sábado, 29 de setembro de 2012

A REVELAÇÃO DO PERNOITE

                               


O avião era um Douglas DC-6B e o vôo para Manaus. A bordo quatro comissários, um deles chefe da equipe e os demais seus auxiliares.  Já na sala da apresentação dos tripulantes o chefe da equipe, olhando uma folha de assinatura falou para o colega que trabalhava na galley da traseira.

--- Hmmm, carne nova no pedaço... Quem é esse aqui chamado Cipó?

O outro olhou por sobre os ombros dele a folha estendida mais adiante nas mãos do chefe.

--- Sei não, é novato.

O chefe voltou a comentar, parecendo chateado.

--- E tem a Zoila também... Êta mulher zinha chapéu.

O outro, dando nova espiada.

---- É, essa aí se sente à gostosa, na certa vai dar em cima do novato.

O chefe largou a folha que caiu sobre o balcão, fazendo cara e boca.

--- Tá... deixa comigo.

O avião decolou, foram horas dentro da jaca servindo passageiros que desciam e subiam nas escalas e durante todo tempo a bordo o novato trabalhou sério, posudo no corpo de atleta, arrancando suspiros de Zoila e da mulherada dentro do avião. Na traseira. disfarçando entre um serviço e outro o chefe olhava o novato trabalhar e comentava.

--- Hmmm, até que o garoto sabe trabalhar. Veja só como segura uma bandeja, como serve a bebida, como pega um travesseiro, como...

O da galley cortou zombando.

---- Nossa meu chefe, rasgando seda? Nunca vi você tão bonzinho assim.

O chefe devolveu o copinho com cafezinho.

--- Aaahh, larga de ser chato e vê esquenta mais esta porra, tá chafé e frio.







 Lá pela tardinha depois de tantos sobe e desce o quadrimotor pousou resfolegando em Manaus, todos os passageiros desembarcaram e os tripulantes depois desceram, seguindo em uma condução a caminho do hotel para um pernoite. Na condução, bem baixinho quase no ouvido do chefe, o galley da traseira falou.

--- E aí chefia, vai dormir com quem... Somos quatro e um de nós vai ter que dividir quarto.

O chefe, ajeitando os ombros para não perder a pose, respondeu.

--- Eu fico com o novato... Vai ser bom pra você ficar sozinho não é? Tem rachada aqui em Manaus que eu sei.

O outro deu uma pancadinha no ombro dele que retraiu sentido com frescura.


--- Chefe batuta esse...  Hmmm, vai pegar o Selvagem da  motocicleta....  Viu lá em Sampa a moto com que ele chegou no aeroporto?

O chefe se empertigou olhando para fora a paisagem feia da estrada.

--- Mas respeito comigo serviçal, ou taco a caneta.

No hotel o novato não gostou nada de saber que teria que dividir quarto com um chefe de equipe, mas calou por medo de perder o emprego logo no primeiro vÔo solo e seguiu de cabeça baixa, mala de vôo na mão e outra murcha entre as pernas para o quarto.  Lá dentro, depois de deixarem a bagagem nos porta malas ele perguntou para o colega enquanto começava a tirar o uniforme..

--- É minha primeira vez em Manaus. Tem muita zorra por aqui?

O chefe, de olho mais nos músculos dele do que no espelho a sua frente, respondeu.

--- Deixa comigo que vou lhe mostrar. Sei de lugares quentíssimos.

O novato respondeu, começando a puxar o zipper da calça para baixo mostrando um umbigo de fazer inveja na barriga tanquinho e aqueles pelos, ah, aquele pelos...

--- Quentíssimo? Mas aqui já faz muito calor.

O chefe de olhos presos no que faltava para ser mostrado, vendo parte da sunga branca de algodão fino aparecendo naquele monumento, respondeu meio engolindo saliva.

--- E quanto mais quente melhor, você vai ver....

O rapaz deu de costa e mostrou uma silhueta de bunda de fazer mulher enfartar.

