terça-feira, 27 de maio de 2014

FOTO VIDEOBOOK DO CURVELLO
Modelo e ator profissional  - Agenciado pela casting Model Agencia de Modelos RJ

quinta-feira, 17 de abril de 2014

REFLETIR



CONVERSA DE DOIS ESPÍRITOS

 Dois espíritos conversam procurando melhorar conhecimentos, um deles com a passagem mais antiga do que o outro em um lugar claro, de paz e luz.  Um deles atende pelo nome de Manoel e o outro Cosme.

Manoel  -- Me esclareça irmão. Porque tantos demoram a chegar até nós?

Cosme -  Nada de extraordinário nisso, é a lei da existência.  A maior parte chega logo, outros demoram um pouco, outros nunca chegam ou chegarão.

 Manoel – Sim, entendo. Os elucidados chegam rápido, os relutantes demoram e os que se negam a espiar nunca chegam e alguns desses jamais chegarão.

Cosme - É como disse.  Ao fazermos à passagem deixamos para trás todos os prazeres e a vida terrena, Alguns logo entendem e avançam passando breve pelo que lá em baixo chamam de purgatório, outros demoram porque ainda se sentem presos ao que deixaram, à matéria, ou estão confusos, sem entender onde estão e do porque estão ali. Estes irmãos sofrem a angústia, a pior das dores do espírito, mas nada podemos fazer para ajudá-los porque terão que se libertar sozinhos, expiar, reconhecer, e até entender o porquê passaram. E aqueles que param no caminho, absorvem o gosto pelo desafio, pretendem retornar, esperam isso, poder fazer isso quando jamais poderão.  E ainda há aqueles que parecem entender do purgatório e o aceitam como morada, preferem ficar ali regojizando na agonia de si e dos demais perdidos.  Estes fatalmente ao fim de um tempo descerão ao que lá embaixo chamam de inferno, e lá irão encontrar o castigo.

Manoel --- O castigo de satanás, oposicionário renitente ao nosso Pai eterno?

Cosme --- Entenda assim, está bom.

Manoel -- Eu sei irmão, depois que cruzei para este plano entendi satanás, o anjo caído por desafio ao Pai eterno, desafiador eterno de provar que nem todos os na vida terrena alcançarão aqui.

Cosme -- É isso, exatamente.

Manoel -- Mas irmão, talvez por ser mais novo aqui do que você ainda me confunda nosso Pai eterno permitir a existência desse anjo. Se Ele criou tudo, o universo, a vida, as coisas e os anjos porque  deixou esse modificar, resistir, ser o que é sem  o curar ou extinguir?

Cosme -- Procura refletir, com calma, e achará a resposta. Ela sempre esteve em você quando lá embaixo e mesmo depois no seu caminho até aqui. Não cabe a mim explicar, mas a você achar.

 Manoel ficou pensando um pouco e logo respondeu.

Manoel --- Mas é claro, como não entendi!  O mal e o bem tem que existir juntos, lado a lado, pois somente assim poderemos medi-los e ver qual é melhor dos dois.

Cosme -- Exatamente isso. E foi por isso dado ao homem, o livre arbítrio.

Manoel --- Entendo. Mas me diga uma coisa. Se aqui não há tempo marcado, não conta-se horas, minutos, segundo, tudo é eternidade, o tempo que passamos no purgatório como seria se fosse como na terra, contado em horas, dias, meses, anos, séculos?

Cosme --- Exatamente igual só que com a diferença de ser medido pela agonia e não por calendários ou ponteiros.

Manoel -- Como assim?

