sábado, 17 de dezembro de 2011

EU ME NEGO A FICAR UM VELHO

                                 
        Eu já completei setenta anos e como minha falecida mãe que faleceu porque todos tem que partir um dia, me nego a envelhecer, isso no sentido da palavra porque meu corpo, se bem que não muito, teima e me limita. E hoje mesmo querendo fazer de tudo sinto abafações, falta de fôlego, algumas anomalias, mas faz parte e não me vergo.
        Velhice como dizem que vem do espírito e a minha ali não chegou, vivo sempre sonhando qual menino, inventando qual menino, vivendo qual jovem quando velho sou. e quem dera outros velhos (e velhas), fossem assim. o mundo seria mais eloqüente, acreditem.
        O que é ser velho? Eu não sei porque acordo me sentindo o mesmo de quando foram os meus melhores tempos, adorando ver o dia, o sol, sentir a brisa, comer, dançar sozinho em meu quarto, ouvir músicas, só me prender a boas notícias do mundo, ignorando as más que desanimam. É certo que em certas performances fico retraído e uma delas é o sexo que embora nasça em minha cabeça jovem, se apresenta velho em meu órgão responsável, mas isso eu tiro de letra empregando nestas horas tudo que o mundo me ensinou para atiçar libidos e acabo ganhando premio Nobel. É certo que gostaria de ainda ter um toco rígido no lugar dessa coisa meio safada que se nega a trabalhar, mas ela não é o meu todo e acabo a derrubando, fazendo sentir que ainda vive e como eu, é jovem, poder gozar, trabalhar e depois, descansar como gosta. E em sexo, o que é um homem se não é criativo, sabe inventar, sabe seduzir, conquistar, fazer molhar, fazer parceiros se sentirem acesos? Eu sei como porque as esquinas da vida e becos escuros me ensinaram.
        No resto que vivo, sou jovem, completo, tenho pele e cara boa mesmo não sendo belo, tenho vitalidade que busco no que como e bebo, adoro desafios e tomo aguardente até minha cabeça ficar a de todos os meus anos atrás, às vezes regredindo até minha infância. Pode isso? Pode e devo.
        Fui rico de grana, hoje sou pobre, mas invento, uso meu bairro pobre e sem nada para me dar o que eu gosto, aventuras e prazeres, quer no bar do nada, quer entre amigos chulos e ignorantes, quer com parceiros aculturados que deliciam minha conversa e aplaudem. Bebo sim, não nego, mas limito aos finais de semana.
        Em casa sou marido velho para mulher mais nova, mas deixo transparecer minha juventude no trabalho forçado dos sem ajudantes, deixo transparecer minha juventude ao ouvir músicas, deixo transparecer minha juventude na cama, nas noites escolhidas e aceitas, quando então volto a ser um garanhão sem pica, ou com ela meio inoperante, mas muita criatividade que leva a parceira ao gozo seguido e gritos. Pode isso? Pode porque sei inventar, viver, ser jovem e nunca perder minha eterna juventude e, que se foda o resto.
        Tchau companheiros da idade, estou saindo para uns “paus de rato” (bebidas misturadas), em um boteco pé sujo. Coisa de jovem que detesta ficar em casa de chinelas e lendo jornais.

Eu, um velho
Jorge Curvello

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