--- Tá certo... Quer ver que vou gostar...  Mas antes, um banho né? Quem vai primeiro, o senhor?

--- Senhor tá no céu garoto, aqui sou você, nada de cerimônias.  --- ele respondeu --- Pode ir na frente, eu vou depois

--- Ta certo, tá certo... Legal....

O novato se adiantou, deixou a calça escorregar para os pés, mostrando coxas musculosas e levemente cobertas de pelos macios, depois, chutou a peça pra cima da cama, passou a mão em uma sacola de plástico tirada da mala, e de sunga foi para o banheiro, entrando e não trancando a porta,

O chefe engolindo mais do que lagartixa tentando engolir aranha  viu tudo aquilo se enfiando no boxe e pelo vidro embaçado o vulto ficando nu, depois se ensaboando, depois se enxaguando e não  se agüentando mais, fechou, ele mesmo a porta do toalete.
Minutos depois de silêncio total no quarto onde o único ruído era o do coração do chefe palpitando sem freio, a porta do toalete se abriu e lá de dentro saiu uma coisa surpreendente, um musculoso rapaz envolto da cintura para baixo em uma toalha molhada, com um brinco de cigano em uma orelha, uma outra toalha enrolada a Carmem Miranda na cabeça e batom nos lábios, discreto, mas batom.

Olhando para o espelho sem ver a cara do chefe, ajeitando a toalha da cabeça na parte da orelha direita ele falou e a voz já era outra também.

--- Pronto chefinho, o banheiro é todo seu e deixei arrumadinho...  Ah que sorte a minha pernoitar com uma colega logo no meu primeiro vôo solo. Morri de medo de ter que ficar com aquela mona ou então com o feioso do galley ou com o velho rádio operador.  E aí... Tou preparada pro fervo?

O chefe murchou, engoliu mais e desta vez o amargo da decepção, mas nada podia falar, afinal ele também era uma mancha, mas só que não enganava ninguém.

Fim

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

12 DE DEZEMBRO DE 2012




Profetas e falsos profetas atestam o fim do mundo para 2012.
Profecias Maya escritas em sinais atestam o grande final para o ano de 2012
Modificações climáticas contundentes no planeta revelam estranhos presságios.
Nunca revelada uma parte das estranhas profecias dos Mayas fala de sobrevivência ao apocalipse, citando que sobreviverá aquele que tiver o coração puro e que amar a natureza, mesmo tendo que lutar dentro dela, virgem e incalculável, pela  continuação da vida humana no novo começo.



Não sei porque acordei com o sonho insistindo em ser relembrado em minha cabeça e vendo todos os dias diversos noticiários sobre como anda nosso mundo atual, isso me preocupa. Sente-se claramente a falta de calor humano entre os povos, a cada dia algo acontece desastroso no mundo, o clima do planeta parece modificar a cada estação e as consequências surgem aleatórias, terremotos destruindo vidas e paisagens, maremotos, vendavais, furacões, geadas, neve onde antes nunca existiu, enchentes destruindo lares e vidas, entre tantos desastres e no meio desse caos intercalado, o homem a cada dia mais desprovido de atenção, amor ao próximo, solidariedade, justiça e outros pecados, envolvido em ganância e amor pelo poder e pelo dinheiro, repetindo o que sabemos das histórias antigas de grandes civilizações.
Esta emana os noticiários são críticos e apontam para fenômenos surreais acontecendo mundo afora. Na áfrica, sem explicação bandos de animais estão migrando para regiões mais altas, deixando seu normal habitat para outros nunca procurados, tentando galgar alturas como se lá estivesse uma salvação. Em várias régios do mundo bandos de pássaros e aves estão deixando seus normais territórios em busca de lugares onde nunca freqüentaram, e em todo o mundo animal, esses seres menos coincidentes, começou uma espécie de êxodo.
Hoje o dia está lindo, mas faz muito calor e não há vento ou brisa, mas tudo parece normal. De minha casa posso ver ao longe as montanhas de Itatiaia e lembrando do que tenho visto ou sabido nas notícias diárias, me pergunto se em caso de um dilúvio como mostrou o filme 2012 , para nós do Rio de Janeiro elas não seriam a arca de Noé.  Porém logo sorrio de minha alucinação e balanço a cabeça pensando... O fim do mundo, é para quem morre.
Uma notícia importante parece invadir os canais de televisão e eles, quase simultâneo anunciam um deslocamento gigantesco nas geleiras da Antártica e outras no Pólo Norte, um fenômeno comum que desta vez vem exagerado na proporção e prometendo inundações.  Volto-me para o céu e vejo que os pássaros de meu quintal não apareceram, não voam à vista, que há um estranho silêncio em tudo a minha volta, afora o barulho normal provocado pela presença humana. E música continua tocando nos rádios, e tudo parece normal.


