terça-feira, 9 de agosto de 2011

VARIG PP-VLU – DESTINO: DESAPARECIDO EM VÔO

           

Terça feira, 30 de janeiro 1979, ,manhã fria e clara no típico dia de inverno japonês. Sauders, co-piloto ou segundo oficial de bordo jovem da Varig pernoitando em Tókio num hotel acorda e pega o telefone discando o número da portaria que o transfere para um dos quartos acordando outro co-piloto sem colega recém chegado algumas horas antes àquele hotel. Deitado de barriga para cima olhando  teto ele ouve a voz do amigo e pergunta.

--- E aí marinheiro, qual avião você trouxe?

O outro, com voz de sono responde.

--- O PP-VLU.  ---- e emenda uma pergunta --- E aí comeu alguma “vesguinha” nestes dias em Tókio?

Vesguinha era como os tripulantes brasileiros chamavam as japonesas e Sauders riu, mas nada respondeu. Depois a conversa técnica continuou sobre o avião, a rota e a carga que ele iría levar para o Brasil, distante dali no outro lado do mundo.

Horas mais tarde a bordo daquele avião carregado de carga nos porões e na cabine transformada Saunders sentado à direita no cock pit vendo painéis iluminados respondia ao cheque perguntado pelo comandante do vôo Gilberto Araújo, um homem que não fazia muito tempo teve a vida ameaçada ao pousar outro avião B-707 em Paris, em um campo de cebola pressionado por incêndio a bordo que matou mais da metade dos passageiros e da tripulação. E atrás deles dois outros dois tripulantes componentes daquela tripulação composta, de pé sorriam e conversavam com um engenheiro de bordo sentado diante de uma mesinha pequena cheia de papéis e instrumentos de navegação, era a varig voltando para casa.
Era o início da viagem de volta do Boeing cargueiro da Varig para o Rio de Janeiro passando por Los Angeles nos Estados Unidos e Lima no Peru, uma viagem de sete horas presumíveis com vento de popa empurrando o avião e que para aqueles ali dentro dele seria interrompida em LAX, sigla da cidade dos Anjos na América, local onde haveria troca de tripulação.
Silvando em seus quatros motores o jato aguardava em um setor do aeroporto de Narita a liberação da torre para a decolagem e quando ela ocorreu começou a se movimentar devagar rumo a cabeceira da pista indicada, passando com a rosa dos ventos pintada iluminada na sua quilha por entre outros aviões estacionados no pátio até alcançar a pista e decolar, começando ali uma viagem sem fim diagnosticado. O jato carregava entre sua carga uma valiosa coleção de quadros de um pintor famoso avaliada em milhões e dentro dele seis seres humanos contentes, completos e realizados em seus sonhos de tripular um avião.
A decolagem de Tókio foi perfeita, o avião embicando para um céu enevoado e vencendo a neblina até se posicionar em meio a um cenário divino estrelado, tendo abaixo um oceano imenso e negro que não aparecia mais e acima dele a imensidão de toda uma galáxia. Os poderosos motores funcionavam a contento gastando um combustível previamente tanqueado e com capacidade de o conduzir até além de LAX porque assim são tanqueados os aviões Pouco depois a cabine de comando já vazia sentia a falta dos tripulantes reservas que depois de comer haviam se recolhido ao sarcófago, o apelido do alojamento de descanso para eles situado logo atrás daquela apertada cabine. Na cabeça de Sauders surgiu um pensamento, o de como estaria se sentindo novamente em comando de um avião aquele homem que praticamente acabara de escapar da morte a bordo de um jato semelhante causador sem culpas da morte de diversos passageiros e tripulantes?

