domingo, 29 de janeiro de 2012

O MUNDO GAY DE RAMIRO

 
Ramiro nasceu eu Uberaba, Minas Gerais, nasceu homem, mas por dentro, gay, mas gay mesmo, não mulher como muitos pensam que  todos os gays são capazes de se sentir. Dizem as más línguas que sua parteira falou que quando ele nasceu, inexplicavelmente o sangue da placenta era cor de rosa e não vermelho e isto talvez já era um indício de que o futuro Ramiro era gay, adorava a cor rosa que é fresca e deslumbrante e deve ter tingido a placenta da mãe com seu xixi.
Ramiro cresceu Ramiro porque ainda não tinha autonomia para mudar o nome do batismo, mas já era gay explicito, nos gestos, no falar, no andar, no comer e beber segurando xícaras com aquele dedinho míndinho esticadinho de frescura.  Ficou homem e aí botou bronca, já no serviço militar sendo deixado de lado ou a tropa toda ia se dar bem no alojamento em hora de dormir. Diz quem se alistou com ele que ele gritou com o major dizendo que se fosse servir, só usaria farda cor de rosa.
Homem por  fora, mas gay por dentro, Ramiro não se importava com chacotas, ofensas, cantadas, nada que revelasse ao mundo que ele era gay, sobrevivia a tudo macho como todo gay assumido, fazendo caras e bocas, beicinhos, tremendo cílios etc e tal, mas logo mudou seu  nome para Charme, pelo menos assim passaram a lhe conhecer e chamar, indo morar sozinho em um apartamento de paredes rosas e lilás, com arranjos de flores rosa choque, tapeçaria rosa claro, o tudo onde afora a cor rosa somente a branca entrava.
    As xícaras de Charme eram de fina porcelana importada, com desenhos em rosa e dourado, os arranjos eram de penas de pavão e plumas de avestruz, estas tingidas de rosa de varias tonalidades para dar efeito, os móveis variavam entre cor rosa claro, escura, com frisas douradas, e alguns apliques que ele inseriu, em lantejoulas de cores cintilantes. O banheiro era um escândalo, espelho para todo lado, purpurina no armário, sabonete desenhado, toalhas felpudas brancas e rosas, e até o chuveiro dava pinta, colorido de rosa púrpura.  Charme somente almoçava em pratos quadrados, enormes, com talheres dourados para carne e prateados para peixe, sua comida era mais saladas do que sólidos pesados, na verdade era um passarinho, ou melhor, uma rolinha ou colibri, para comer.  os filmes que apreciava era do Almodóvar, gostava de ver vídeo de balet, escutava clássicos intermináveis e de música moderna somente as do filme Priscila ou The Gay Boat.
Charme tinha uma cadelinha da raça maltesa, nada de branca, colorida de rosa salmon que dormia de pantufas como ele em sua cama, usava digitar em um computador rosa, assistir televisão em aparelho de tv cor de rosa, e na hora de dormir abusava dos cremes e bobs nos cabelos longos. Mas nada feminino, mas sim gay, muito gay.
Ele não usava ter amante, usava quando em vez alguns peões para matar sua fome de homossexual, mas tinha um namorado escolhido a dedo e o pobre teve que por obrigação que aprender a falar francês que ele pagou o curso, somente para le chamar de mon amour ou ma petite. Com o bofe sempre estilizado ele só saia para freqüentar ópera e nestas horas deixava o rapaz um pouco livre para não dormir na cadeira, mas presente na hora de entrar e de sair da platéia, isso era uma obrigação e como todo gay que se presa, pagava bom “salário” para isso.
Dizem que na sua obsessão gay ele um dia tentou que o síndico do prédio pintasse a fachada de rosa, só não conseguiu porque o homem era homofóbico.
Por vontade dele, até a água que saia das torneiras seriam cor de rosa e a casa toda cheiraria e jasmim e no dia em que morreu, acharam um ultimo desejo escondido junto com uma boa quantia em dinheiro dentro de um envelope rosa dirigido a quem lhe fosse enterrar, queria ir dentro de um caixão cor de rosa em um carro aberto, cheio de plumas e paetês. Mas junto ao bilhete vinha outro, uma praga para quem lesse e não cumprisse seu último desejo.
Foi um tio de Ramiro Charme quem fez o enterro e o homem suou para cumprir o desejo do sobrinho gay, pagou caro, rodou cidade atrás de marceneiro, mas conseguiu e no dia que abriram a cova para botar lá dentro Charme gay em seu caixão rosa choque, dizem que chuviscou purpurina vinda não se sabe de onde.
Três anos depois quando foram retirar os ossos re Ramiro, eram os de Charme que estavam lá, ossos rosados e a caveira sorridente da cabeça parecia agradecer tanta frescura.  Até hoje ainda existe o apartamento de Ramiro, fechado, a venda, mas ninguém se atreve a comprar, nem seus amigos gays que temem uma volta de seu espírito para implicar com o novo dono se por acaso mudar a cor.  

Por Jorge Curvello

Um comentário:

Não desmereça a Internet com palavras chulas.
Obrigado