE UMA ESTRELA em www.amazon.com/jorgecurvello

sexta-feira, 20 de maio de 2011

APOSENTADO DO AÉRUS - A VERDADE ATRÁS DO MURO

Quando tudo começou, nós, trabalhadores da Varig, todos acreditamos. No Aérus, uma entidade criada para assistir com aposentadoria complementar do INSS a todos os funcionários que no princípio foi de livre escolha, mas logo se transformou em obrigação de pertencer, ou então não havia a vaga no emprego. Quando tudo começou, muitos de nós pagamos fortunas do salário mensal para adquirir esta segurança, alguns de nós tendo que sofrer cortes no orçamento particular em nome do futuro assegurado.

Éramos mais jovens, e na ativa, vivendo uma vida confortável mesmo pertencendo a uma classe que arriscava a vida e a liberdade particular em nome da profissão. Em aviação comercial é assim, hora de começar a trabalhar, mas nunca hora de terminar.

Enfiávamos confiantes nossos corpos dentro de aviões, sem saber se chegaríamos ao destino porque na operação de uma máquina tudo pode ser surpresa. Outros trabalhando em terra sentiam a pressão de lidar com o público, enfrentar tempo ruim consertando aviões, carregando aviões, dirigindo carros de apanha, esforçando mente e corpo no serviço de carga, enfim em todos os cargos uma empresa aérea necessita devoção. E todos éramos devotos, amávamos a Varig, e o que ela nos dava, a grande maioria com salário justo adquiriu bens, montou padrões, passou a viver uma vida nunca imaginada enquanto trabalhou, e se aposentou seguro por um órgão que, traiçoeiramente esperava a hora de nos abocanhar. É como dizem, nos acostumamos a comer caviar e sem suspeitar que logo isso nos privariam totalmente, chocantemente e sem piedade nenhuma.

No princípio éramos jovens, confiantes e despreocupados acreditando na força e poderio da Varig, a melhor e maior empresa aérea brasileira, nunca nos preocupamos na verdade com quem fiscalizaria o Aérus ou a Varig, apenas confiávamos e entregávamos nosso dinheiro para cofres suspeitos, salvo bem pouco de nós e assim mesmo discordante com a quantia a pagar para isso. E a bandalheira começou com o Governo negando repassar dinheiro para a Varig (um acordo de tarifas de passagens de vôos nacionais), ela não repassando dinheiro para o Aérus se sentindo lograda e preocupada em saldar dívidas que aumentavam dia a dia. Mas dívidas feitas por quem? Seus diretores. E nessa ciranda o Aérus gostando, calado sem nos avisar a tempo de poder tirarmos dele o valor de nossa carteira nos planos de seguridade. E foi assim até uma falência nada convincente depois de que o Governo solicitado de socorrer usou estas palavras na boca de um de seus ministros ---- Para a Varig? Não!

Confiantes ainda e recebendo depois de aposentados mais de oito mil continuávamos esperançosos de ver a crise da Varig terminar, mas foi ela quem se fragmentou estrategicamente, deixando para a parte mais fraca a dívida com seus funcionários e o Aérus, as demais frações sendo negociadas com terceiros. E no dia 12 de abril de 2006, coincidentemente dia do meu aniversário, recebi a notícia de que o Aérus iría parar de nos complementar, nos levando a bancarrota. Dormi recebendo um salário mensal de mais de R$5.000,00 e acordei recebendo outro, apenas R$985,00 que era o que o INSS, outro ladrão, me pagava como benefício.

E agora, quem iría pagar minhas contas, meus débitos adquiridos com bancos, cartão de crédito, dependentes, enfim minha vida confortável que paguei para ter? Ficamos sem respostas e recebendo apenas do INSS... Lamentamos profundamente.

