terça-feira, 14 de janeiro de 2014

ARLINDA, A QUE NÃO SABIA SER PUTA.


 

 

Isto aconteceu nos meados dos anos 50 e não é invenção, foi uma triste realidade a que testemunhei em anos onde ainda nem mulher como fêmea conhecia, mas os rapazes e garotos de onde me criei, sim.

 Arlinda era uma linda moreninha de corpo bonito, pouca altura e cabelos castanhos claros cortados na moda, aquele jeito bonitinho de aparar logo acima dos ombros e usar, revoltos, por toda a cabeça parecendo despenteados.  Cedo ainda, talvez aos seus dezesseis anos ela se perdeu, foi desvirginada por algum sabido e depois expulsa de casa pelos pais raivosos.  Sem ter para onde ir, acabou na sarjeta.

 Arlinda ficou conhecida no bairro de Ramos, subúrbio da Leopoldina por andar quase nua pela rua, às vezes na madrugada voltando para a favela onde se entocou somente usando calcinha e porta seios, um escândalo naqueles anos.  Mexia-se com ela falava palavrões, outro escândalo e as mulheres a discriminavam.

Não raramente era vista embriagada ou sob poder de drogas da época, o éter que se cheirava ou comprimidos, voltando das suas orgias que ninguém sabia onde acontecia, mas deixava mostras no seu corpo maltratado, às vezes mostrando queimaduras de cigarro no pescoço ou seios, pobre coitada. Ela passava nua, mas ninguém chamava a polícia, e mesmo se chamasse ela não acabava na prisão, era usada pelos guardas sequiosos de tarar uma ninfeta.

 Uma noite Arlinda veio caminhando a pé como sempre os mais de dois quilômetros que separavam a estação do bairro da favela perto da praia de Ramos e como sempre embriagada.  Na esquina da rua onde eu morava estavam mais de vinte rapazes na faixa etária entre vinte e cinco e dezoito anos conversando e logo eles puseram olhos gulosos em Arlinda. Alguns deles já haviam se relacionado com ela antes, no matagal ou canto escuro dos becos, e foi fácil seduzir a bêbada e arrastar para uma casa abandonada onde todos eles, o vinte, a usaram sem piedade e com brutalidade, um assunto gabado depois no dia seguinte com mínimos detalhes como se ela e seu corpo fossem troféu. Pobre ninfeta louca que tentava vender o corpo por dinheiro e sempre acabava lesada.

 Perto das duas horas da madrugada, quatro meninos de idade entre quinze e dezesseis anos viram Arlinda saindo da casa cambaleando, quase em poder andar e também visando usá-la a levaram com eles sem resistências para uma garagem da casa de um deles onde, na hora em que tiraram a pouca roupa dela constataram a menina em estado lastimável, a vagina em flor e sangrando. Penalizados eles abandonaram o tesão e trataram dela, deram banho, limparam a ferida com pedra desinfetante, a deixando depois dormir ali, mas na manhã seguinte sem agradecer, ela desapareceu. Pelo menos, esses não eram monstros.

 Arlinda, depois da noite do massacre, só foi vista no bairro mais uma ou duas vezes, depois desapareceu para sempre, alguns achando que foi parar na Vila Mimosa, a zona do baixo meretrício, outros achando que morreu.  O que se sabe é que Arlinda, a puta que não sabia ser puta, foi mais um exemplo de pais mal informados e impiedosos, capazes de abandonar uma cria somente pelo valor da sociedade, uma coisa que a virada dos anos para 60 veio a jogar por terra.

Pobre menina moça Arlinda, pobre deusa sem pedestal no bairro pobre, pobre alma desprotegida que o destino abusou.

 

Por Jorge Curvello

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