sexta-feira, 21 de setembro de 2012

ALIBABA E OS QUARENTA LADRÕES

      

       Ah se tudo por que hoje eu passo fosse acontecido em tempos de minha juventude onde ainda tinha forças para lutar, não essa de espera e resignação, mas a da revolta e mão às armas?
Quando criança e adolescente cruzei épocas nebulosos onde a política do país já causava danos, enfrentei fome, mau serviços, dificuldades de me estabelecer em um sistema exclusivista e  impiedoso. Mas cresci, enfrentei as crises, solucei as perdas, mas acabei vencendo e conseguindo mesmo a duras penas, ser alguém.
Naquele tampo já havia os safados, os ocultos, os fomentadores e todos a fim de se dar bem, quer no poder ou nas posses, mas eram tempos de mais mercês, de mais solidariedade, de mais humanidade e mais decoro, onde a verdadeira face do mal se ocultava atrás da do anjo, era tempo de se temer a polícia, os juízes, a lei em todo o seu poder do certo ou errado. Nada era como hoje, assim como acontece e sofremos nós, os excluídos, os miseráveis na concepção dos que nos governam e somente vê em nós, impostos, taxas e lucros.
Ah se eu tivesse a força daqueles anos e certamente estaria hoje comandando ou orientando novos Alibabas, ou não era assim que o ficticionado elemento  das histórias em quadrinhos tornadas filme, se impunha contra o poder dos maiorais?
Alibaba um oposicionista traído e revoltado, clama por justiça fazendo exatamente o que os inimigos faziam, roubando. Porém ele e seus comandados, ladrões procurados e desprezados pela sociedade, não roubava o pobre, mas sim o ladrão do pobre, o usurpador e dono da verdade que se chamava mentira. Com sua adaga sempre pronta a defender os humildes ele cavalgava seu cavalo branco excitando ´as massas, ganhando adeptos e conseguindo desbaratar a quadrilha dos certinhos, deuses e juízes das cidades  daquela Arábia de papel, de celulóide, de diversão para domingos da garotada.
E lá estaria eu, não agora com  uma espada, mas talvez AR-15 ou arma mais moderna, não na frente da batalha para ser destruído, mas nas sombras dos desertos da piedade ao pobre, comandando um bando de traficantes, os novos ladrões do antigo Alibaba, estes pobres coitados que talvez tenham se tornado o que são por um dia sonharem em ser alguém sem conseguir. E diga-se de passagem que deve haver mais honra no coração de um traficante, de que há no de nossos usurpadores sádicos e mentirosos.
E nessa Arábia chamada Brasil eu, nas sombras e fomentando, atiçando as massas, o novo Alibaba, ou alguém mais capaz, cavalgaria em minha sombra, atacando aqui, enfraquecendo ali, destruindo acolá, roubando o que é roubado para devolver a quem merece, sendo justo na partilha com meu séqüito, não pedras preciosas e ouro, mas capacidade de comer, beber, morar e divertir, tranqüilamente. Ah se eu ainda tivesse forças...
Toda a maldade será castigada, diz o provérbio, mas nem toda será reconhecida, fala meu coração.
Hoje, após anos de programação para um futuro mais feliz e sossegado, vivendo com os míseros e roubados R$1.337,00 que a planejada aposentadoria brasileira ladra me paga cada mês, vendo  meu livro de despesas acima dessa quantia e os saldos devedores a saldar sob cobrança de aumento em juros, vendo o que antes foi dispensa e hoje é somente armário, vazio, de arroz, feijão, temperos, e dentro dele apenas o salvo para não deixar de comer amanhã, a eterna e mensal divisão do quilo por grama, vendo a geladeira gastar energia por nada em sua escassez  de alimentos, com apenas água que custa barato, R$6,00 o garrafão, algumas frutas vindas de regalo da fruteira do vizinho,  e gelo seco no congelador, vendo meu guarda roupa falido, roto, onde o tecido já não agüenta mais a lavagem e descolore, murcha e fica hostil, vendo minha cadelinha morrer por falta de socorro e grana para um veterinário que não faz juramento e não atende de graça, temendo pelo meu dia de amanhã na seqüência de promessas de voltar a ser gente que nunca se cumpre, é que lamento o meu Alibaba envelhecido, incapaz até de chorar no escuro do seu deserto de lágrimas.


Eu Alibaba murcho
              Jorge Curvello

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não desmereça a Internet com palavras chulas.
Obrigado