domingo, 16 de outubro de 2011

ENFORCANDO-ME POR PRAZER






        Sempre ouvi a comparação de que casar é o mesmo que se enforcar e se considerar neste parâmetro vou me enforcar pela segunda vez e nas duas, por prazer.
        Quase me enforco cedo demais, ainda aos vinte e cinco anos e por uma mulher que amei loucamente dentro da forma alucinada de amar dos jovens, aquela primeira que é mais paixão do que amor de verdade. Roí a corda e escapei ao descobrir que não estava pronto para tal responsabilidade. Sempre gostei de ser sozinho e posso confessar ainda hoje que em nenhuma  ocasião dessa chamada forca fiz ou o farei por medo da solidão ou desejar companheira. Meu primeiro casamento aconteceu por enjoar de não ter maior compromisso com a vida do que dormir, acordar, trabalhar, me divertir e repetir tudo a cada dia. Um dia encontrei uma mulher, achei que poderia com ela deixar os velhos hábitos e costumes e meti a corda no pescoço, subi no cadafalso do altar e puxando o laço fui casado por vinte anos, e fui feliz, muito feliz. Não havia ali amor, paixão, desejo, ou qualquer sentimento maior que me ligasse a minha “carrasca” (coisa que ela nunca foi) do que à vontade de ser chefe de família, provar do compromisso, poder dar a alguém coisas que esse alguém nunca teve ou conseguiria sozinha, provar de ser chamado de marido, pai, chefe de família, e deu certo, mais do que certo e se voltei a tirar a tal corda do pescoço foi involuntário e Deus quem quis, levando minha mulher.
        Passei dois para três anos sozinho e livre como sempre fui, solto na vida, na pista, como hoje se fala, para o que desse e viesse sem cadafalsos ou cordas por perto. E lá estava eu novamente caminhando ao encontro da corda por vontade própria, sem sentir falta de companheira, acordar com alguém, ser dono de alguém, pertencer a alguém e tudo isso que dizem ser alicercere de casamento, e nem amor, o maior dos pilares. Uma nova “carrasca” se fez na pessoa de uma mulher, parou comigo, apostou em mim e comigo está a dez anos e doze dias nesse momento que dedilho este teclado.
        E novamente lá vou eu pra forca, botar a corda no pescoço e puxar o laço, fazendo isso por vontade própria e querendo, sem medo do amanhã ou dos contras na idade em que me encontro, setenta anos. Também, pelo que me informam os cartórios, ou puxo o laço agora ou jamais puxarei depois que completar setenta e um anos de vida porque ficarei impossibilitado pela idade. e lá vou eu na decisão do sim.
        Novamente não vejo no enlace a necessidade de uma companheira, mas como da outra desejo dar para essa que também merece, o que ainda posso dar e ela não pode ter, não sem mim ou sem homem melhor, quero fazer alguém feliz, dar segurança e isso me basta.
        Há que talvez dizer os filósofos que penso ser assim esse compromisso, mas que sempre existiu o amor por detrás, mas se assim foi ou é, então desconheço o que é sentimento de amor e este será diferente do amor que conheço pela vida, pelos bichos, pelos meus semelhantes bons, pelo planeta e suas coisas vivas.
        O certo é que vou me enforcar pela segunda vez e como da primeira, por prazer, puro prazer de sentir a corda no pescoço e isso me basta
        Curvello vai novamente se casar.


                                       

Por
Jorge Curvello















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