sexta-feira, 20 de maio de 2011

APOSENTADO DO AÉRUS - A VERDADE ATRÁS DO MURO

Quando tudo começou, nós, trabalhadores da Varig, todos acreditamos. No Aérus, uma entidade criada para assistir com aposentadoria complementar do INSS a todos os funcionários que no princípio foi de livre escolha, mas logo se transformou em obrigação de pertencer, ou então não havia a vaga no emprego. Quando tudo começou, muitos de nós pagamos fortunas do salário mensal para adquirir esta segurança, alguns de nós tendo que sofrer cortes no orçamento particular em nome do futuro assegurado.

Éramos mais jovens, e na ativa, vivendo uma vida confortável mesmo pertencendo a uma classe que arriscava a vida e a liberdade particular em nome da profissão. Em aviação comercial é assim, hora de começar a trabalhar, mas nunca hora de terminar.

Enfiávamos confiantes nossos corpos dentro de aviões, sem saber se chegaríamos ao destino porque na operação de uma máquina tudo pode ser surpresa. Outros trabalhando em terra sentiam a pressão de lidar com o público, enfrentar tempo ruim consertando aviões, carregando aviões, dirigindo carros de apanha, esforçando mente e corpo no serviço de carga, enfim em todos os cargos uma empresa aérea necessita devoção. E todos éramos devotos, amávamos a Varig, e o que ela nos dava, a grande maioria com salário justo adquiriu bens, montou padrões, passou a viver uma vida nunca imaginada enquanto trabalhou, e se aposentou seguro por um órgão que, traiçoeiramente esperava a hora de nos abocanhar. É como dizem, nos acostumamos a comer caviar e sem suspeitar que logo isso nos privariam totalmente, chocantemente e sem piedade nenhuma.

No princípio éramos jovens, confiantes e despreocupados acreditando na força e poderio da Varig, a melhor e maior empresa aérea brasileira, nunca nos preocupamos na verdade com quem fiscalizaria o Aérus ou a Varig, apenas confiávamos e entregávamos nosso dinheiro para cofres suspeitos, salvo bem pouco de nós e assim mesmo discordante com a quantia a pagar para isso. E a bandalheira começou com o Governo negando repassar dinheiro para a Varig (um acordo de tarifas de passagens de vôos nacionais), ela não repassando dinheiro para o Aérus se sentindo lograda e preocupada em saldar dívidas que aumentavam dia a dia. Mas dívidas feitas por quem? Seus diretores. E nessa ciranda o Aérus gostando, calado sem nos avisar a tempo de poder tirarmos dele o valor de nossa carteira nos planos de seguridade. E foi assim até uma falência nada convincente depois de que o Governo solicitado de socorrer usou estas palavras na boca de um de seus ministros ---- Para a Varig? Não!

Confiantes ainda e recebendo depois de aposentados mais de oito mil continuávamos esperançosos de ver a crise da Varig terminar, mas foi ela quem se fragmentou estrategicamente, deixando para a parte mais fraca a dívida com seus funcionários e o Aérus, as demais frações sendo negociadas com terceiros. E no dia 12 de abril de 2006, coincidentemente dia do meu aniversário, recebi a notícia de que o Aérus iría parar de nos complementar, nos levando a bancarrota. Dormi recebendo um salário mensal de mais de R$5.000,00 e acordei recebendo outro, apenas R$985,00 que era o que o INSS, outro ladrão, me pagava como benefício.

E agora, quem iría pagar minhas contas, meus débitos adquiridos com bancos, cartão de crédito, dependentes, enfim minha vida confortável que paguei para ter? Ficamos sem respostas e recebendo apenas do INSS... Lamentamos profundamente.

E lá se foram passando os anos, quase seis de protestos, passeatas, pedidos ao Governo, reuniões, julgamentos que não são obedecidos, mortes por falta de condição de vida, desesperos por falta de poder viver uma vida decente, venda de bens, pedidos de ajuda a familiares, entrega de todo o conforto adquirido com nosso suor, nosso trabalho, nada por prêmio. Voando muitos de nós levaram ao mundo a bandeira brasileira e sua simpatia e hospitalidade, em terra a Varig proporcionou avanços no turismo e ajudou a encher cofres, cofres que para ela se fecharam misteriosamente. E ainda se fala em justiça, mas onde está? Hoje, velhos cansados da luta e da espera vamos morrendo, satisfazendo assim os prazeres de quem, por trás do muro goza usando nosso dinheiro, que não devolve, quem se diz interditado e assim está, pelo governo que se nega a nos ajudar e protela judiciais decisões. Diferente de outros planos que faliram, o do Aérus é a pura mentira atrás dos muros das combinações e indecência, um triângulo estudado e diabólico formado por ele mesmo, nossos governantes e a própria Varig na sua banda podre.
Surge agora na pessoa da ministra Carmem Lúcia uma luz no fim do túnel, e esperemos que ela também não se apague e nos traga de volta a nossa dignidade roubada.

Pelo comissário de bordo aposentado

Jorge Curvello

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