Anos
sessenta, os anos da rebelião dos jovens no Brasil. Anos de rebeldia, revolta,
audácia e desprendimento das regras da família em nome de regras própria e
definitivas que iniciaram uma época sem fim, “Se você está contente com o
establishing (estabelecimento), então viva nele que eu estou de malas prontas”,
essa era a regra, essa era a lei para deixar um e entrar em outro mundo, outra
era. E a partir do grito de guerra na voz de cantores de protesto como Bill
Harley, Elvis Presley, Brenda Lee, Little Richard e tantos outros, milhares de
jovens saíram às ruas para protestar sua liberdade contida, amarrada a regras
envelhecidas que não cabiam mais no mundo novo que surgia, o mundo da liberdade
total, da conquista do espaço, da expulsão de velhos e rançosos costumes.
Em
fogueiras de ações foram queimadas frases arcaicas como: Homem não usa cabelo
comprido, não veste roupa colorida, não usa sapato de lona, não abusa da
namorada, não trepa antes de casar, só com puta, não canta, não chora, não
rebola, e outras proibições idiotas tiradas não se sabe de que cabeça maluca.
E
para elas: Sua virgindade é seu passaporte para o casamento, moça não usa saia
curta, não fuma, não bebe em público, não ri alto, não namora mais que um ao
mesmo tempo, não trepa antes de casar, não volta tarde para casa, não sai sozinha,
tem que guardar a virgindade, não fala palavrão, não isso, não aquilo, e não, e...
Nãaaoooooo enche porra!
E
o grito de guerra estava dado, solto, repetido na boca dos lúdicos, dos que
jogavam com a sorte para vencer, E venceram, derrubaram conceitos, moral,
regras, se firmaram independentes mesmo sofrendo eternas represálias e
discriminações. Hoje é dia de Rock.
Lúdico
como os demais eu me descobri, primeiro ouvindo aquele programa de todas as
noites dirigido por Jair de Talmaturgo e sob locução de Izaack Zaltman na
extinta rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro. Uma hora de rock´n roll seguido,
novidade, embalo para ouvidos e corpo que dançava sem se mover ainda parado
pela vergonha, mas depois embalado na coragem indo assistir nos sábados quando
então era aberto a uma gama de jovens inscritos, selecionados pela inscrição e
nome, se apresentando no palco como artistas natos, dublando vozes que na eram
suas, coreografando ao bel prazer de sua mente fértil as canções do reboliço.
Ah as inesquecíveis tardes de duas horas que começavam bem antes, ainda ao meio
dia do lado de fora da rádio trocando idéias e audácias.
Iniciante
comprei minha jaqueta na loja mais cara do bairro, azul brilhante com punhos e
cinta sanfonada, vesti sobre a camisa de listras azuis sobre fundo branco, para
dentro da calça de jeans surrado, de marca, desgastado nas pernas com água
sanitária para parecer mais velho ainda, calcei os proibidos sapatos de lona
com cordéis, um cinto largo com fivela de metal polido segurando, os cabelos
deixados à vontade, despenteados, na boca uma goma de mascar e no bolso um maço
de cigarros sem filtro, moda da época.
E
lá fui eu, lá estava eu todos os sábados, o lúdico se transformando no jogo da
vida, o jogo do amanhã que nem o governo pode segurar. E no meio de moças que não
era mais virgem, de rapazes que não eram mais pudicos, gente nova, gente viva,
gente alegre, arruaceira e desafiadora, brigona e de língua solta e livre, eu
me formei em novo, em um rebelde sem causa onde a causa era ser apenas,
rebelde, mais um símbolo de um Brasil que deixou na sua juventude de ser
escravo dos padrões. Hoje é dia de Rock, e a vida continua.
Por
Jorge Curvello
(Continua
na próxima semana)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não desmereça a Internet com palavras chulas.
Obrigado