E lá se foram passando os anos, quase seis de protestos, passeatas, pedidos ao Governo, reuniões, julgamentos que não são obedecidos, mortes por falta de condição de vida, desesperos por falta de poder viver uma vida decente, venda de bens, pedidos de ajuda a familiares, entrega de todo o conforto adquirido com nosso suor, nosso trabalho, nada por prêmio. Voando muitos de nós levaram ao mundo a bandeira brasileira e sua simpatia e hospitalidade, em terra a Varig proporcionou avanços no turismo e ajudou a encher cofres, cofres que para ela se fecharam misteriosamente. E ainda se fala em justiça, mas onde está? Hoje, velhos cansados da luta e da espera vamos morrendo, satisfazendo assim os prazeres de quem, por trás do muro goza usando nosso dinheiro, que não devolve, quem se diz interditado e assim está, pelo governo que se nega a nos ajudar e protela judiciais decisões. Diferente de outros planos que faliram, o do Aérus é a pura mentira atrás dos muros das combinações e indecência, um triângulo estudado e diabólico formado por ele mesmo, nossos governantes e a própria Varig na sua banda podre.
Surge agora na pessoa da ministra Carmem Lúcia uma luz no fim do túnel, e esperemos que ela também não se apague e nos traga de volta a nossa dignidade roubada.

Pelo comissário de bordo aposentado

Jorge Curvello

BRASIL FALIDO

Até quando nós brasileiros vamos agüentar mentiras, promessas não cumpridas, miséria, abandono e até desacatos? Até quando meu povo vai sofrer sem abrir a boca em protesto federal, saindo as ruas, se organizando para derrubar o sistema corrupto e mentiroso sob o qual hoje vivemos? Até quando veremos tanta sujeira e descaso sem que alguém levante a voz, de o corpo à espada, o sangue ao pote contra uma sociedade que se acostumou a viver pacífica e a tudo permitindo sem correção? Até quando?

E enquanto não o povo continua sofrendo, humilhado, enganado, pagando o preço por ter confiado na palavra de quem não merecia, se deixando levar pelo comodismo que sossega, permite e consente.
Entre tantos abandonos e falta de cuidados sempre noticiados, surge um fato novo, e vem da urbanização de uma cidade de pobres, de espírito, de coragem, e de dinheiro. A cidade de São Gonçalo, região do Rio de Janeiro que parece caminhar como tartaruga no mentiroso alardeado progresso. E o nome do descalabro chama-se Bromélia.

Bromélia é uma planta ornamental, bonita, mas perigosa quando o assunto é proliferação de seres nocivos. Nela as formigas encontram abrigo e alimento, mosquitos depositam seus ovos para procriar, larvas engordam e eclodem liberando novos seres mortais, assim como o mosquito transmissor da dengue que já duvidamos seja somente a espécie Aedys Egipt. Desde que a praga começou a luta contra a epidemia pede extinção dessa planta em locais urbanos nos foi aconselhada de exonerá-la de nossos quintais, e se conservada em vasos, que seja cuidada contra o natural depósito de água limpa que exerce em seu miolo. Bromélia bebe água pelo miolo e não pelas raízes.

Mas eis que agora uma prefeita autoriza ao setor parques e jardins municipal que bromélias sejam plantadas em uma praça, em larga área e onde possivelmente pelo sistema deficiente jamais haverá o controle de mata mosquito, ser fantasma que pouco aparece hoje na sociedade. E ao reclamar com um biólogo a serviço da procura e saneamento nos bairros, ele me informa que o caso foi parar nos anais das discussões, com a mandante exigindo ficar as plantas onde estão e os contrários pedindo o desmatamento. E enquanto eles brigam o povo fica ameaçado de proliferação de mosquitos da dengue.

O mesmo homem da prefeitura me informou que se está onde está trabalhando, para ali foi destacado apesar de sua capacidade maior somente porque exige tudo nos eixos, que sua palavra incomoda e como castigo assim lhe designaram para longe de sua função principal, uma persona não grata no meio. Coisas que eu sei.

O mesmo me aconselha a ir pessoalmente buscar meus direitos, e eu contesto, não se trata de mim e de minha saúde, mas a de milhares de brasileiros que irão pagar até com a vida enquanto eles discutem. Desanimado dou o exemplo de haver no terreno ao lado de onde moro uma casa vazia e abandonada, com piscina descoberta exposta ao perigo a mais de ano e, até agora nada foi feito apesar de toda a minha reclamação. Coisa que não adianta.

E assim caminha esta humanidade, assim caminha meu país, gente paga pra resolver que imputa prejuízo, desprezo e morte, gente que almeja poder e dinheiro acima da própria dignidade, gente do meu Brasil falido.

