Ela se chama
Tereza, mas não a da praia como a do conhecida melodia romântica, mas
simplesmente Tereza, a que freqüenta os botecos desse bairro do nada chamado
Várzea das Moças, distrito de São Gonçalo, RJ.
Tereza foi
casada 23 anos com um homem pobre, que vivia de biscate e nada lhe deu a mais
do que obrigação de cozinhar, lavar, passar, abrir as pernas para ele sempre
fedendo a cachaça, e como ela conta, muita porrada. Mas ela lhe deu três filhos homens, três
rapazes que nada prestam como se esperava de um pai que gostava de caçar na
mata próxima e acabou morrendo ali sozinho no meio do mato após matar um gambá.
O que se esperar daqueles com uma mãe tão permissiva?
Um dos
rapazes briga até se pisarem na sombra dele e vive dando entrada em pronto
socorros, o outro e bebe até cair, se deixa abusar quando desmaiado de bêbado,
pintarem sua cara com batom, e até já puseram sobe ela um formigueiro de
formigas lava pés, aquelas danadinhas carnívoras de jardim. O terceiro e do
meio adora umas cafungadas nos banheiros dos botecos e vive cercado de
traficantes.
Tereza mora
longe do centro do bairro do nada, mas que tem comércio, mas ela tem que caminhar a pé mais de quarenta minutos
para ir e voltar da e casa porque lá não passa além de água quando chove na rua
de terra batida. Sua casa é pobre, a que
o marido deixou sem ela saber se é dela porque é de posse e sem papeis, mas
Tereza vive lá, se entoca por lá toda a semana de segunda a sexta quando à
noite vem pro centro e se perde em botequins tomando cerveja de carona, que ela
mesmo serve da garrafa alheia sem pedir ao dono e só aparece em casa na segunda outra
vez. Na farra dos botecos ela aceita mãos no rabo, nas coxas, apertos e amassos,
e diz que só por amizade porque transar só quando em vez e com alguém escolhido,
o que se duvida que consiga sendo quem é e como é, uma mulher de 1.59 de altura,
branca, cara mais velha do que os 53 anos que tem, cabelos maltratados,
veste-se como pode em sua pobreza, e que nem sabe botar uma maquiagem quando se
atreve, parecendo mais um mata borrão. Tereza que não é a da praia, mas é a dos
botequins.
Mas quem quer
Tereza?
Tereza não
pode trabalhar, o cigarro e a cerveja enfraqueceram seu coração e adeus ao ser
faxineira. Hoje cata latas vazias para vender, comprar comida e sonhar em um dia
sobrar pra comprar um celular, uma sofredora que sofre rindo, se queixa, mas ri
de sua própria sorte.
Outro dia no bar assisti uma cena tragicômica
envolvendo Tereza. Um dos filhos, o mais velho, o que bebe de cair, estava lá
vendo as sua mãe na diversão no meio de peões bêbados e abusados, que tristeza
de se ver. Logo e como não podia deixar
de acontecer, o filho provocou briga, levou porrada na cara, caiu no chão, foi
chutado sem piedade, e ela, só olhou, pediu ao agressor pra parar. E depois o
botou pra casa, mas ficou. Tereza, para quem um copo de cerveja vale mais que a
aflição de mãe, carinho, defesa da cria, Tereza dos botequins.
Este é um
drama verdadeiro da periferia, de Niterói e daqui onde vivo, que acontece e me
deixa pensar porque depois de ter tido tanto sucesso na vida Deus me fez vir
parar, aqui e ver tanta tristeza.
Por Jorge
Curvello