E de minha casa posso ver o Cristo Redentor, que no filmo 2012 não foi totalmente submerso e penso. Se para lá fugisse o homem no desespero da sobrevivência, quantos lá permaneceriam  em tão pequeno espaço para uma população e resistiria a natural selvageria do salve-se quem puder?  Tremo só de pensar em ter que fugir para lá.
Mas porque esta opressão, este temor, este sexto sentido que acordei sentindo?
Brincando chamo minha mulher e pergunto para ela:

--- Caso o Rio de Janeiro afundasse em água do mar, você fugiria para o Cristo redentor ou uma montanha qualquer que não submergisse?

E ela me responde, para meu espanto porque sempre desejou viver e teme a morte.

--- Não sei... Não quero morrer, mas como seria sobreviver em um mundo novo semi destruído e sem os confortos a que estou acostumada. Seria isto válido? Detesto o cheiro da morte e se sobrevivesse a essa catástrofe, como seria depois antes do que tudo voltasse a ser limpo outra vez? E a batalha pela sobrevivência depois em um mundo com tão pouco para dar, como seria, inferno ou paraíso?

Fico parado, pensando, e também não sei se seria válido ser um dos sobreviventes, conseguir me escondendo em algum lugar alto e a salvo dos desesperados humanos tentando um lugar de salvação, depois o silêncio total a que não estou acostumado, a falta de tudo que conheci enquanto até hoje vivi,  me ver sozinho ou com poucos sobreviventes em um meio de mato, vendo água a todo o redor, corpos apodrecendo, sentindo fome por não poder comer carne crua, sendo um novo Robson Cruzoé.

São apenas dez horas da manhã do dia e sem querer olho o calendário e vejo a data 12 de dezembro de 2012. e recordo então da profecia e sinto medo, um medo anormal nunca sentido antes.

Pego o telefone e ligo para minha irmã que tem oitenta e quatro anos e quando ela atende, pergunto a ela se caso o mundo fosse acabar e ela tivesse chances de sair de casa e ir para um lugar mais alto, se faria isso. E ela rindo diz que não, que já viveu o bastante e que lutar pela vida agora era idiotice. Completa dizendo calma e desacreditada.

--- Se o mundo fosse acabar hoje, esperaria aqui em meu lar, pelo meu fim.

Desligo o telefone e olho ao redor, há muita estranhes ao meu redor, olho para minha mulher e ela continua fazendo o almoço do dia, lá fora um caro passa e há musica saindo de seu interior, tudo está completamente normal para uma manhã sem vento, de forte calor e nenhum ruído de pássaro... Mas porque este medo enorme ainda continua?

Hoje, dia 12 de dezembro de 2012, uma bela manhã que acordei com medo, o dia anunciado para o fim do mundo.

