quarta-feira, 19 de outubro de 2011

CINE IRIS RJ, DA GLÓRIA A LAMA.

                                    







        Nos anos cinquenta o cinema Íris situado na Rua da Carioca era uma novidade e centro de bons filmes e séries de matinée. Servidores freqüentavam matando o tempo entre um compromisso e outro e madames se emocionavam até às lágrimas com filmes românticos e heróis sedutores, sendo que se fizesse muito calor ele abria todo o teto durante à tarde para refrescar e durante noites estreladas, era comum abrir para fazer mais encantador e romântico o cinema. Nas matinées de quinta a domingo Flash Gordon, Jim das selvas e outros seriados encantavam o público e o fazia retornar na próxima semana enquanto à noite, lacrimogêneos, faroestes e dramas pesados faziam a platéia fungar ou suspirar de emoção. Essa era a frequência daqueles anos. O cinema tinha uma portaria bonita, lanterninhas, gerente, bombonier e ingresso barato, porém a fina flor da sociedade carioca e do subúrbio ali se divertia tanto no salão maior como nos mezaninos laterais que eram considerados camarotes.
        Nos anos sessenta a coisa mudava para o descalábrio da entrada de filmes espaguete italiano, filme classe B, já não passava mais minisséries, sendo que a frequência era mista de homens e mulheres querendo de verdade ver um filme, ou apenas homens solitários pagando ingresso para apalpar genitálias ou ser apalpado, sem falar que no banheiro masculino a coisa fervia dentro dos reservados ou mesmo fora deles a vista de todos. As damas já não freqüentavam mais o cinema e as quase damas, ou iam acompanhadas ou então eram vítimas de confusões com mulher da vida.
        Nos anos setenta a orgia imperava, a preços módicos e sem qualquer fiscalização, os filmes rodavam apenas para encobrir o desejo masculino homossexual, michês e bichas se misturando a homens que quebram o galho com homem por não ter dinheiro para pagar mulher, esses, pobres peões, gente que transava em pleno salão ou no que outrora foi o luxo, o mezanino transformado em escuras masmorras de Sodoma. A Aids ainda não havia aparecido, as gonorréias, cancros e sífilis tinham cura por antibiótico e a camisinha nunca era incluída na relação que se realizava com parceiros de pé, um engatado no outro no meio de uma multidão de assistentes excitados se masturbando. Era de se ter pena de quem fizesse depois a limpeza do cinema, chão manchado de esperma e lixo de papeis sujos por toda parte. Os banheiros eram sem distinção de F ou M os pontos preferidos dos travestis começando a desabrochar na Terra Brasílis. Não havia polícia honesta, mas sim alguns achacadores quando em vez que frequentava ali, não havia mais lanterna e isqueiro era o que iluminava lugar vazio ou cena erótica. E assim os anos foram correndo até que descambou de vez aquela glória de cinema para apenas palco de shows de streap tease masculino e transexual, sexo explícito, filmes de baixa categoria gay, hetero, para alegria da fila do gargarejo porque os mezaninos passaram a ser lacrados. E assim continua aquele maravilhoso cinema que deteriorou como deteriorou todo o Rio de Janeiro em sua antes maravilhas, hoje cravejadas de lixo, poluição, pornografia e falta de moral, sobrando apenas alguns lugares públicos onde a decência ainda não acabou, o  que também ninguém pode afirmar porque em ambiente fechado banheiros não contam história e se ao ar livre, grades limitam a frequência e nada é mais tão seguro.
        O cinema Íris, como o Cine Marrocos e o São José eram tão chiques como o Odeon na Cinelândia, o Metro Passeio e o Cine Palácio ao lado e como eles também foram feitos para o lazer do povo, mas a cruel abertura trouxe a pornografia e a liberdade somadas ao desleixo e abandono dos proprietários ou locadores e os poucos cinemas existentes no centro do Rio de Janeiro hoje são casas de prostituição.

Por Jorge Curvello

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