Por Jorge Curvello

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O DIA EM QUE O RIO DE JANEIRO CONGELOU

Era domingo e Marta foi dormir cedo porque teria que acordar de madrugada para empreender uma viagem a Canela, cidadezinha do sul do Brasil e lugar onde noticiavam neve miúda caindo. Quando despertou e olhou pela janela viu o cenário da sua Rio de Janeiro completamente branco, igualzinho aos cartões postais de papai Noel,
Incrédula tentou sair para a rua, deixar o prédio onde morava na Vieira Souto, mas não pode ou morreria congelada tal era o frio cortante do vento vindo do mar. Voltou para casa e tentou telefonar para amigos, mas não pode, o sistema estava inoperante com cabos congelados. A solução era ligar a televisão e ela fez isso, vendo então, entre chuviscos porque esta também sentia os efeitos da nevasca cruel que na calada da madrugada atingiu toda a cidade, a catástrofe se alastrando no cenário incomum, branco e cinza de todos os lugares mostrados.
Uma moça bonitinha descrevia o caos, envolta em um capote grosso, mas que não a salvava das agulhadas da intempérie, falando como se ela mesma não acreditasse no que noticiava. Não havia sistema algum de condução, tudo estava parado na superfície da cidade devido ao despreparo para rodar na neve e apenas o metrô parecia estar funcionando, mas impraticável devido aos ocorridos para o lugar. Não havia socorro aos que insistiam lotando as redes de comunicação com suplicantes pedidos, tudo atrapalhado pela súbita invasão da natureza hostil. Um suceder de imagens mostrando locais e situações, atordoava Marta que, enrolada em um cobertor de lá, roia as unhas nervosamente.
Toda a cidade parou, afundou num manto branco sepulcral, neve espessa e fria caída do céu onde jamais um dia isso se imaginou.
Sem ter como socorrer ninguém os hospitais não mandavam ambulâncias e cenas costumeiras dos dias normais agora aconteciam multiplicadas, gente nos corredores, nas salas, na portaria e frente do prédio, sabe-se lá como ali chegando, morrendo de frio e aflição.
Os telefones da Saúde Pública não paravam de tocar e a rede estava congestionada, assim como o do corpo de bombeiros, da polícia, dos órgãos de segurança, enfim de tudo julgado capaz de socorrer ou responsável por isso, sem naquela hora poder levar a culpa.
No zoológico quem trabalhando conseguia resistir ao gelado tentava ajudar os pobres animais desacostumados ao frio, tentando com carvão aceso aquecer jaulas, esgotando tudo que significava estoque armazenado. Naquela área somente os pingüins e um urso polar, sorriam de felicidade.
Nos morros a situação era mais caótica, mães chorando a tosse aumentada dos filhos, a agonia geral de ver água em gelo por todo lado, desde torneiras até no chão, Gente pobre que morava em casa pobre, gente que nunca viu neve a não ser na televisão ou cinema, onde só o branco aparecia, mas não a friagem.
Nas ruas os primeiros corpos descobertos começavam a aparecer, mendigos, garotos de rua, famílias de pedintes sem teto, alguns ainda agonizantes, outros enregelados, gente que não pode alcançar os albergues fatalmente superlotados, corpos de todos os tamanhos, duros e cinzentos abandonados ao faro dos cães vadios. E sempre perto havia alguém chorando ou gritando insultos aos governantes.
Nos aeroportos quando em vez algum avião ainda decolava para o céu cinzento, muralha que impedia o sol de dar uma ajuda aos condenados e não se sabe se levando passageiros normais ou gente fugindo da morte. Mas a situação era desgovernada ali também com falta de muita gente, falta de organização e preparo porque o Rio de Janeiro não é o Canadá ou sequer o Brasil também o é e os brasileiros não levaram isso nunca em consideração, desacreditando que um dia pudesse a vir acontecer. Toda a cidade era um manto branco, espesso, toda a cidade estava em colapso e sem meio de socorro, toda a cidade sofria por nunca acreditar no impossível acontecendo.
Marta olhou o relógio, viu que àquela hora do dia normalmente o sol aquecia a cidade, mas não àquele dia. E enquanto ela começava a chorar com medo de um final terrível todo o Rio de Janeiro afundava em complicações, vendo sua água congelar, sua comida deteriorar nos mercados sem calefação, sua vida dar um nó em poucas horas, horas começada em uma madrugada sem avisos onde uma massa polar deslocada, usuflada por ventos vindos do mar pairou sobre a cidade maravilhosa que começava a se transformar na cidade da morte.
Homens do poder se reuniam tentando achar solução imediata, mas em cada um deles e por tão pouco exemplo de impotência, pairava o medo de todo mundo, o mesmo medo, o do juízo final que nem padres eram mais capazes de enfrentar com coragem. Aquele era o dia da prestação de conta, da conta do nada haver feito ao longo de toda a vida, da conta do deixar abandonado, da conta do não saber lidar com o que era maior, da conta que iría render juros por toda uma época no quem viver verá.
Na televisão a mesma mocinha responsável, que não se sabe como chegou ao trabalho continuou falando, e ela, mesmo sem permissão de texto ou vitrine de leitura falou com próprias palavras, convidando o povo da cidade a rezar.
E foi então que Marta despertou, olhou estonteada ao redor e viu sol tentando pela janela, viu o céu azul lá fora e correndo para a janela ainda meio ofegante viu que a sua Rio de Janeiro continuava intacta, bela, igual e quente apesar de ser inverno.