Cosme --- Veja bem. Enquanto vivo já temos a opção do livre arbítrio para medir o bem e o mal, escolher nossos caminhos. Muitos ali mesmo começam a purificação e ao chegar no umbral adiantam sua permanência completando o que faltou completar enquanto dentro da matéria. Digamos que esses cruzam a escuridão em milésimos de segundos se em tempo comparado ao terreno.  Outros demoram mais porque lá embaixo foram confusos, pecando, perdoando, se redimindo e recaindo em  erros. Esses demoram mais que os primeiros, precisarão reciclar tudo isso através do reconhecimento que faltou na terra por culpa do livre arbítrio.   E a agonia pode ser longa ou curta vai depender de cada um.  Os eternos pecadores, os que escolheram a vida pelo lado mal, se verdadeiramente arrependidos ao chegar ao umbral e entenderem que deixaram à matéria, terão um tempinho a mais para a purificação, assim como um banho mais demorado, onde a sujeira demora a sair do corpo, o que aqui, significa espírito. Porém aqueles que mesmo depois continuam como antes, a eles está aberto o portão das trevas, o fundo do poço.

Manoel -- Entendo. E é curioso como acontece não é irmão? Em um momento depois da separação do corpo terreno ficamos meio que perdidos e então começa  a expiação, a compreensão, a cura ou o castigo.

Cosme --- Exatamente isso.  Deve lembrar da sua agonia, que foi igual à de todos nós.

Manoel -- Terrível irmão, foi terrível mesmo no tempo como classificou, no umbral sendo curto. Ver todo aquele sofrimento à volta, escutar os lamentos, saber que para trás não se podia voltar... Eu senti como mãos em fogo me agarrando, sombras me tomando, e a dor de tudo aquilo  também era a minha, agora sentindo piedade e confraternização pelos que escutava sofrendo.  Felizmente acabou.

Cosme --- Felizmente.  É a palavra.

Manoel -- Mas há os que parecem não se importar e até gostar... Por quê?

Cosme – É o livre arbítrio meu caro. Ele  foi nos dado para isso e para usar antes ou depois da morte.  Somente temos que orar pelos que sofrem, ajudar aos que precisam, essa é depois de lá e aqui à missão de todos nós.

Manoel -- E isso se chama paraíso, não é Cosme?

Cosme --- Sim, paraíso, paraíso do bem, da luz, da felicidade eterna, algo incomparável como pode sentir.

Manoel --- Sim, tem razão.  Mas porque somos então impedidos de ajudar quem ainda está no umbral, mas nunca quem ainda está lá embaixo?

Cosme -- Porque enquanto lá há a possibilidade de aliviar confusões, a mental, se me entende. Ajudar nas decisões, outro grande poder do ser humano para o bem ou para o mal.  Porém uma vez desligado do mundo terreno ele está sozinho e já não pode mais ser ajudado senão ajudando a si próprio.

--- Até chegar aqui, ou...

--- Até chegar aqui através da compreensão  e dos significados de tudo que lhe foi antes mostrado e antes nunca entendeu, ou aceitou. Então será como nós e já não sofrerá mais. Quanto ao seu “ou”, os outros, destes nada sabemos depois que se decidiu pelo inimigo do Pai eterno e somente Ele poderá ir até lá tentar trazê-lo de volta.  Mas uma coisa eu tenho a certeza. Uma vez por lá, terá que então a ter a fé que deixou de lado por toda a vida que o Pai lhe deu, vai demorar para encontrar e então começar o processo do eterno perdão.


Por Jorge Curvello













TESTAR E CONTRATAR



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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

HÁ QUE SE PERGUNTAR... PORQUE?









