terça-feira, 26 de julho de 2011

A SOCIEDADE DOS INSETOS

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O salão da reunião, um ralo abandonado e seco existente logo abaixo do piso do banheiro de uma casa habitada por uma família estava lotado com os representantes da fauna dos insetos, todos eles injuriados e reclamando contra a falta de ordem e vergonha reinante. Antes de começar a reunião o assunto geral entre eles era fofocas.

Um piolho graúdo comentava em fala miúda.

--- Eu ouvi dizer que vão acabar com todas as baratas.

Uma barata, ofendida, reclamou.

--- Acabar conosco porque se existe corja pior?

O piolho e o resto dos insetos quis saber perguntando em coro?

-- Pior que vocês, mas quem?

A barata, orgulhosa estufou o peito e não se fez de rogada.

--- Políticos!

Houve gargalhada geral e o piolho perguntou.

--- Onde ouviu sobre isso?

A barata fez suspense, mas depois revelou.

--- Na cozinha aí em cima, mas você, piolho, não vai gostar de ouvir.

O piolho ficou mais curioso.

--- Lá vem mentira. Fala logo bicho fofoqueiro.

A barata riu do insulto e contou.

--- Olha... O homem disse mesmo assim pra mulher em resposta a algo que ela falou; --- Ora meu bem, político é pior do que piolho, incomoda e não tem jeito, infesta.

O piolho calou e recolheu para um canto, mas a barata continuou nas bravatas.

--- Já nós baratas, somos de roer, ninguém consegue acabar conosco.

Uma pulga foi vingativa.

--- Então a comparação do homem foi errada, deveria ter comparado o político com as baratas.

A barata calou e um grilo, cheio de ouvir abobrinhas pulou no pódio bancando orador.

 --- Onde está a corja de enganadores, cadê os nossos benefícios?

Uma barata cascuda, rara por quase extinção se levantou.

--- Devem estar passeando com suas madames, veraneando enquanto aqui nós nos estrepamos. Veja só minha situação de sem teto e quase aniquilada por extinção... E devo isto a quem, a quem?

 Uma pulga miúda gritou para ser ouvida.

---Eu ando cheia de balelas, enrrolações, mentiras. Enquanto não fazem nada, o homem está nos aniquilando.

Uma centopéia rastejou cem passos à frente.

--- Eu que o diga, ontem mesmo escapei de uma boa. Quase sou atingida por querosene dando uma voltinha lá em cima

Um barata meio amarelada perguntou admirada.

---Querosene? É uma nova arma é?

A centopéia discordou.

--- Que nova arma que nada, é pura necessidade depois que os preços do aerosol disparou.

Uma barata vermelha macho perguntou.

-- Cadê o mosquito, porque ainda não chegou.?

Uma outra respondeu rindo.

--- Deve estar dormindo o safado. sabe como mosquito é, bateu luz, ele dorme. E além do mais, como vai chegar aqui neste buraco?

Ouviu-se uma voz fina, quase um zunido vindo da entrada do ralo.

--- Dormindo é o escambau,eu passei foi um perrengue pra conseguir entrar aqui. fecharam a entrada larga, os filhos da mãe lá de cima, e tive que me esgueirar caminhando, um sacrifício para quem tem essas pernas longas, e olha o estado em que ficou minha asa esquerda?

Um cupim, sempre quieto riu e comentou debochado.

---- Nossa... Arrasaram a asa dele. Vejam só que frangalho? Esse ai, por longo tempo não suga mais ninguém.

O mosquito devolveu a alfinetada.

---  Eu sugo sim, pode deixar comigo, mas quanto a você, cuidado que ouvi lá em cima... Ouvi que estão chamando o Jimo Cupim.

 Pulgas, baratas, e toda sorte de inseto ali no ralo, tremeram.

--- Não podem, é chacina, alguém tem que fazer alguma coisa, criar lei, criar adendo, sei lá, mas algo que impeça ao homem dessa barbaridade.

O mosquito, ajeitando o que lhe restou da asa esquerda com a pata traseira replicou.

--- Acordem Alices do mundo dos insetos. Eles querem mais é que diminuam nossa população pra poder viver melhor na mordomia.

Uma barata francesa, cheia de sotaque se adiantou nervosa.

--- Ce n'est plus vrai... Isto é a mais pura verdade. Outro dia, quase fui esmagada por um chinelo e um dos nossos governadores pertinho de mim, nem me avisou, tratou de salvar a quitina dele e me deixou na reta.

Outra barata maior consertou.

--- A amiga fina aí quer dizer chinela, não é?

A “francesinha” de asas luzidias não perdeu tempo”.

--- Eu disse chinelo, e foi chinelo porque quem tinha na mão era um homem e homem não usa chinela, isto é coisa de mulher e mulher, antes de usar a tal “chinela”, grita e trepa em cadeira.