O céu aberto à frente anunciava escuro o marasmo de horas de prisão, horas deixadas à vontade para alguma conversa habitual, cismas, sonolência ou labuta intercaladas, horas de sempre para quem estava acostumado a voar e ser prisioneiro de um avião. Abaixo deles e muito para trás uma torre de comando japonesa mantinha o VLU sob controle de fonia monitorando seu avanço, mas de súbito a comunicação sumiu da frequência e não mais se anunciou como devia, começando então em terra uma seqüência de avisos, chamadas e providências para o localizarem diversdas inúteis tentativas o cargueiro da Varig, tentativas doloridas que se estenderiam dali até o Brasil e a América do Norte, por mais dez dias com auxílio de turma de busca e salvamento sem nada encontrar poque o Varig PP-VLU desapareceu.
Dias depois e sem vestígios daquele avião sendo achado em uma área abrangente do possível de seu trajeto as suposições surgiam desordenadas e meses depois viravam teses fantásticas de que ele havia desaparecido por diversas razões. Um profeta dizendo ter o VLU caído na região gelada do Àrtico em parte nunca antes navegada,  outro dizia ter o avião sido sugado por um disco voador e outras pessoas mais realistas suspeitavam dele ter sido abatido por jatos russos tentando proteger um segredo de estado em uma área vizinha a de seu percurso. De todas a menos surreal era a que apontava para a possibilidade do avião ter sofrido uma súbita descompressão de cabine e toda a tripulação sido morta  pela falta de oxigênio,  ficando então o VLU sem pilotagem humana o jato vagando no espaço imenso  seguindo para um lugar onde jamais o poderiam encontrar após esgotar todo o seu combustível  e possibilidade de vôo.
Mas antes disso tudo começar a acontecer e a trinta minutos fora de Narita no Japão, a mais de dez mil metros de alturas sobre um mar negro e um céu pontilhado de estrelas, uma tripulação de três homens uniformizados driblava o sono ou a expectativa de uma aterrizagem sabida ainda longe demais. Mais para trás deles outros três  trajando  sungas porque assim se comportam os tripulantes dentro de um avião cargueiro onde podem abandonar as etiquetas e deveres com a sociedade ficando a vontade, seminus como quase todos os homens gostam de dormir,  começavam um farto período de descanso alheios a uma sorte duvidosa lhe ameaçando desconhecida através dfe uma escotilha com rahaduras que se alargavam a cada avanço voado.  E o resto era silêncio e carga inerte dentro de iglus, objetos inanimados e sem almas inerentes a sorte que lhes cabia ignorando a fenda se alargando na vigília da direita da cabine de comando do Boeing em seu lado externo, um silencioso prenuncio de morte.
 Ignorando o perigo Saunders olhando para os instrumentos oscilantes pensava de como era palhaço e brasileiro aquele colega de vôo que agora dormia em Tóquio talvez sonhando com uma vesguinha japonesa e o invejando poder dormir na horizontal, tendo ao lado a figura simpática de Gilberto Araújo talvez pensando no acidente de que escapou em Paris e imaginando como seria ter morrido nele. Logo atrás dele e ao lado direito o engenheiro de bordo olhava os sismógrafos sabe-se se lá com que pensamentos em horas primárias de uma longa iagem noturna que lhe deixaria em terra no mesmo dia da partida do Japão em horas de seu começo,  começando a entediar sem nada ter que fazer a mais do que saber por onde estavam voando, levantar quando em vez para pegar um café, ir ao toalete e voltar a seu posto para continuar a inexorável espera.
 Um pouco à frente dele à vigília começava a ceder à pressão interna, aumentando o grau até ele ficar insustentável de resistência e então explodir arrebentando o suporte de proteção do outro painel que saltou no ar deixando em um curto espaço de tempo que todo o ar contido dentro do avião esvaísse por aquela pequena abertura levando o que podia e principalmente todo o oxigênio da aeronave ao mesmo tempo em que um frio mortal de mais de cinquenta graus negativos invadia o cock pit começando a matar aqueles seres viventes.