Há que se perguntar por que tanto nos modificamos com o avanço da idade em relação à política brasileira. Eu que lidei com tantos tripulantes ao longo de trinta anos nunca os vi, em hora alguma, dia algum, tão preocupados com isso. Será porque perdemos a aposentadoria privada do Aerus?
Alguns, dizem, morrem por isso, outros parecem obstinados, comendo política e arrotando política, fora do antigo ser que eu conheci. Outros assim como eu apenas colaboram na tentativa de bálsamo aos necessitados se é que isso pode valer, tentando apaziguar o espírito dominado por esta febre surgida qual a do ouro na Califórnia nos anos 1800.  Uma coisa se explica, a injustiça sofrida é a mola da revolta do homem.
 Porém falando de Brasil, a meu entender uma terra de consentidos sempre, abnegados sempre, desaculturados na maioria e sempre, isso, com intuito político estudado de há séculos passados, nada jamais se fará ou se fez na intenção de mudar, melhorar ou extinguir de vez com a safadeza, o roubo dos cofres nacionais, os direitos adquiridos irrelevantes, os poderes e as ações, tudo se sucedendo ano após anos envolto em brumas de promessas e juras falsas, quer antes, durante e depois de cada eleição.
 Nascido nos anos 40 eu passei pelos anos cinqüenta sabendo de Getúlio Vargas, um quase tornado mártir e a guerra da presidência, vi a subida, fuga e queda de Jânio Quadros, presenciei em loco a revolução militar nos anos 60 onde militares tornaram o Brasil uma prisão sem grades, mas nada disso funcionou, nada funciona porque o grande interesse é sempre mascarar uma situação em nome da esbórnia.
Quando Lula foi eleito e assim deixou quem podia impedir, já estava programado, depois a Dilma ganhando em situação obscura de outro candidato, tudo um circo armado. Agora essas aberrações de notícias espocando todos os dias, tornando nossos afetados pela política estressados e a beira de colapso, deixando saldos de mortes, badernas, tumultos e quebra quebra, mas tudo planejado e combinado como sempre foi e sempre será. Não há, pois, a verdadeira intenção de se acabar com nada, modificar nada, nos dar um país com decência, moralidade, justiça, educação, limpeza, saneamento, saúde, proteção, segurança e beleza, nada. O que há é a mentira, a promessa nunca cumprida, os gados de corte indo às urnas por obrigação governamental, as eleições fraudulentas, a continuação de uma merda que já vem planejada antes de nascermos.  Então porque sentir esperanças? Justo porque é dito ser a última que morre?  Tudo bem, que assim seja e se sinta porque isso é a grande mola do corpo, sentimento que satisfaz a mente, mas nada contribui para o conserto porque isso depende de poder para ser exercido e ao que parece, ele aqui não existe mais.
Em suma, no fim os grandes sempre saem lucrando e pouco se importando com os pequenos e estes, afogam em samba, suor e cerveja a sua agrura. Chega o tempo, pois, onde acho devemos refletir o que vale mais, se a doença, a ira, a revolta e os sofrimentos advindos do que a paz da conformação de se ter o que se tem e procurar ter o que se pode, tirando vantagem do que se deixa tirar. Vão-se os anéis, mas ficam os dedos e com eles sempre seremos mais felizes do que com o ouro ou estas coisas passageiras que não levaremos conosco e nos fazem somente sofrer quando a vida foi feita para alegria e luz.
 Getúlio, Jango, já passaram, Lula e Dilma e mesmo o poderio do PT também passarão, ficaremos nós como sempre a espera do próximo que virá e na certa serão iguais, mas os que se forem antes estarão finalmente despegados dessa tola pretensão de achar que nesta vida é que mora a verdadeira felicidade.
 Sou católico, sou religioso, antes do que tudo um simples ser ignorante à disposição dos mistérios que esta vida nos traz.

Jorge Curvello

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

DIÁRIO DE UMA TRANSVIADA



 

 

Sinto-me só apesar de poder ter companhias, não sei o motivo, mas desconfio que é a insatisfação por ter tanta liberdade.  Somos agora a crista da onda, a faixa de presépio, chamados o movimento jovem traduzido pela maioria castradora, de rebeldia. De uma hora para outra viramos notícia alvissareira de tudo que fazemos, pensamos, agimos ou sonhamos, somente por desejarmos mais liberdade de ação e pensamentos, agora somos a nova juventude que explode ao som do Rock´n Roll, até para a igreja, um sacrilégio.  Mas será que somos mesmo tudo isso? Será que somos, felizes?

 Ah meu diário, único amigo em páginas e capa grossa sempre engavetado e trancado a chave nesta gaveta de toucador, se é que pobre pode chamar asim esse móvel barato mais parecido a uma cômoda antiga. Diário de adolescente, mas secretamente onde posso desabafar minhas angústia, meus temores, minhas desilusões.

