sexta-feira, 24 de junho de 2011

APOSENTADORIA

Aposentei-me pela Varig aos vinte e sete anos de vôo sob condicional no Instituto Aérus de Aposentadoria Privada, o órgão ao mesmo tempo meu benfeitor, como somente feitor que ela arranjou para nós. Passei o primeiro ano matando velhas saudades do tempo de vagabundo e logo depois sem agüentar o tédio me profissionalizei como ator, estando até os dias de hoje na ativa. Foram anos de assistido corretamente pelo Aérus o Instituto de Aposentadoria Complementar criado pela Varig, recebendo um benefício igualado ao meu salário da ativa que me deixava confortável para seguir minha velhice podendo viver de hobby e assim como eu perto de mais de oito mil assistidos.
Mas infelizmente a própria Varig que isso nos deu isso nos tirou enveredando por má gestão que a foi levando a uma proposital destruição porque muito de nós, os verdadeiros prejudicados em toda a história, não acreditamos que uma multinacional do seu porte e com tanta credibilidade no mercado fosse a bancarrota assim tão depressa e sem defesa. Não, isso não poderia acontecer e se aconteceu deve te sido um golpe, um sujo e monstruoso golpe desumano para enriquecer alguns em nome da destruição de milhares.
Casos semelhantes aconteceram com a Pan American Airways, com a Trans World, Swissair e com outras grandes empresas do porte da Varig, mas sabemos que por trás de todas existe a mão da ganância e da falência proposital para aluem lucrar. Uma empresa fecha e com ela morrem suas dívidas, mas seus condutores sobrevivem e bem de vida. Qual então a explicação?
No caso da Varig algo foi bem mais planejado certamente. Porque primeiro o Aérus foi criado e a Varig foi sua gestora, depois veio à obrigação de a ele pertencer ou não se trabalhava na Varig, e com isso começaram os vultosos descontos em folha para serem repassados para o Aérus que, por sua vez, foi permitido de existir pelo governo federal, natural fiscal das aposentadorias complementares e que a ele se assinou como fiscal. Depois começaram as inconseqüências avassaladoras, as compras de modernos aviões insustentáveis pelo preço dos combustíveis e a nossa conhecida Varig antes tão avaliadora deixou de fazer isso. Mas em nome do quê? Promessas de um governo que ela mais do que ninguém sabia não honrar com palavras? Afinal ela derrubou assim a Panair do Brasil, usando o governo.
E a ciranda do mal avançava inexorável a cada dia, a cada mês e a cada ano, aumentando as dívidas da empresa fazendo gastos desnecessários de compras desnecessárias, visto a frota de aviões que a empresa possuía e hoje é sucata espalhada por quatro cantos, visto as belas louças do serviço de bordo que a Varig sempre usou e a tornou dona do prestígio obtido, vistos os uniformes sendo trocados sem necessidade, enfim diversas coisas desnecessárias e sempre idéias de diretores, gente que aos poucos fez diminuir o padrão Varig. Mas ainda assim ela era ainda a melhor, a mais procurada, a mais elogiada em todo o mundo, nem somente no Brasil e seus aviões voando sempre lotados.
. E agora a Varig surgia completamente endividada com seus credores, mais principalmente com a Boeing que ameaçava tirar-lhe os aviões, escondendo a verdade recorrendo ao governo que não era bobo e lhe disse não, mesmo devendo para ela fortunas de uma combinação que nunca cumpriu, o repasse tarifário das passagens vendidas no Brasil, uma quantia que daria para amortizar a dívida dos repasses que ela tinha com o Aérus um outro que incompreensivelmente passou a lhe ajudar com empréstimos seguidos e tudo feito em maracutaias de papel, contratos sem valor jurídico. Mas porque fez isso, porque ajudava a inadimplente e a quem lhe prejudicava, por medo da Varig afundar? Ora, ela não era mais sua única credora e a resposta está onde se vê, o Aérus continuando de vento em popa apesar de jurar que não.
E o que foi feito com o dinheiro da venda dos hotéis da rede Tropical antes pertencentes à Varig? E a Fundação Rubem Berta, criada e antes pertencente à Varig onde entra nesta sujeira toda? Diretorias demais talvez.
Notícias de quebra, notícias de prejuízos, notícia de fragmentação para ajudar. Mas ajudar a quem? A Varig ou aos seus gestores? E o nosso Sindicato, onde andava, porque não fez nada?
E o pior aconteceu, A Varig, ou o que restou dela, foi finalmente quebrada, uma parte dela vendida, a outra endividada escondida sob um novo nome, Flex, e a essa o governo disse não mais uma vez acabando por enterrá-la, assim como disse não ao ser cobrado na justiça das responsabilidades que tinha sobre nós, os aposentados e prejudicados do Aérus, o Aérus que diante disso tudo parou de nos assistir e ha cinco anos vem somente pagando o que chama de reposições no valor de 6% do que nos deve pagar. E com todos eles passando bem e sorrindo também, mais de dezessete mil funcionários choram dinheiro perdido, outros oito mil já aposentados amargam a miséria e a vergonha, a perda da dignidade ao ter que ser socorrido por amigos e familiares com grande quantia de uma carteira de aposentadoria presa no Aérus que, sabiamente o governo interditou.
E onde anda nosso Sindicato lutando com rosas em confrontos cavalheirescos com o governo onde deveria usar espada, antes do pior acontecer, saber e nos avisar, ou se já depois instigar a luta de verdade, do berro e da força? Este. È o mais sujo e escandaloso golpe acontecido no Brasil, um conluio de três falsos prejudicados, Aérus, Varig e governo federal, unidos contra os velhos e futuros velhos do nosso país porque nessa tragédia toda somente nós, funcionários da Varig e aposentados da Varig, saímos perdedores. Uma empresa acabou, mas não quem a enterrou e esses todos nós sabemos estarem em boa situação.

Porém se conseguiram apagar a empresa Varig, jamais conseguirão apagar o nome dessa Companhia aérea que foi e será sempre o maior orgulho do país, não apagarão o amor que muitos dos seus prejudicados ainda assim sentem por ela, não apagarão sua história até onde ela existiu como orgulho, nem o orgulho de um dia muitos de nós termos ajudado na sua ascensão e construção, isso ninguém. conseguira

Eu nunca amei a Varig, e se amei alguma empresa aérea ela foi à chamada Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul onde comecei a voar. Da Varig sempre entendi seu mecanismo apesar de não concordar, mas devo a Varig tudo o que fui e que consegui, mesmo que agora nesse destino triste de ser um dos seus aposentados, mas coisa que suplanto porque enquanto verdadeira Varig, ela soube me honrar e retribuir toda a admiração sentida.


Fim

.Retirado do livro de Jorge Curvello:
Varig – O ocaso da estrela
Brevemente a venda no site da Amazon

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