Há, criado pela sociedade dos homens
a separação pela idade em que vivemos, assim sendo, bebê, criança, adolescente,
adulto. E quando nos tornamos adultos
seguimos para, maduros, idade do lobo (as) e inexoravelmente, a terceira idade
que quer dizer em tradução da gentil frase, velho. E então começa o drama do
ser humano, velho, onde tudo começa a terminar, lembranças começam a se apagar,
atos começam a deteriorar, mudar, transformar, capacidades começam a diminuir,
falhar, e então somente quem está lá, dependendo de como o cérebro está, poderá
avaliar o que vale, valeu ou valerá esta triste existência humana de tão poucos
anos se considerado pelo infinito. É onde
se começa a pensar e é necessário julgar para poder continuar, velho, mas sendo feliz.
Quando velhos se com cabeça boa,
começamos a achar a vida uma porcaria, algo que está sem data para terminar e
sempre sentindo que pode ser agora, daqui a pouco, amanhã, no mês que vem, ou
ano, e sabe-se lá quando vai terminar. E então, se com cabeça boa, acho chegada
à hora de nos libertarmos dos grilhões impostos ao longo de toda a existência,
o tal do pode e não pode, é bonito ou feio, digno ou indigno, certo ou errado. Dali pra frente valerá o que acharmos ser o
certo porque atrás de nós sempre prevalecerão as condenações.
Há os velhos que reclamam da vida, das
pessoas, dos parentes, amigos, netos, filhos, todos que nos abandonam,
esquecem, ou evitam, há os que não se conformam e isso é ruim. Mas se ele parar
para pensar que quando novo foi igual isso suaviza. Mas também há os que
aceitam em uma boa, conseguem sobrepujar essa agonia e continuar seguindo,
deixando de lado julgamentos e críticas, aturando desentendimentos e
incompreensões, mas esses felizes velhos vivos são muito pouco.
A verdade é que coisa velha, sempre ao longo
da nossa vida sempre as jogamos fora, guardamos ao desuso, seguramos como
lembrança apenas do que foi e não é mais. Foram roupas, calçados, objetos vários,
foram amigos, parentes, vizinhos e correlativos, todos deixados para trás ao
bel prazer de nossa concepção do válido para continuar. E isso foi por toda a
vida.
Quando novos, achávamos o velho uma
coisa sem valor, fora da importância, descartável, mas agora enquanto velhos ou
mais envelhecendo a cada segundo, minuto, hora, dia, mês e anos, começamos
achar que somos desprezados, abandonados, deixados para depois, esquecidos de
que isso fizemos com tudo e com todos ao longo da mesma vida que os novos hoje
vivem para envelhecer depois.
A velhice é triste, é fato, mas é seguimento
da vida e então que seja lúcida, devendo ser improvisada sem queixas, com
abnegação, suporte e aceitação para melhor ser vivida e aproveitada. Que os
novos fiquem lá com seus valores, que nós os velhos fiquemos cá com nossas
lembranças, nostalgias, saudades, vida limitada, bronquites, tosse, peidos,
catarros, cheiros, mas a nossa vida, vida real, ainda pungente mesmo se
amarelada, capaz de ainda nos dar prazer se nos sentirmos jovens. Vida capaz ainda
de nos deixar ver e entender que somos aquilo que não prestava mais e jogamos
fora no passado, aquilo que não interessa mais a outros, mas muito a nós
mesmos, ao que somos pelo que fomos, ao que seremos pela alegria de continuar
vivendo mesmo assim. Lá se foram os anéis,
mas ficaram os dedos, se foram os que amamos, mas ficou esse amor, se foi o
sonho, mas ficou a realização de muitos, mesmo que hoje com mais nada. Lá se vão os anos, mas continuamos sendo nós
aqui e agora, velhos sim, mas inteligentes para assim ser e ainda poder ensinar.
Nada de cantar “Tristeza, não tem
fim”, mas sim mostrar aos velhos de amanhã o exemplo do que é saber viver,
envelhecer e ser um velho, e este sou eu, que fui novo, que sou velho agora e
que enquanto vivo espero ser até morrer.
Por Curvello
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