Não sou mais uma virgem, abdiquei do símbolo da castidade em nome do progresso e, sendo inteligente, somente eu e meu querido e sacana padrasto sabemos disso, um guardião que jamais, pelo medo da cadeia, vai me delatar. Não sei se minha mãe desconfia, escondo as pílulas, escondo meus namorados, namorando na rua dizendo ir à casa de uma amiga. Subo a minha saia assim que deixo minha casa porque saia comprida e de beata, e uso batom vermelho e olhos marcados por rímel, imitando as atrizes do cinema. coisas que tenho que tirar da face antes de voltar para casa outra vez.

Meus sábados são movimentados mesmo tendo que voltar para casa antes das onze, mas por algumas vezes extrapolo mesmo recebendo umas bordoadas de minha mãe porque senão, onde gozar a vida somente indo a matinée, ouvindo rádio, freqüentando a igreja, ou ouvindo meus discos de vinil trancada dentro de meu quarto pela velha vitrola Belair? Ah como eu sou bandida, meu Deus.

 Nestes sábados loucos, invento desculpa e saio de casa ainda cedo indo para a Radio Mayrink Veiga no Centro do Rio de Janeiro, abandonando o subúrbio em troca de algumas horas de agitação, me juntando aos celerados, as garotas avançadas, trocando mentiras e boatos, rindo, dançando na rua mesmo sem música, mascando chicletes e enfeitada feito uma perua.  Se arranjo um gato, fico com ele, vou para os embalos de sábado à noite de carro ou moto, bebo álcool fingindo beber refrigerante, me dou inteira de corpo, mas não de alma porque sei que é somente prazer e nada mais.  Mas já volto para casa antevendo a tragédia, os berros, os gritos, as ameaças, que não se calam diante das minhas juras falsas e apregoações de que perdi a condução. E assim vou vivendo, podada, mentirosa, falsa menina comportada que guarda dentro de si, um demônio.

Nos embalos acontece de tudo, até streap se faz se a bebida pega, não há bandeira, não há limite, não há regras a seguir senão a da onda, a do grito de liberdade.  Horas que significam dias, meses e anos dentro de ponteiros que marcam começo e fim do período tão curto.

 Sei que sou mal falada na minha rua, que mães conservadoras temem suas filhas contaminadas pelo meu sucesso, que os rapazes sentem gulas sobre mim, mas não são os que aceito pela língua grande e falta de compostura, a que perto de casa se deve ter.

 Ah diário amigo, se pudesses ter contigo registrado tudo que faço nestas horas, tudo que sinto nestas horas, tudo que vivo, experimento, arrisco e desafio, certamente também tu me condenarias.  Mas no fim, diário, é tudo solidão, tudo um vazio, tudo inveja porque, mesmo imitando não consigo ser aquelas a quem tento imitar, que somente existem na minha ilusão porque da vida delas nunca pude conhecer como é, por ser pobre e suburbana.  Junto a elas até que me passo, mas eu sei que é tudo mentira e que logo vai acabar, que voltarei para o modesto e apertado apartamento de conjunto residencial na Penha, que me vestirei diante de um espelho pregado na parede, que tomarei banho em um chuveiro mal regulado, que usarei maquiagem barata comprada na feira livre e como as roupas, sem ter grife nenhuma, apenas como eu, sendo uma imitação. Vou sentir que retornarei ao prato feito de janta requentada, do café com pão e manteiga sem direito a queijo e geléia, à sagrada galinha com batatas de todos os almoços de domingo reunidos a uma mesa onde quem me comeu ainda me olha sequioso, mas sem me ter mais, sob os olhares incriminadores de minha mãe servindo, dividindo para a galinha dar para todos, ela, ele, eu, e os cinco irmãos menores que comem de mão suja. Voltarei à noite de domingo terminando para este quarto, solitária e triste porque somente existo alegre de mentira, Mas ao deitar a cabeça no travesseiro no escuro eu sonho, revejo os momentos bons que passei ao lado de um belo garoto, dono de carro, dono de moto, sinto ainda a ofegação dele na hora do gozo me fazendo gozar, me vejo rindo satisfeita e leve na saia curta, os olhos pintados, a boca retocada, o chiclete, o cubalibre geladinho, a elevação dos sentidos e o vôo para a loucura, a farsa, a eterna vontade insatisfeita, de ser, realmente feliz.

