quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A GRAVIDA DO CURVELLO


Sempre fui carnavalesco, mas nunca dei bolas para sair fantasiado e se o fazia nunca foi exatamente cópia de nenhuma fantasia no mercado das atrações carnavalescas. Gosto de inventar e foi assim no bloco Cacique de Ramos onde por mais de dez anos eu desfilei usando os modelitos sugeridos pela agremiação, mas já no final, modificando em parte para sobressair. Sempre fui criativo no que gosto de fazer e sempre me destaquei por isso, no bom e no ruim.
Nas escolas de samba eu tentei, mas devido aos figurinos traçados pelos carnavalescos para o enredo, tive que seguir ordens ou não desfilava, mas nem assim deixei de desfilar como passista no Salgueiro e na Estácio de Sá com fantasiais que eu mesmo criei e como "penetra". Somente na Imperatriz Leopoldinense onde fui passista admitido por alguns anos, segui usando o que me mandaram.
Já o caso da Grávida foi diferente, ela surgiu de uma pergunta inocente de uma senhora ao me ver passar na rua do carnaval do bairro vizinho usando uma camisa comum solta para fora das calças, estando com um pouquinho de barriga, o que por baixo dava a impressão de gravidez se fosse em uma mulher.  Ela me perguntou quando eu ia ter aquele filho e eu, imediatamente estufei mais a pança e fui dali para frente saí me arrastando como mulher grávida caminha, segurando as cadeiras como em cansaço etc e tal, fazendo o povo rir e brincar comigo.  No ano seguinte, comprei a roupa que até hoje eu visto, uma camisola surrada de barraca de feira livre, enfiei dentro um travesseiro, coloquei sitiem com limão, laranja ou jornal amassado e um pano de empregadinha doméstica na cabeça, lambuzei um pouco a cara  com cosméticos para ficar mais coradinho e lá fui eu, agradando multidões até hoje como sempre faço.
A grávida sempre foi um sucesso, fazendo pessoas pedir para fotografar comigo, me fotografar, fazendo senhoras, homens, crianças e adolescentes zoar a minha passagem e me agradar com elogios. A grávida é um lixo, de roupa velha, mal acabada, leva hoje para completar uma boneca que parece um bebê verdadeiro com cigarro na boca, abusa das caras e bocas para tirar fotos, lança olhares pecaminosos em todas as direções por onde passa, samba, dança axé, e até rumba se tocar, em fim é sempre um show à parte por onde ela passa.  Se tornou conhecida em Marica, Várzea das Moças e no Rio do Ouro, lugares onde acontece todo ano e é cobrada pelas pessoas que me vêem passar sem ela, em roupa comum, e no Rio de Janeiro, se aparece por lá, é filmada, fotografada, elogiada e diverte as pessoas, chegando a me cansar de tantos pedidos para fotos e caras e bocas.  Até algumas Drag Queens maravilhosas dentro de suas perucas e maquiagens, são preteridas em nome da minha figura, morrendo de inveja que dá para sentir pela cara que fazem ao me ver passar. (Me desculpem esta falta de modéstia verdadeira, contra "elas" bem necessária.)
Porém, por eu ser velho, por ela ser brega, suja, mal colorida, as fotos se perdem nos arquivos de quem tira e nunca tenho notícia de onde vão ser mostradas, coisa que por ser um artista pouco me preocupa porque sou do tipo que não procuro as lentes e deixo que elas me procurem.
O que posso dizer é que, a grávida, que neste ano ganhou nome de batismo dado pelo povo de “Mulher 2000, um filho dentro e outro fora”, vem acontecendo desde 1999 e vai ficar na saudade de muita gente quando eu me cansar e deixar o carnaval para sempre, morto, ou velho demais para brincar.  Mas até lá... E lá vou eu com a grávida outra vez...



Por Jorge M. Curvello (A grávida)



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