Não houve tempo para mais nada além do susto, apenas enrijecimento dos músculos e pulmões murchos sem ar para sugar, corpos esfriados como gelo passando da vida para a morte sem sentir e no sarcófago o mesmo acontecia com os outros três, esfriados e tendo o sangue congelado em questão de minutos.
Sem mais governo ou controle humano o Boeing começou uma mudança de rumo se afastando da rota traçada, se perdendo no espaço sobre o oceano Pacifico, voando até seu combustível terminar. Longe dali em algum lugar uma mulher acordou sentindo no peito uma terrível angústia, levou uma das mãos ao coração e rezou sem querer uma Ave Maria voltando a tentar dormir sentindo aquele peso angustiante e uma saudade anormal de um marido ausente em sua cama que sabia trabalhando a bordo de um avião, esperando por ele como fazia há muitos anos.
O sol da  manhã iluminando a paisagem desértica de Los Angeles não refletiu no corpo metálico do VLU em sua aproximação para o aeroporto e os telefones de uma sala de controle estavam permanentemente ligados com o Japão  de onde desde a noite da véspera veio o aviso de que o Varig PP-VLU desapareceu. No Japão diversos barcos, helicópteros e aviões militares e civis procurava avistar destroços de alguma aeronave no mar, manchas de óleo sobre a água ou qualquer vestígio que levasse a uma explicação do desaparecimento do VLU, mas nada foi encontrado. Desz dias depois eram dadas como encerrada as buscas e a a varig cabia prestar socoro aos familiares dos tripulantes desaparecidos e lamentar a perda de um bonito avião. Viúvas ainda choravam o desaparecimento dos maridos imaginando na esperança vã de um dia os ver entrando por uma porta ou telefonando de algum lugar, para elas, náufragos sobreviventes que o mundo não esquecia e geravam suposições  advéersas e inusitadas.
Um profeta anunciava o VLU caindo em região inóspita do pólo Ártico, um outro dizia o avião ter sido sugado com seus tripulantes para dentro de um disco voador e alguém presumia o VLU ter sido derrubado em pleno vôo por se aproximar demais de uma área em teritório russo onde estava sendo feito uma experi~encia secreta. E de todas elas a mais aceitável dizia o avião ter sofrido uma descompressão que matou instantaneamente sua tripulação e ter vagado pelo espaço até acabar sua força e se perder no mar longe de qualquer ponto imaginado, mas a verdade nunca foi descoberta e o mistério continua.
Naquela manhã de 14 de setembro de 1979,  a mais de sete horas após a torre de controle perder contato com uma das aeronaves decoladas do narita, sem ninguém saber um avião tendo uma rosa dos ventos tatuada na calda vagava quase que silencioso por sobre o oceano, longe de olhos humanos ou de animais, sozinho nho espaço que cada vez mais o atraia para o mar, aparado talvez por mãos invisíveis de anjos  que o fez silenciar de vez e amerisar inteiro no pacífico logo sendo escondido por suas ondas, sem deixar marcas, sem deixar vewstígio. Tratavam os anjos de dar sepulura nobre a seis anjos sem asas, Icaros da aviação comercial que um dia sonharam em ganhar o espaço e nele viver, morrendo então pela andácia, mas xcontinuando vivos porque seus corpos jamais seriam encontrados.
 Muitos anos mais tarde ainda lembrados, uma viúva olhava no céu um avião passar em uma noite fria de setembro igual aquela de 1979 e de seus olhos brotavam lágrimas, lágrimas de saudade eterna e da falta do marido morto que lhe deixara um benefício que agora como o marido estava lhe sendo roubasdo, a pensão do Aérus, um órgão criado pela dona da Rosa dos Ventos  e ironicamente a do cargueiro PP-VLU que lhe roubou o companheiro.
 E a mim de meu pequeno posto de lembraças me resta dizer adeus ao comandante Gilberto Araújo heroi por duas vezes, adeus ao meu amigo Saunders segundo oficial que sempre estimei e admirei, adeus ao Gusmão, aos seis heróis descansando em algum lugar seguro e invisível, na terra e no passado, mas sempre relembrados no presente de cada um de nós tripulantes da Varig.



E em algum lugar arquivado nos órgãos do Ministério da Aeronáutica um laudo descansa dentro de uma pasta intitulada:  Varig PP-VLU – DESAPARECIDEO

Autoria do,
Comissário de bordo Curvello

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