 

Por Jorge Curvello

ARLINDA, A QUE NÃO SABIA SER PUTA.


 

 

Isto aconteceu nos meados dos anos 50 e não é invenção, foi uma triste realidade a que testemunhei em anos onde ainda nem mulher como fêmea conhecia, mas os rapazes e garotos de onde me criei, sim.

 Arlinda era uma linda moreninha de corpo bonito, pouca altura e cabelos castanhos claros cortados na moda, aquele jeito bonitinho de aparar logo acima dos ombros e usar, revoltos, por toda a cabeça parecendo despenteados.  Cedo ainda, talvez aos seus dezesseis anos ela se perdeu, foi desvirginada por algum sabido e depois expulsa de casa pelos pais raivosos.  Sem ter para onde ir, acabou na sarjeta.

 Arlinda ficou conhecida no bairro de Ramos, subúrbio da Leopoldina por andar quase nua pela rua, às vezes na madrugada voltando para a favela onde se entocou somente usando calcinha e porta seios, um escândalo naqueles anos.  Mexia-se com ela falava palavrões, outro escândalo e as mulheres a discriminavam.

Não raramente era vista embriagada ou sob poder de drogas da época, o éter que se cheirava ou comprimidos, voltando das suas orgias que ninguém sabia onde acontecia, mas deixava mostras no seu corpo maltratado, às vezes mostrando queimaduras de cigarro no pescoço ou seios, pobre coitada. Ela passava nua, mas ninguém chamava a polícia, e mesmo se chamasse ela não acabava na prisão, era usada pelos guardas sequiosos de tarar uma ninfeta.

 Uma noite Arlinda veio caminhando a pé como sempre os mais de dois quilômetros que separavam a estação do bairro da favela perto da praia de Ramos e como sempre embriagada.  Na esquina da rua onde eu morava estavam mais de vinte rapazes na faixa etária entre vinte e cinco e dezoito anos conversando e logo eles puseram olhos gulosos em Arlinda. Alguns deles já haviam se relacionado com ela antes, no matagal ou canto escuro dos becos, e foi fácil seduzir a bêbada e arrastar para uma casa abandonada onde todos eles, o vinte, a usaram sem piedade e com brutalidade, um assunto gabado depois no dia seguinte com mínimos detalhes como se ela e seu corpo fossem troféu. Pobre ninfeta louca que tentava vender o corpo por dinheiro e sempre acabava lesada.

 Perto das duas horas da madrugada, quatro meninos de idade entre quinze e dezesseis anos viram Arlinda saindo da casa cambaleando, quase em poder andar e também visando usá-la a levaram com eles sem resistências para uma garagem da casa de um deles onde, na hora em que tiraram a pouca roupa dela constataram a menina em estado lastimável, a vagina em flor e sangrando. Penalizados eles abandonaram o tesão e trataram dela, deram banho, limparam a ferida com pedra desinfetante, a deixando depois dormir ali, mas na manhã seguinte sem agradecer, ela desapareceu. Pelo menos, esses não eram monstros.

 Arlinda, depois da noite do massacre, só foi vista no bairro mais uma ou duas vezes, depois desapareceu para sempre, alguns achando que foi parar na Vila Mimosa, a zona do baixo meretrício, outros achando que morreu.  O que se sabe é que Arlinda, a puta que não sabia ser puta, foi mais um exemplo de pais mal informados e impiedosos, capazes de abandonar uma cria somente pelo valor da sociedade, uma coisa que a virada dos anos para 60 veio a jogar por terra.

