Artista eu sempre fui desde menino, desenhava bem,
depois pintei quadros, e na vida artística tive sonhos em me tornar ator. Cantar
sempre cantei, com voz de cotovia rachada nos tempos de menino até melhorar e
aprender canto um pouco, me registrar como cantor na Ordem dos Músicos, depois
desistir dessa carreira porque não era mesmo minha praia.
Como ator, ainda jovem tentei a Herbert Ritcher, havia
oportunidade em um filme de cangaço, mas desisti com medo de não saber montar a
cavalo e depois, adormeci em mim esse desejo, mais levado por aparecer, ser
famoso, do que propriamente pelo gosto da interpretação.
Tornei-me um
comissário de bordo e ali interpretei vários papéis a bordo dos aviões, nas
chefias, entre os amigos e passageiros, enfim era o ator em mim se
pronunciando, e nos tempos vagos dava uma de show-man me apresentando por hobby
em clubes, boates e festividades. Ali valia a arte da dublagem de movimentos de
algum cantor e dança conforme me aperfeiçoei nos anos 60 nos programas de rádio
(Mayrink Veiga em Hoje é dia de Rock) e televisão (Canal Rio, programa do Jair
de Talmaturgo ou do Chacrinha) que usavam de explorar essa modalidade sem pagar
cachê. E então me aposentei aos 53 anos
de idade e fui à luta, fiz cursos de aperfeiçoamento, fiz peças e acabei com um
DRT na mão, o registro que me tornou oficialmente ator de verdade.
Estava com
quase sessenta anos de idade, já não sentia mais desejo de fama ou aparecer,
gostava de interpretar e era só, mas nada de graça porque agora, era de fato um
artista regulamentado.
A vida de
artista no Brasil é difícil, diferente de outros povos onde dão valor à arte e
aqui, dão valor ao quem indica ou simpatia pessoal. Sendo assim acabei na
Globo, mas nunca passei dos Recursos Artísticos onde registram atores e deixam
de molho, aproveitando o perfil e não a capacidade, pagando cachê menor do que
contrato. O fato de sentir que não me davam
oportunidade de um teste para uma produção onde eu poderia e com capacidade
mostrar meus dons de verdade, meu valor, me fez esmorecer, largar de mão e
ficar de molho a espera de chamadas que foram diminuindo a partir de 1998 até
desaparecer. Aconteceu então a queda do
Aerus e a necessidade de faturar alguma coisa, mas o corpo e a mente já não
queriam mais e enfrentar estúdios e sets de gravação por doze horas não mais me
apeteciam nem por necessidade.
A Rede Record me aceitou como ator diarista, pertenço
a uma parte do departamento de elenco onde somente o perfil é procurado, não a
arte, e como na Globo, comecei a fazer pequenos diminutos papeis, por bons cachês
é verdade, mas só isso, nada de poder sentir o personagem e mostrar se sou
capaz. São uma, duas ou tre falas
somente, ato curto e de minutos, mesmo contracenando com atores de peso, mas
figura terciária, sem nome nos créditos da produção, algo que seria muito
valioso para currículo. Isso não é ser
ator, nem figurante porque estes não são permitidos de falar em cena. É um cachê
melhor, mas a comparação é a mesma.
Na Record tenho
mordomias, mais por ser idoso, nunca por ser ator. Ela nunca abre as portas dos
testes, algo que poderia me lançar no estrelato, e eu já nem sei se quero isto
porque não sei se aturaria assédio da fama, se dominaria à vontade de ficar em
casa em lugar de dias seguidos em meses dentro de estúdios, aturar as picuinhas
dos diretores, os desmerecimentos, a competição dos colegas de trabalho, os
fuxicos, as fofocas, tudo que já provei sendo comissário de bordo, e odiei. Fico então aqui, dentro de minha casa
brincando quando em vez de ser ator, cantor ou dançarino, são coisas que sou
por instinto. Mas pergunto para mim
mesmo onde está esse ator que tem número e DRT? Onde está meu valor apregoado
na telinha ou sobre um palco? Onde anda
o ator Arlindo Duplo que assim me fiz e sub-intitulei?
Do ator que por
direito sou conto apenas com um documento, do que não fui e não sou culpo minha
preguiça e falta de perseverança, do que talvez poderia ser, deixo por conta de
um bom teste que somente assim poderia mostrar se aprovado e enfiado em alguma
produção como ator, não coadjuvante.
È minha
gente... Um dia que quis ser famoso, aparecer, outro já não quis mais, em outro
ainda faltou garra e desisti e hoje, apenas sorrio quando alguém me chama ou
diz que sou ator. Será que eu seria
mesmo um astro? Será que faltou oportunidade de provar? Não sei e pouco isso me importa agora aos
setenta e dois anos de idade.
Pelo próprio
Arlindo Duplo (Jorge Curvello)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não desmereça a Internet com palavras chulas.
Obrigado