segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A GRANDE VERDADE SOBRE APOSENTADOS DA VARIG E PORQUE NEM TODOS SE ESFORÇAM PARA REAVER O QUE LHES FOI ROUBADO


A Varig foi uma empresa aérea super seletiva na contratação de sua mão de obra, exigente e ponderada, falando-se nos áureos tempos em que se destinava ao ponto aonde chegou. Diferente das demais companhias aéreas existentes ela selecionava mais por capacidade de desenvolvimento do que por apadrinhamentos e simpatia, conseguindo assim um time de profissionais de verdade que ia desde os empregados em sua cozinha, algo bastante imprescindível com quem lidava em um mercado onde se prendia cliente pela boca, até ao estafeta carregador de mensagens. No campo burocrático ela cuidava de manter gente inteligente e sempre bem preparada, seguidora de seus princípios e normas e deveres, gente que sabia trabalhar, dialogar, convencer e gerenciar cada setor com maestria, a quem preparava com cursos seguidos de aperfeiçoamento. No setor de vôo ela conquistava os melhores, gente sempre super preparada para exercer sua profissão e assim a tornar a empresa que se tornou sendo seu verdadeiro cartão de visitas. Mas a Varig não era somente aviação, era também industria, hotelaria, proteção ao empregado (através da conhecida Fundação Rubem Berta  fundada por seu patrono do mesmo nome), faculdade de aviação através de seu colégio que não somente servia a ela como a congêneres interessadas em aprimorar seus profissionais, e assim neste interesse empregava diversos tipos de trabalhadores, se tornando quase uma multinacional.  E me perdoem se isso ela foi e eu não soube considerar.
Porém sua tragédia tinha data marcada e começou a ocorrer nos final dos anos oitenta, com o avanço tecnológico dos aviões que trouxe para ela os de grande porte, a fazendo necessária pela pressa de manter seu quadro profissional em desprezar seus antigos valores e também inovar em novos conceitos de  aceitação, o que veio a levar toda a Cia a uma catástrofe,  o seu fechamento.
A Varig, antes acreditada de querer para o futuro de seus empregados o melhor e garantido, fundou com a Cruzeiro do Sul e a uma outra empresa o Aérus, destinado a uma aposentadoria complementar para o malfadado e injusto sistema governamental, o atual INSS,  conhecido pelo encurtamento dos benefícios e cálculos injustos. Mas o futuro desse empreendimento veio a deixar pela interdição desse órgão pelo governo, uma dúvida quanto a sua verdadeira intenção. Quer por estar afundada em dívidas, quer por estar sendo lesada pelo governo em outras responsabilidades, quer por estar então sendo dirigida por incompetentes, o fato é que ela deixou de repassar para o Aérus o que justamente iría garantir para sempre o pagamento dos seus aposentados, o desconto em folha que realizava, mensalmente, de todos os seus empregados da ativa para esse fim, a contribuição futura de sua segurança e manutenção dos já retirados. Tais descontos a princípio sujeitos a adesão, logo se transformaram em obrigatórios de todos que recebiam seus contracheques e essa grande fortuna era o que garantia e garantiria as aposentadorias para sempre. Com o estancamento dos depósitos mensais e não cumprimento dos acordos o Aérus acabou por deixar de pagar, ser interditado e, de um dia para outro, lançou no desespero mais de dez mil aposentados da Varig e perto de dezessete mil funcionários ainda na ativa que nele possuíam uma fortuna depositada. O resultado foi o pedido de intervenção, uma cruel batalha judicial que já dura mais de seis anos e que nem uma vitória conseguida e sacramentada consegue reaver dos prejuízos porque o órgão incumbido de se responsabilizar pelo retorno vem a pertencer ao governo nacional, que nada fez para fiscalizar o Aérus, a Varig ou lhe ajudar quando dele ela precisou e não bastasse o lado burocrático ainda se soma a isto opiniões pessoais e ódio de alguns por quem conseguiu por mais de setenta anos,  se projetar aqui e no exterior como a melhor Companhia aérea do Brasil e quiçás entre as melhores do mundo.