Pobre menina moça Arlinda, pobre deusa sem pedestal no bairro pobre, pobre alma desprotegida que o destino abusou.

 

Por Jorge Curvello

DO ATOR QUE POR DIREITO SOU, DO QUE NÃO FUI E NÃO SOU, DO QUE TALVEZ PODERIA SER.


 
Artista eu sempre fui desde menino, desenhava bem, depois pintei quadros, e na vida artística tive sonhos em me tornar ator. Cantar sempre cantei, com voz de cotovia rachada nos tempos de menino até melhorar e aprender canto um pouco, me registrar como cantor na Ordem dos Músicos, depois desistir dessa carreira porque não era mesmo minha praia.

Como ator, ainda jovem tentei a Herbert Ritcher, havia oportunidade em um filme de cangaço, mas desisti com medo de não saber montar a cavalo e depois, adormeci em mim esse desejo, mais levado por aparecer, ser famoso, do que propriamente pelo gosto da interpretação.

 Tornei-me um comissário de bordo e ali interpretei vários papéis a bordo dos aviões, nas chefias, entre os amigos e passageiros, enfim era o ator em mim se pronunciando, e nos tempos vagos dava uma de show-man me apresentando por hobby em clubes, boates e festividades. Ali valia a arte da dublagem de movimentos de algum cantor e dança conforme me aperfeiçoei nos anos 60 nos programas de rádio (Mayrink Veiga em Hoje é dia de Rock) e televisão (Canal Rio, programa do Jair de Talmaturgo ou do Chacrinha) que usavam de explorar essa modalidade sem pagar cachê.  E então me aposentei aos 53 anos de idade e fui à luta, fiz cursos de aperfeiçoamento, fiz peças e acabei com um DRT na mão, o registro que me tornou oficialmente ator de verdade.

 Estava com quase sessenta anos de idade, já não sentia mais desejo de fama ou aparecer, gostava de interpretar e era só, mas nada de graça porque agora, era de fato um artista regulamentado.

 A vida de artista no Brasil é difícil, diferente de outros povos onde dão valor à arte e aqui, dão valor ao quem indica ou simpatia pessoal. Sendo assim acabei na Globo, mas nunca passei dos Recursos Artísticos onde registram atores e deixam de molho, aproveitando o perfil e não a capacidade, pagando cachê menor do que contrato.  O fato de sentir que não me davam oportunidade de um teste para uma produção onde eu poderia e com capacidade mostrar meus dons de verdade, meu valor, me fez esmorecer, largar de mão e ficar de molho a espera de chamadas que foram diminuindo a partir de 1998 até desaparecer.  Aconteceu então a queda do Aerus e a necessidade de faturar alguma coisa, mas o corpo e a mente já não queriam mais e enfrentar estúdios e sets de gravação por doze horas não mais me apeteciam nem por necessidade.

A Rede Record me aceitou como ator diarista, pertenço a uma parte do departamento de elenco onde somente o perfil é procurado, não a arte, e como na Globo, comecei a fazer pequenos diminutos papeis, por bons cachês é verdade, mas só isso, nada de poder sentir o personagem e mostrar se sou capaz.  São uma, duas ou tre falas somente, ato curto e de minutos, mesmo contracenando com atores de peso, mas figura terciária, sem nome nos créditos da produção, algo que seria muito valioso para currículo.  Isso não é ser ator, nem figurante porque estes não são permitidos de falar em cena. É um cachê melhor, mas a comparação é a mesma.

 Na Record tenho mordomias, mais por ser idoso, nunca por ser ator. Ela nunca abre as portas dos testes, algo que poderia me lançar no estrelato, e eu já nem sei se quero isto porque não sei se aturaria assédio da fama, se dominaria à vontade de ficar em casa em lugar de dias seguidos em meses dentro de estúdios, aturar as picuinhas dos diretores, os desmerecimentos, a competição dos colegas de trabalho, os fuxicos, as fofocas, tudo que já provei sendo comissário de bordo, e odiei.  Fico então aqui, dentro de minha casa brincando quando em vez de ser ator, cantor ou dançarino, são coisas que sou por instinto.  Mas pergunto para mim mesmo onde está esse ator que tem número e DRT? Onde está meu valor apregoado na telinha ou sobre um palco?  Onde anda o ator Arlindo Duplo que assim me fiz e sub-intitulei?