Todos riram muito concordando, mas o grilo pediu silencio.

--- Tai no que dá fazer reunião. O assunto é sério e vocês logo descambam pra gozação.  Merecem bem o que sofrem.

Uma aranha, antes todo o tempo permanecendo calada escutando de um dos cantos do ralo deu o ar da graça.

--- É o que se esperava de uma sociedade tão fraca, desunida como são todos vocês. Não é por nada que viram comida nossa.

A barata vermelha, sempre temendo e odiando a aranha respondeu.

--- Fala assim porque tem oito pernas e não seis como nós, não pertence a nossa sociedade e está aí de X-9 talvez.  Mas saiba que chinela ou chinelo, foram feitos pra você também e deles somente escapam aquelas suas parentes subdesenvolvidas que permanecem somente no domínio de suas teias.

A aranha se ofendeu.

--- Não pertenço a esta sociedade e nem sou hiper desenvolvida. Tudo isso é só na sua concepção querida, porque os lá em cima têm a todos nós como pragas e dependendo da cultura deles, até me chamam de inseto... Pode tal humilhação?


O grilo voltou a se posicionar inquiridor.

-- Bem, antes que como sempre nossa reunião descambe pra panacéia, o que vamos fazer?

A pulga foi a primeira a saltar.

--- Eu meu querido, vou achar depressinha um cachorro e me esconder nos pelinhos dele, de preferência vira lata de rua pra não ser catado ou borrifado. Como vê, sou esperta meu caro.

A sociedade de baratas, em coro adiantou.

--- Nós aqui da classe mais unida vamos dar um jeito e achar meio de não nos encontrarem. Quero ver os homens vencerem essa guerra que já começou faz milênios. Somos osso duro de roer.

Uma lacraia velha gritou.

--- Igualzinhos aos políticos dos homens. he he he he.

Moscas antes caladas responderam em coro.

--- Boa comparação

 O grilo, querendo bancar o mais inteligente gritou.

--- Não devemos esmorecer. Acabo de pedir socorro às formigas.

A aranha riu de enrolar pernas.

--- Quais, aquelas branquinhas e quase invisíveis que  adoram açúcar e esmagam ao menor toque de dedos? Faça me rir.

O grilo protestou.

-- Que mane branquinha que nada. Chamei mesmo foram os negões e vermelhões que botam para quebrar.

As baratas tremeram.

---- Quem, os cabeçudos? Agora mesmo é que ferrou com todo mundo.  Breve isto aqui vai ter domínio e todos nós pra existir vamos ter que pagar pedágio e se mijar fora do penico, somos jogados na vala. Essa casa vai virar morro do Alemão.

O Grilo meio arrependido vacilou.

--- Mas  quem era melhor chamar,. os cabeçudos ou as lavas pés?

A pulga riu de dar voltas.

--- Benzinho burro, acorda. Um ou outro é o mesmo prejuízo, a diferença só está no nome. Um vive as margens da lei, as outras são as que fazem as tais leis e os dois, vivem na mais completa simbiose.

Um  gafanhoto ali por descuido se intrometeu.

--- E então, o que seria mesmo melhor. pelo que vejo vocês estão no mato sem cachorro.

A pulga deu uma de inteligente.

--- O melhor é todos aqui se compenetrarem do que são e porque são, deixar de ser idiota e perder tempo em votação que não leva a nada. Devemos é parar de dar contribuição à corja dos encostados e começar a botar ordem no galinheiro

Uma barata  de ralo deu um gritinho.

--- Uiiiiii.... Não fala esse nome que me arrepio só de ouvir.

A pulga subindo em um cano amassado continuou o discurso, empolgada.

---- É como digo a todos vocês... Nossa sociedade precisa se fortificar, ganhar quorum, sair as ruas, digo, dos ralos, enfrentar o monstro de sete cabeças e botar pra correr. Um por todos e todos por um.

Devagar e sem a pulga perceber o ralo foi esvaziando e quando ela percebeu somente o mosquito de asa danificada estava ali.  Assustada ela perguntou para ele.

--- Ué, cadê todo mundo?


O mosquito zuniu.

-- Fizeram o que sempre fazem, foram embora porque escutar verdade incomoda e preferem o comodismo. Não esquenta que daqui a algum tempo se reúnem de novo só pra repetir.

A pulga intrigada perguntou.

-- Mas e você, porque ficou?

O mosquito apontou com uma perna para a asa rota.

--- Ir pra onde se aqui está melhor. Lá fora a luz me cega, aqui estou protegido e com sorte aparece um ratinho cheio de sangue pra eu chupar. Se não aparecer, dou meu jeito. Sou mosquito brasileiro amiga e tenho jeito pra tudo.

Por Jorge Curvello
























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