Na esteira dos prejudicados encontraram-se pois chefes de família de ambos os sexos e diversos outros pretendentes a um futuro de carreira bem remunerado porque a Varig sempre pagou melhor do que a maioria das empresas contratantes no Brasil, gente que de uma noite para o dia se viu sem segurança futura de aposentadoria e sem emprego, alguns com idade perigosa de conseguir nova contratação em outro lugar. Aposentados em idade avançada começaram a sofrer a decepção e adiantaram o final de sues dias, outros adoecem e a maioria se vê incapacitada de continuar gozando do mesmo e conquistado padrão de vida de antigamente e este é o drama dos funcionários e aposentados da Varig.
Neste grupo de prejudicados pelo fechamento do Aérus os tripulantes da Varig são os que mais buscam a solução, procedendo a manifestações e lutando bravamente para que a vitória conquistada a duras penas seja cumprida. Mas note-se entretanto que entre eles não está o grande montante dos maiores afetados por  esta tragédia e sim aqueles que, em escalas, pertencendo a outros setores da Varig e percebendo por mês menores salários, menos descontavam por essa aposentadoria complementar e sendo assim , se já aposentado também , certamente percebendo menos do que os tripulantes que sempre foram afamados de melhores posses e oportunidades. Como estará esta gente vivendo agora e  com quanto quando essa tragédia levou o Aérus a criar um sistema de devolução que paga apenas do devido, menos de 9% do real salário? Certamente que pior do que os tripulantes, mas talvez mais aclimatados por nunca terem possuído mais, como estes.
Entre os tripulantes também nem todos foram assim mortalmente prejudicados, é certo que deixaram todos de contar com a complementação salarial, uma grande verdade, mas muitos cuidaram  por ter oportunidades na ativa, de ter seu pé de meia, criando assim entre eles mesmos, uma grande diferença de prejudicados. Muitas das mulheres são casadas com homens de fora da aviação, homens que, aposentados ou ainda na ativa, garantem para elas uma vida melhor, outras herdaram montepios de pais e mães  que somados ao INSS e o parco recebimento do Aérus não as deixa no desespero, e parte disso também acontece para os homens casados com mulheres de fora da aviação e na mesma situação, gente que mesmo prejudicada ainda consegue viver com mais facilidade e conforto do que aqueles que somente contavam com a complementação salarial do Aérus. E acho que é por isso que a grande maioria não comparece às manifestações,  apóia e incentiva, mas não dá ás caras.
A grande verdade dos aposentados da Varig é que nem todos estão em extrema dificuldade, vivem sim em um desconsolo de perda, tiveram talvez que reduzir um antigo padrão de vida, mas continuam sobrevivendo e ainda se dando ao luxo de antigos prazeres como viajar, ter carros, morar melhor, enquanto outros e de verdade, morrem a mingua de socorro e possibilidades, assim como devem estar morrendo todos aqueles que tinham padrão aquisitivo menor do que eles.
Mas então porque toda essa gente, todos esses mais de dez mil aposentados se ainda vivos não se unem, se juntam, vão a luta de braços dados e boca gritante e somente menos de mil aparecem nas manchetes ou vídeos de manifestos ? Acho que é porque em primeiro lugar falta solidariedade, depois por que muitos já estavam acostumado ao pouco ter e para esses ganhar mais ou ficar com menos dói em menor proporção e, finalmente, porque somos todos brasileiros e nossa raça é conhecida como acomodada, pacífica, acostumada ao me engana que eu gosto e a espera de milagres, sem luta, sem suor, apenas preferindo a expectativa, isso para não dizer, encostada. Por não ser completamente e como devia solidária ela faz dos necessitados força menor, por estar acostumada ao pão com banana, se acomoda, e por ser brasileira, acha que viver é samba, futebol e cerveja.
Esta é a nossa triste realidade, a realidade dos sofridos aposentados  da Varig.


Por um deles.

Um comentário:

  1. Parabéns meu amigo Curvello, mais um de seus maravilhosos textos, o que posso falar ... a não ser concordar com tudo ai relatado, bitocas
    Elizabeth

    ResponderExcluir

Não desmereça a Internet com palavras chulas.
Obrigado