 Do ator que por direito sou conto apenas com um documento, do que não fui e não sou culpo minha preguiça e falta de perseverança, do que talvez poderia ser, deixo por conta de um bom teste que somente assim poderia mostrar se aprovado e enfiado em alguma produção como ator, não coadjuvante.

 È minha gente... Um dia que quis ser famoso, aparecer, outro já não quis mais, em outro ainda faltou garra e desisti e hoje, apenas sorrio quando alguém me chama ou diz que sou ator.  Será que eu seria mesmo um astro? Será que faltou oportunidade de provar?  Não sei e pouco isso me importa agora aos setenta e dois anos de idade.
 
 

 

 Pelo próprio

Arlindo Duplo (Jorge Curvello)

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Valley Of The Dolls KLAXXON

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Flashdance1983DVDrip VG

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

QUANDO FICAMOS VELHOS.

 
Há, criado pela sociedade dos homens a separação pela idade em que vivemos, assim sendo, bebê, criança, adolescente, adulto.  E quando nos tornamos adultos seguimos para, maduros, idade do lobo (as) e inexoravelmente, a terceira idade que quer dizer em tradução da gentil frase, velho. E então começa o drama do ser humano, velho, onde tudo começa a terminar, lembranças começam a se apagar, atos começam a deteriorar, mudar, transformar, capacidades começam a diminuir, falhar, e então somente quem está lá, dependendo de como o cérebro está, poderá avaliar o que vale, valeu ou valerá esta triste existência humana de tão poucos anos se considerado pelo infinito.  É onde se começa a pensar e é necessário julgar para poder continuar, velho,  mas sendo feliz.
Quando velhos se com cabeça boa, começamos a achar a vida uma porcaria, algo que está sem data para terminar e sempre sentindo que pode ser agora, daqui a pouco, amanhã, no mês que vem, ou ano, e sabe-se lá quando vai terminar. E então, se com cabeça boa, acho chegada à hora de nos libertarmos dos grilhões impostos ao longo de toda a existência, o tal do pode e não pode, é bonito ou feio, digno ou indigno, certo ou errado.  Dali pra frente valerá o que acharmos ser o certo porque atrás de nós sempre prevalecerão as condenações.
 Há os velhos que reclamam da vida, das pessoas, dos parentes, amigos, netos, filhos, todos que nos abandonam, esquecem, ou evitam, há os que não se conformam e isso é ruim. Mas se ele parar para pensar que quando novo foi igual isso suaviza. Mas também há os que aceitam em uma boa, conseguem sobrepujar essa agonia e continuar seguindo, deixando de lado julgamentos e críticas, aturando desentendimentos e incompreensões, mas esses felizes velhos vivos são muito pouco.
 A verdade é que coisa velha, sempre ao longo da nossa vida sempre as jogamos fora, guardamos ao desuso, seguramos como lembrança apenas do que foi e não é mais. Foram roupas, calçados, objetos vários, foram amigos, parentes, vizinhos e correlativos, todos deixados para trás ao bel prazer de nossa concepção do válido para continuar. E isso foi por toda a vida.
Quando novos, achávamos o velho uma coisa sem valor, fora da importância, descartável, mas agora enquanto velhos ou mais envelhecendo a cada segundo, minuto, hora, dia, mês e anos, começamos achar que somos desprezados, abandonados, deixados para depois, esquecidos de que isso fizemos com tudo e com todos ao longo da mesma vida que os novos hoje vivem para envelhecer depois.
 A velhice é triste, é fato, mas é seguimento da vida e então que seja lúcida, devendo ser improvisada sem queixas, com abnegação, suporte e aceitação para melhor ser vivida e aproveitada. Que os novos fiquem lá com seus valores, que nós os velhos fiquemos cá com nossas lembranças, nostalgias, saudades, vida limitada, bronquites, tosse, peidos, catarros, cheiros, mas a nossa vida, vida real, ainda pungente mesmo se amarelada, capaz de ainda nos dar prazer se nos sentirmos jovens. Vida capaz ainda de nos deixar ver e entender que somos aquilo que não prestava mais e jogamos fora no passado, aquilo que não interessa mais a outros, mas muito a nós mesmos, ao que somos pelo que fomos, ao que seremos pela alegria de continuar vivendo mesmo assim.  Lá se foram os anéis, mas ficaram os dedos, se foram os que amamos, mas ficou esse amor, se foi o sonho, mas ficou a realização de muitos, mesmo que hoje com mais nada.  Lá se vão os anos, mas continuamos sendo nós aqui e agora, velhos sim, mas inteligentes para assim ser e ainda poder ensinar. 
Nada de cantar “Tristeza, não tem fim”, mas sim mostrar aos velhos de amanhã o exemplo do que é saber viver, envelhecer e ser um velho, e este sou eu, que fui novo, que sou velho agora e que enquanto vivo espero ser até morrer.

