quinta-feira, 14 de julho de 2011

UM SONHO E EU NÃO ME LEMBRO DO MEU NOME

UM SONHO E EU NÃO ME LEMBRO DO MEU NOME

Dormindo eu sonhei que era governador de uma cidade brasileira que não lembro o nome. Acordei rindo, não do sonho, mas de mim mesmo olhando acima de mim um teto descorado e vendo paredes sujas do meu quarto precisando pintura, senti o colchão duro precisando de troca que a muito não tinha e pensei na casa se desmantelando, uma triste comparação com o que via no sonho. No sonho tudo era diferente, eu tinha uma gorda conta bancária e muito dinheiro no exterior salvo de especulações, casas bonitas valendo milhões e carros na garagem, uma mulher que entendia o marido feijão com arroz de mês de bimbada e ainda mês sim mês não porque nós da política somos assim, uma mulher que aceitava calada meus romances na rua.
É tudo era felicidade naquele sonho ao meu redor, meus filhos progredindo muito, as empresas deles dando lucros estrabólicos, e acho que era porque eu era governador e isso trás sorte.
No sonho eu tinha também que trabalhar, mas só na fachada porque antes de me candidatar descobri meu dom de um sete um que na gíria é o apelido de quem adora lei do Gerson, tirar vantagem em tudo e o mundo que se exploda, e isso me valeu muito. Paguei campanha com dinheiro alheio, venci nas urnas e agora estava lá, modificado até no vestir e no falar, dando uma de bom moço prestador de seus deveres, mas isso quando o “teto” de cima deixava. Ah a presidência sempre pão dura!
É verdade que quando em vez o povo cobrava na voz da imprensa, mas era fácil driblar com promessas que eu bem sabia que nunca iría cumprir uma imprensa também corrompida na fome de especuladores também querendo se dar bem, fuçando onde não deve só para causar ibope, mas afogando as respostas em pizzas gigantes.
Agora no sonho havia o problema de uns mil e poucos favelados que ficaram sem teto e eu prometi dar para eles casa e bairro novo. Mas cadê a verba, essa sempre sumida antes de chegar lá no cofrinho das obrigações?
Ora, que me perdoem os justos, mas nessa safadeza onde me empreguei é tudo ou nada, somos nós ou eles e não pensem idiotas que a oposição briga por justiça e progresso, nada disso, ela briga por querer tomar o lugar de quem está por cima para depois, ser exatamente igual e brigar com outra oposição gulosa. A única coisa que rezo sempre pedindo proteção é contra a tal justiça divina que todos falam e até agora está demorando de acontecer. Mas quando ela vier, aí eu dou um jeito pedindo ajuda a meu padrinho de chifres.
Recentemente andaram especulando minha vida privada e descobriram ali uns podrezinhos, algumas mentirinhas bobas e alguns trocadinhos acima do que declarei na Receita federal. Bolas, que gente abelhuda não é? Outros foram mais longe, andaram fuçando minha vida sexual e lá vem fofoca que andei comendo uma colega de trabalho. Mas como podem provar adultério se ele é feito entre quatro paredes ou dentro de um carro em lugar escuro? Não sou besta de freqüentar hotel ou motel com esse meu poder todo e sendo tão conhecido. E tem outra coisa, nosso bilau não é lá tão exigente nessas coisas, espera sem reclamar o mês ou ano certo. Mas os safados puseram a boca no trombone e ouvi um boato que minha mulher quer se separar de mim. Me engana que eu gosto.
O que sei é que a coisa no sonho andava preta para meu lado, mas com essa carinha que tenho, uma cara de anjo, com a lábia que tenho acho que faria inveja até para o Sócrates, e tem mais, com meu curso de um sete um diplomado com mérito fica difícil alguém me arruinar.
No sonho eu estava feliz, vivendo minha vidinha de nababo enquanto também olhava a de um idiota dormindo tendo que acordar para tantas dificuldades e vergonhas, dureza e falta de quem o ajude. Pobre corpo aquele.
Confesso que no fundo, não valho nada, sonego, suborno, minto, sacaneio e no fim, ainda me dou bem porque quem me paga para estar aqui, costa de sofrer e ser enganado. Vide as votações de todos os anos, nesta que passou elegendo um semi-analfabeto que nem sabe o que significa a palavra política. E garanto que votaram nele pensando em sacanear o Governo, só que desta vez se deram mal, mais uma boca gorda para alimentar com dinheiro deles mesmos e um cara que jamais vai saber ajudar ninguém. Vai povão gado de corte, vota de novo pra sacanear, vota? Ah se soubessem o poder da moderna tecnologia, jamais confiariam em urnas eletrônicas.
E eu, o dono do sonho felizmente acordei, sorrindo como disse, mas não do sonho, mas por me saber também um idiota e incapaz de modificar o poço de lama.
Levantei querendo saber o nome do meu personagem do sonho porque o meu ele não tinha e estou até agora querendo me lembrar. Se alguém que ler estas linhas puder identificar quem eu era naquele sonho, deixa um comentário.

Por Jorge Curvello

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