domingo, 3 de março de 2013

COMO NÃO SENTIR SAUDADES?






Como não sentir saudade da nossa juventude, onde tudo era sonho, possibilidades, desejos e ambições?  Como não nos lembrar de tempo onde, ainda jovens tínhamos ilusões, quedas e levantes, encrencas, atribulações que nunca a isso chegavam a ser porque eram passageiras demais?  Cada um de nós viveu isso, sonhou isso, provou mesmo se não notou e vimos com o passar do tempo que tudo era fumaça, tempo, época, e que cada dia após o outro era mutante.
Eu sinto saudades desse meu tempo e relembro em lágrimas de nostalgias meu passado em horas de reflexão ou lembranças, lembrando das partes boas porque as más eu esqueci ou afastei. Lembro que quando ainda menino, sonhava em ser grande, inventava barba onde não existia e idealizava tipos de bigode. Depois foi na puberdade aquela sensação de começar a me tornar homem, vendo pelos nascer e ansiando por eles. Ah se soubéssemos ali naquele tempo, do porvir e suas ameaças, na certa teríamos ampliado nossa infância e mesmo depois a adolescência. Mas tive que crescer, evoluir, e os tropeços que tive acho eles foram necessários a meu forte aprendizado de viver e me tornar independente, forte, valente, não medrando até onde regras me diziam não. E então cheguei onde estou, infelizmente, em hora de saudades e nostalgias também me lamentando porque tais bons tempos não voltam jamais.
Antes eu sonhei, consegui, vivi intensamente uma adolescência feroz, bravia, de guerra, e nas vielas do destino conheci gente importante, gente suja de alto e baixo nível, gente de toda espécie, e a elas sobrevivi ou cativei. Foi um tempo maravilhoso de me deitar em uma cama simples, pobre, no quarto modesto onde morava com minha mãe viúva e ficar a escutar o programa Hoje é dia de Rock, e sonhar que eu era Pop Star. Aquilo foi viver uma época dura, de recessão e política braba em um mundo de terceiros em torvelinho, mas eu, sempre ausente desse cenário pensando apenas em minha felicidade, que era brigar, ter turma, sair para aventura, fazer descobertas, expor meu corpo ao perigo e a mente à prova. Tempo jamais imitável, pregresso, único dos anos máster, os anos sessenta.  Vivendo eu fui rei sem ser nada, fui vítima que entendeu, fui comida de peixe em rio vazio, fui dragão na terra sem São Jorge.  Mas valeu cada dia, cada hora, cada minuto de rebeldia contra dogmas e regras, de provas de que hipocrisia existe e no fundo todos dentro dela ou não, somos iguais, capazes das mesmas coisas, basta ter coragem de se reconhecer.
No meu mundo especial, conheci altos senhores, fui admirado e querido por eles, ovacionado por eles, que de mim desejavam o corpo, o que jamais lhes dei. Conheci pilantras, gente que invejava o meu ser e pensar, gente que foi passado sem me atingir. Conheci rainhas que para mim foram nada, apenas sofredoras e inúteis criaturas tentando se projetar. Conheci ricos e poderosos, pobres e sofredores, fui eu sendo eu no meio, isento do tocar, do ferir, do conquistar.  Mas na esteira do evoluir descobri uma opção e por ela tudo que já tinha eu larguei, investi em mim, e cheguei ao pódio nunca sendo um Pelé.
Ah como foi bom à escondida da mãe protetora viver uma vida perigosa, vida livre, na noite e no dia, longe de sua saia e seus conselhos.  Ah como foi bom cada minuto daqueles anos onde tive tudo para ser marginal, vítima, mas saí ileso. Fui quase alcoólatra, mas escutei conselhos, fui um ser livre no sexo indo onde muitos não se atreviam, provei do tudo, gostei do tudo, mas escolhi o melhor. E nesse mundo de descoberta e atrevimento, ganhei a experiência de deuses, e me considero um vencedor. Ah... Quantos se de mim soubessem como ser, não desejariam ser como fui?
Veio à maturidade, veio à sombra na luz, veio à hora de me ver, saber esgotado o tempo dado e tomar o tal juízo tão alardeado pelos mais velhos, o que eu também assim me tornei afinal.  E então vivi a vida dos passivos cidadãos de bem, responsável e ajuizado, e será que valeu a pena diante deste meu espírito belicoso, combativo e rebelde?
Chegava à hora de mandar as favas às roupas coloridas, os sonhos bobos, as aventuras, os desafios e contestações em nome de ser família, nessa merda da vida de todos nós, e então, eu acabei com o eu e fui outro, o que desejava a nossa hipócrita sociedade porque agora não era mais singular e sim plural.
Mas ficaram para alento as lembranças do tempo feliz que eu vivi, época de muito perigo no desenvolver que soube cruzar me defendendo e sem ser ameaçado, sem seguir regras que a malta achava ser o certo, e no fim aqui estou, ileso e puro, como um anjo do inferno se assim somos todos nesse mundo, um ser capaz de ser bom ao extremo ou também falso e mal ao cúmulo.  Adeus bons tempos de coca cola, chicletes, cabelos ao vento, calças jeans, botas franjadas, corrente escondida, canivete preso no pulso escondido pela manga do banlon. Ficaram as descobertas das alcovas, livres e sem pagamento solicitado, na areia ou no lençol. Camas, sexo, esperma, nada mais além do devido prazer que o corpo pede, mas a alma, condena. Mas ficaram as lembranças do onde fui e do por onde passei, dos que conheci e dos que esqueci e dos que ainda hoje venero na saudade.  Corpo são em mente insana, é o meu legado.
Um mundo novo decolou e nele eu decolei nas asas de aviões e dentro deles sendo dono, máster, serviçal, indo a lugares onde milhões nunca foram ou irão, de graça com tudo pago, sendo importante, anos a fio, trinta longos e gloriosos anos, mas para logo após, aposentado, começar a viver a vida dos velhos, dos excluídos, dos esquecidos, dos rejeitados porque dão trabalho. Do tudo que consegui quase tudo me tiraram, num passe de mágica e da noite para o dia. Atiraram-me na indignação e na vergonha que me impede de pedir quando tanto venho precisando, do rico caviar vindo a comer pão com banana.
Hoje vivo onde somente a nostalgia acorda e faz sentir um pouco feliz mesmo que não duradoura, um ser comum, um ser feito de recordações boas porque as más espanta, um homem que anseia sem conseguir, ser novamente uma criança.
Mas este sou eu no que sou e no que fui, o Jorge Twist, o Jorge Ayrton Vasconcelos dos bordéis da Lapa, o filho da Gertrudes vencedor, o Curvello do mundo internacional da aviação comercial, o homem, o meio, o nunca, o cara que sabe que o que é seu de verdade não é de ninguém nem igual para ninguém e sendo assim é INIMITÁVE porque Jorge Curvello, para desgraça dos invejosos e alegria dos bons amigos somente existiu um e ainda somente existe um... Eu,
 E SALVE JORGE CURVELLO porque, o resto é mentira, ilusão, tentativa, fracasso SALVE JORGE.
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Pelo autor do mesmo nome.

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