 Por Curvello




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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

FIOFÓ DO CALIXTO



                            

Alguém de vocês já foi convidado pra comer um “Fiofó do Calixto?”  Não?  Pois então, se for um dia, não recusa que é pra lá de bom. O nome é estranho, feio, produz certo asco, mas quando for provar, vai lamber beiços e dedos.

Eu estava em casa sem programa de domingo quando o telefone tocou e uma voz amiga me disse.

--- Topas comer hoje um “Fiofó do Calixto?”.

Pensei logo em sacanagem, não sou chegado a nenhum fiofó e comecei a rir, mas aí a voz insistiu.

--- Então cara... Vai aceitar ou não comer o “Fiofó do Calixto?”.

 Eu não tinha programa e nem estava querendo comer fiofó algum, mas, curioso, topei.

Bem... Chegamos na casa do “Fiofó”, mesas arrumadas, sós pratos, talheres flores e guardanapos, nada de “fiofó” a vista a não ser os dos convidados ali presente e saibam que tinha de todo tamanho: Grande, caído, magrinho, seco, arrebitado e murcho, coisa do tipo com e sem gordura.  Comecei a rir para mim mesmo. Mas e o tal Calixto a ser sacrificado, onde estava, quem seria?

“Vai ficar ruim”, eu pensei, mas não vou comer fiofó algum nesta casa”.

Então chegou a hora da comilança e vi todo mundo, animado, lambendo beiço antes do tal fiofó ser posto na mesa para onde fomos todos convidados. Já prevendo uma baita sacanagem imaginei penalizado.

--- Será que vão comer o fiofó do Calixto aí em cima?

 E o tal fiofó entrou, lindo, magistral, cheirando como ninguém. E vinha dividido em tamanho e cor, cheiro e... Acompanhamentos.  Gente! Eu juro que nunca vi um “fiofó” tão bonito, nunca vi tanto camarão junto e tão bem tratado num fogão.
Tinha camarão com casca gigante, frito no alho,  médio descascado ensopado com quiabo, com chuchu, com macarrão fidelinho, tinha do tipo à baiana, tipo bobó, tinha camarão lixo frito na manteiga, camarão em empada, camarão em coquetel, enfim camarão de todas as formas e eram tantos que nem o arroz branco vimos chegar, todos de olho no Fiofó do Calixto.
 Queridos, confesso que comi o fiofó do Calixto com o maior prazer do mundo, comi até fartar, estourei a boca do balão, me entupi de comer e lambi beiços e dedos como todo mundo ali, me amaldiçoando por ser tão discriminativo antes de saber que a camarãozada a que foi dada desse nome, pertencia a nosso retardado anfitrião, o  Calixto.



 Texto por Curvello