Por Jorge Curvello

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

ALIBABA E OS QUARENTA LADRÕES

      

       Ah se tudo por que hoje eu passo fosse acontecido em tempos de minha juventude onde ainda tinha forças para lutar, não essa de espera e resignação, mas a da revolta e mão às armas?
Quando criança e adolescente cruzei épocas nebulosos onde a política do país já causava danos, enfrentei fome, mau serviços, dificuldades de me estabelecer em um sistema exclusivista e  impiedoso. Mas cresci, enfrentei as crises, solucei as perdas, mas acabei vencendo e conseguindo mesmo a duras penas, ser alguém.
Naquele tampo já havia os safados, os ocultos, os fomentadores e todos a fim de se dar bem, quer no poder ou nas posses, mas eram tempos de mais mercês, de mais solidariedade, de mais humanidade e mais decoro, onde a verdadeira face do mal se ocultava atrás da do anjo, era tempo de se temer a polícia, os juízes, a lei em todo o seu poder do certo ou errado. Nada era como hoje, assim como acontece e sofremos nós, os excluídos, os miseráveis na concepção dos que nos governam e somente vê em nós, impostos, taxas e lucros.
Ah se eu tivesse a força daqueles anos e certamente estaria hoje comandando ou orientando novos Alibabas, ou não era assim que o ficticionado elemento  das histórias em quadrinhos tornadas filme, se impunha contra o poder dos maiorais?
Alibaba um oposicionista traído e revoltado, clama por justiça fazendo exatamente o que os inimigos faziam, roubando. Porém ele e seus comandados, ladrões procurados e desprezados pela sociedade, não roubava o pobre, mas sim o ladrão do pobre, o usurpador e dono da verdade que se chamava mentira. Com sua adaga sempre pronta a defender os humildes ele cavalgava seu cavalo branco excitando ´as massas, ganhando adeptos e conseguindo desbaratar a quadrilha dos certinhos, deuses e juízes das cidades  daquela Arábia de papel, de celulóide, de diversão para domingos da garotada.
E lá estaria eu, não agora com  uma espada, mas talvez AR-15 ou arma mais moderna, não na frente da batalha para ser destruído, mas nas sombras dos desertos da piedade ao pobre, comandando um bando de traficantes, os novos ladrões do antigo Alibaba, estes pobres coitados que talvez tenham se tornado o que são por um dia sonharem em ser alguém sem conseguir. E diga-se de passagem que deve haver mais honra no coração de um traficante, de que há no de nossos usurpadores sádicos e mentirosos.
E nessa Arábia chamada Brasil eu, nas sombras e fomentando, atiçando as massas, o novo Alibaba, ou alguém mais capaz, cavalgaria em minha sombra, atacando aqui, enfraquecendo ali, destruindo acolá, roubando o que é roubado para devolver a quem merece, sendo justo na partilha com meu séqüito, não pedras preciosas e ouro, mas capacidade de comer, beber, morar e divertir, tranqüilamente. Ah se eu ainda tivesse forças...
Toda a maldade será castigada, diz o provérbio, mas nem toda será reconhecida, fala meu coração.
Hoje, após anos de programação para um futuro mais feliz e sossegado, vivendo com os míseros e roubados R$1.337,00 que a planejada aposentadoria brasileira ladra me paga cada mês, vendo  meu livro de despesas acima dessa quantia e os saldos devedores a saldar sob cobrança de aumento em juros, vendo o que antes foi dispensa e hoje é somente armário, vazio, de arroz, feijão, temperos, e dentro dele apenas o salvo para não deixar de comer amanhã, a eterna e mensal divisão do quilo por grama, vendo a geladeira gastar energia por nada em sua escassez  de alimentos, com apenas água que custa barato, R$6,00 o garrafão, algumas frutas vindas de regalo da fruteira do vizinho,  e gelo seco no congelador, vendo meu guarda roupa falido, roto, onde o tecido já não agüenta mais a lavagem e descolore, murcha e fica hostil, vendo minha cadelinha morrer por falta de socorro e grana para um veterinário que não faz juramento e não atende de graça, temendo pelo meu dia de amanhã na seqüência de promessas de voltar a ser gente que nunca se cumpre, é que lamento o meu Alibaba envelhecido, incapaz até de chorar no escuro do seu deserto de lágrimas.


Eu Alibaba murcho
              Jorge Curvello