Por Jorge Curvello
A LUZ DA SABEDORIA


Dia 27 de maio de 2011, Ipanema. A manhã é de sol, e o sol invade pela janela o apartamento de Claudia Vasconcelos, mulher inteligente, culta, de finesse adquirida nos longos anos em que trabalhou como aeromoça de uma das mais importantes empresas aéreas brasileira. Naturalmente neste dia ela está nervosa e alegre ao mesmo tempo, esperando que a noite caia para seu grande debute na galeria dos grandes escritores, de que ainda não faz parte, mas fará certamente após a esperada celebridade porque conseguiu com esforços e méritos, apresentar uma obra literária de grande estilo cujo título Estrela Brasileira, grassará nas vitrines patrocinada por uma grande editora.

O dia é especial, telefonemas se sucedem parabenizando e confirmando presença na noite dos autógrafos. Do sul parentes e amigos telefonam, alegres de ouvir sua voz rouca e amável, como a de uma professora cuidando de seus alunos. E o dia vai passando nessa grande atribulação e aflição da primeira vez enfrentando um apanhado de críticos anônimos e bajuladores, gente que certamente não mostrará nunca o que lhes vai por dentro, se inveja, alegria, admiração, interesse ou apenas disputar talvez alguns canapés e bebidas.

A noite chega afinal e lá está Claudia, bonita como sempre foi e não prejudicada pela idade levando esta em consideração para algumas perdas. Gentil como era no tempo em que empurrava um carrinho de serviço na primeira classe de Boeings, enfrentando satisfeitos e insatisfeitos, gente que pagava para ter e nunca sabia até onde, que viajava com ela sem saber agradecer a presença na cabine de um lindo anjo, gente grata, culta, e gente inculta, ingrata.

O salão está bonito, tudo como esperado pessoas desfilando, conversando, se divertindo na noite oferecida, e sentada diante de todos, sempre amável e digna, Cláudia vai assinando os exemplares, explicando dúvidas, concordando opiniões, esclarecendo da profissão adquirida, da nova e da antiga quando dela isso relembram, distraída algumas vezes ao assinar a primeira página de Estrela Brasileira marcando sua dedicação e carinho.

O homem mal vestido e cheirando mal, entra no salão e fica indeciso olhando Cláudia, alguém se aproxima dele e pergunta em voz alta se ele não errou de endereço, se apressando em expulsá-lo. Mas da mesa dos autógrafos Claudia levanta a cabeça para ver o desconhecido ali sujando o viço de sua festa, vendo a seguir seu defensor anônimo encorajado por seu olhar pegar o intruso pelo braço e seguir conduzindo-o para uma saída.

Com a cabeça voltada para a escritora o homem segue sem contestar, no trajeto olhando também para ela em uma súplica muda. Mas então a voz de Claudia soa, mansa, mas imperativa, pede que soltem o homem e o deixem se aproximar da mesa.

Timidamente, com passos recolhidos ele vem, se posta diante dela sem falar e ela pergunta-lhe se ele sabe ler. O homem faz um gesto com a cabeça afirmando que sim e ela, sem dizer mais nada pega um dos exemplares, autografa e estende para ele que pega ávido, e sem agradecer se vai, feliz olhando a capa do livro e alisando, porém pára na porta e olha para trás, para todos, para ela, e desaparece oculto pelas paredes.

A recepção continua, muda, interrompida, até que alguém timidamente começa a bater palmas, e mais alguém, e mais alguém, e todo o salão explode em aplausos. Estrela Brasileira de norte a sul...